Crítica: Noites Brutais é uma das melhores surpresas do ano
Crítica: Noites Brutais é uma das melhores surpresas do ano
Terror claustrofóbico de Zach Cregger consegue surpreender pela maneira como apresenta uma história absurda
A palavra “bárbaro” é um fenômeno um tanto curioso das linguagens humanas. Se, antigamente, o termo foi criado pela civilização grega para se referir ao que eles consideravam como estrangeiro (algo que contribuiu para o sentido pejorativo perceptível em sua etimologia), hoje em dia, a semântica de bárbaro é ambígua e, além de significar algo “cruel”, também pode ser o inverso e caracterizar algo como “belo”.
Talvez seja essa ambiguidade que melhor defina Barbarian, ou Noites Brutais como veio para o Brasil, filme roteirizado e dirigido por Zach Cregger. Com a ajuda de um ótimo elenco, o diretor usou o terror e o suspense para contar uma história claustrofóbica, esquisita e, bem, bárbara. É utilizando artifícios comuns ao gênero, um toque de gore e situações absurdas que Noites Brutais mostra o porquê é uma das surpresas mais interessantes do ano.
Ficha técnica
Título: Noites Brutais
Direção: Zach Cregger
Roteiro: Zach Cregger
Data de lançamento: 26 de outubro de 2022
País de origem: Estados Unidos da América
Duração: 1h 42min
Sinopse: Em Noites Brutais, novo terror da 20th Century Studios, uma jovem viaja para Detroit para uma entrevista de emprego e aluga uma casa. Mas quando ela chega, tarde da noite, descobre que o local já foi alugado por outra pessoa, e um homem estranho já está hospedado lá. Indo contra a decisão mais sensata a se tomar, ela decide passar a noite por lá, mas logo descobre que há muito mais a temer do que apenas um convidado inesperado.
Um convidado inesperado
O que você faria se alugasse uma casa e, assim que chegasse ao seu destino, encontrasse outra pessoa vivendo ali? Algumas ligações poderiam solucionar o seu problema, mas não foi isso que Tess (Georgina Campbell) conseguiu quando precisou viajar até Detroit (EUA) para fazer uma entrevista de emprego.
Tarde da noite e no meio de uma tempestade, a jovem chega à casa alugada ansiando por um descanso antes do grande dia. Entretanto, tudo parece dar errado e nenhuma assistência está disponível para ajudá-la naquele momento. Até que uma luz dentro da residência se acende.
É assim que Tess descobre que o local já tinha sido alugado por Keith (Bill Skarsgård), um homem meio misterioso que estava tranquilamente hospedado na casa antes de sua chegada. A confusão também poderia ter uma solução simples (ou quase), mas as circunstâncias não colaboram, e Tess se vê obrigada a contrariar todas as leis do bom senso quando decide passar a noite na casa alugada por ambos. Acontece que ela logo vai descobrir que o convidado inesperado é a menor de suas preocupações.
Toda a situação inicial vivida por Tess é absurda, especialmente se você for uma mulher. Afinal, quem em sã consciência aceitaria se hospedar na mesma casa que um homem desconhecido?
É um cenário digno do pior dos pesadelos, e Noites Brutais sabe disso. Não só sabe como também faz com que seus personagens estejam cientes da irracionalidade da situação, algo que até beira ao ridículo. Cregger consegue brincar com as emoções e as expectativas do público de um jeito estapafúrdio, o que provoca uma miríade de reações ainda mais bizarras diante daquilo que está sendo apresentado.
Muito disso vem de uma simples pergunta: e se? Como disse o escritor Stephen King, em seu livro Sobre a Escrita, é a partir desse “e se” que histórias únicas e universos alucinantes podem ser criados. Logo, e se Tess descobrisse que a casa que alugou viesse com um hóspede de brinde e, mesmo contrariando todos os alertas vermelhos, ela decidisse ficar ali?
São muitas variáveis e todas parecem estúpidas, inconsequentes e que vão muito além do convidado indesejado que parece ter saído daquela cena da pia em Mãe!, filme de Darren Aronofsky. Mas é exatamente essa sensação de “pulga atrás da orelha” que move a narrativa claustrofóbica de Noites Brutais .
A direção de Zach Cregger é bastante competente ao criar uma atmosfera angustiante, onde tudo parece ilógico e absurdo. O jogo de câmeras é divertido e conversa com o tom do enredo, principalmente quando se une a uma trilha sonora pulsante que vai te fazer prender a respiração nos momentos de tensão sem nem ao menos perceber.
Entre o horror e a comédia
É difícil falar sobre Noites Brutais sem estragar as surpresas do filme. Assim como os personagens, o mais divertido (e apavorante) é ir descobrindo aos poucos o que a chegada de Tess naquela casa alugada vai resultar. Por mais que você queria apenas pegar a sua mala e ir embora daquele local, é através dos olhos da protagonista que a sua curiosidade será saciada. E Tess, que é uma mulher determinada e segura de si, é perfeita para isso.
Para aliviar toda essa apreensão clássica do suspense, Noites Brutais também conta com um humor ácido, elemento que vem da própria experiência de Cregger na comédia. Esse alívio vem, em grande parte, por meio da performance do ator Justin Long (Arraste-me Para o Inferno) e das decisões insanas de Tess, que são muito bem executadas pela atriz Georgina Campbell (Black Mirror).
Por mais que pareçam gêneros opostos, é a junção entre o horror e a experiência de Cregger na comédia que torna Noites Brutais único. O diretor Jordan Peele faz isso com maestria em seus filmes, e Zach parece não ter medo de que seu castelo de cartas seja propositalmente derrubado antes que a última peça seja posicionada.
Entretanto, talvez seja a mudança de tom ao longo da narrativa, vinda da forma não tão tradicional na construção do roteiro, que atrapalhe um pouco o desenvolvimento da trama. Essa quebra é interessante, mas os pontos de virada parecem um pouco truncados, dando a sensação de que alguém pegou para si um doce que você queria muito comer.
Ainda assim, isso não apaga a diversão que Noites Brutais te proporciona. O trio de protagonistas – Georgina Campbell, Bill Skarsgård (que está devidamente perturbador como sempre) e Justin Long – é excelente e não está nem um pouco preocupado em pegar na sua mão para te explicar cada detalhe da trama. Ou você embarca junto com eles, ou embarca junto com eles. Não há meio termo e nem alternativas.
No final das contas, Noites Brutais é uma das surpresas mais interessantes do gênero em 2022. Embora escorregue em aspectos como o desenvolvimento da narrativa, o trabalho de Zach Cregger como diretor é promissor e vale a pena prestar atenção em seus projetos no futuro. Afinal, se Noites Brutais é apenas um aperitivo do que ele pode fazer, certamente podemos esperar coisas ainda mais inusitadas por aí.
Noites Brutais já está disponível no Star+.
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