Crítica: Mães Paralelas é um drama novelesco com atuações sóbrias

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Crítica: Mães Paralelas é um drama novelesco com atuações sóbrias

Por Gus Fiaux

Ele está de volta! Pedro Almodóvar volta aos cinemas em grande estilo com seu vigésimo segundo filme em longa-metragem. Intitulado Mães Paralelas, o longa (lançado há poucas semanas na Netflix) se prontifica a contar mais da vida de duas mulheres que, por um acaso do destino, se conhecem na maternidade, quando estão prestes a dar a luz. Porém, um erro faz com que suas vidas se interliguem para sempre.

O filme conta com os talentos de Penélope CruzMilena SmitRossy de PalmaAitana Sánchez-Gijón e Israel Elejalde. Com uma excelente repercussão mundo afora, Mães Paralelas ainda disputa o Oscar em várias categorias, incluindo Melhor Atriz para o trabalho de Cruz. Nós já assistimos ao longa e aqui você pode conferir a crítica do mais novo sucesso de Almodóvar!

Mães Paralelas está disponível na Netflix.

Ficha Técnica

Título: Mães Paralelas (Madres Paralelas)

 

Direção e Roteiro: Pedro Almodóvar

 

Data de lançamento: 18 de fevereiro de 2022 (Netflix)

 

País de origem: Espanha

 

Duração: 2h 03min

 

Sinopse: A história de duas mães que dão à luz no mesmo dia.

Mães Paralelas e uma reflexão sobre identidade

Há algo no cinema de Pedro Almodóvar que não dá para descrever com facilidade. Ele certamente é um daqueles diretores que, basta um olhar e imediatamente reconhecemos quando uma obra é sua – seja pelos dramas maternais, pelo amor declarado ao folhetim e às novelas, ou até mesmo pela delicadeza em que ele aborda mulheres que não são perfeitas, mas que encontram beleza mesmo em suas falhas mais sombrias.

O cinema do diretor espanhol sempre foi permeado por uma sensibilidade próxima e reconfortante, um leve toque de surreal aqui, um bom toque de camp ali. Isso, é claro, sem contar todo o olhar queer que sempre o confere uma voz única. Em Mães Paralelas, ele mais uma vez faz uso de todas essas perspectivas e sensibilidades para criar outra história de maternidade – mas também algo a mais.

Na história, conhecemos duas mulheres: Janis, uma fotógrafa no final de seus trinta anos, que acaba encontrando um arqueólogo galanteador. Sem querer querendo, os dois mergulham em um relacionamento puramente sexual e o resultado surge nove meses depois desse encontro. Há também Ana, uma jovem menor de idade que engravida de um relacionamento passageiro. As duas então se encontram na sala de maternidade, prestes a dar a luz.

Esse poderia ser um tema “fácil” de trabalhar, se Almodóvar se ativesse apenas a ele. Contudo, o diretor está muito mais interessado em explorar as possibilidades dentro dessa situação e os mundos particulares dessas personagens, sobretudo Janis, que possui uma história familiar muito delicada atrelada à Guerra Civil Espanhola. E é no meio da observação do cotidiano que Almodóvar consegue esculpir duas figuras muito humanizadas e únicas.

Quando um erro na maternidade é descoberto, a vida dessas duas mulheres é interligada de uma forma intrigante, e isso faz com que as mães paralelas – como o próprio título sugere – precisem encontrar-se em meio ao luto, ao caos, ao amor recém-descoberto, aos corações partidos e ao redescobrimento de uma memória enterrada. Tudo isso de um jeito que só Almodóvar é capaz de proporcionar, extraindo ótimas atuações de seu elenco.

Aliás, falando no elenco, um dos toques de mestre do filme é ser um melodrama sem apelar para os excessos que, outrora, fariam um mundo de prêmios cair aos pés do filme. A atuação de Penélope Cruz, por exemplo, é contida e sabe exagerar somente nos momentos certos, sem apelar para gritaria e para explosões de fúria. Só isso a distancia (e muito) de incontáveis atrizes sedentas para ganhar o Oscar – aliás, é uma grata surpresa vê-la indicada esse ano.

Mas vai além disso, na verdade. O que Almodóvar consegue fazer é justamente estipular um modelo observacional na vida desses personagens. Mesmo com as grandes reviravoltas dramáticas, não foge de um naturalismo, ainda que utilizando-se da estética novelesca. Isso desafia o público até mesmo nos momentos mais “surtados” do roteiro, uma vez que nem sempre os personagens fazem aquilo que esperamos.

Talvez, o grande ponto de ruptura se dê justamente ao final, onde um elemento do começo da trama é amarrado e a personagem de Cruz passa por uma jornada – tanto física quanto espiritual – que a leva de volta para os braços de sua família e de sua história. Quem se prende a uma norma clássica de roteiro Hollywoodiano pode não gostar do final, mas é um encerramento propício quando pensamos em como o filme tenta retratar a vida como ela é.

Em resumo, Madres Paralelas é um filme essencial de Pedro Almodóvar em todos os seus requintes e belezas, ainda que seja um filme bem mais comedido que seus trabalhos anteriores, como Kika Volver. Na verdade, é um bom sucessor para Dor e Glória, apresentando um diretor mais contemplativo e disposto a enxergar as verdades da vida mesmo se embaladas em um recipiente colorido, alegre e novelesco.

Nota: 4 de 5.

Mães Paralelas está disponível na Netflix.

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