Crítica: La Casa de Papel: Coreia – Temporada 1
Crítica: La Casa de Papel: Coreia – Temporada 1
“Copia, mas não faz igual”
Tênue é a linha entre remake e adaptação. Enquanto uma tenta honrar o material que lhe deu origem, a outra se deixa livre para trazer mudanças. Porém, o problema de La Casa de Papel: Coreia, ou Money Heist: Korea, é que seis episódios foram pouco para apresentar suas mudanças e, junto, trazer o gostinho de dorama.
A nova aposta da Netflix promete reunir dois dos maiores sucessos da cultura pop dos últimos anos: a série La Casa de Papel e a Onda Hallyu, a popularização de produções sul-coreanas iniciada em 1990.
Com um elenco de peso vindo diretamente de Lost e Round 6, La Casa de Papel: Coreia é fiel ao trabalho de Álex Piña, mas esquece de ser fiel à cultura coreana e aos doramas. Em sua primeira parte, vemos um novo Professor liderar um time improvável de ladrões que possuem o plano de roubar a Casa da Moeda Coreana.
O enredo é exatamente como o trabalho original de Piña, mas a diferença está no contexto. Enquanto em La Casa de Papel vemos um mundo atual com uma política econômica já conhecida, o que impulsiona o personagem interpretado por Yoo Ji-Tae nessa produção é a unificação das duas Coreias e, junto, o surgimento de uma nova moeda.
A novidade, a princípio, é levada com otimismo por todos, mas, aos poucos, percebem que a união possui apenas um objetivo: deixar os ricos mais ricos. E, consequentemente, os pobres mais pobres. Porém, o que parece o panorama certo para dar maior profundidade e o toque coreano que o trabalho de Piña merecia, se mantém apenas como plano de fundo enquanto acaba caindo na mesmice.
Seja na tentativa de atrair o mesmo público que é fã da série original, seja para apresentar e popularizar um conteúdo original da Netflix para o público coreano. Independente do motivo real para a escolha, acompanhar essa saga se torna frustrante para quem já conhece a história, mas interessante para os que procuram ver um elenco novo trazendo um olhar diferente para esses personagens.
Adaptação ou Remake?
E, por isso mesmo, seis episódios parecem pouco para tracionar La Casa de Papel: Coreia e torná-la uma produção popular. Mais da metade desta primeira parte é apenas uma cópia do roteiro original, se prendendo aos codinomes dos personagens, mas também as suas funções.
Berlin continua sendo o tirano com mãos de ferro; Tóquio é a garota rebelde; Denver é o rapaz burro, mas de bom coração. Mesmo que o espectador não queira, é impossível se deparar com algumas cenas e não relacioná-las aos seus momentos “originais”.
Porém, se fazer comparações é inevitável, existe algo por debaixo da trama já conhecida que ainda consegue cativar: o elenco. Os atores escalados para série conseguem transmitir a essência de seus personagens como se eles tivessem sido os primeiros a encarná-los.
O que, de certa forma, não é mentira. Tóquio pode ter a mesma essência rebelde, mas aqui, seu passado constrói uma personalidade bem diferente. Uma que vai de fã do grupo BTS, ou melhor, uma Army, até uma verdadeira militar.
E, entre tantas similaridades, o ponto positivo para esta aposta da Netflix é o contexto. Mesmo que grande parte das interações aconteçam dentro da Casa da Moeda e durante as negociações de Professor e Woojin, a política internacional ainda conduz boa parte da narrativa.
É o que motiva os personagens e dá corpo para esse novo e antigo roubo de banco. O conceito de “Robin Hood” moderno apresentado sob a máscara de Salvador Dalí ganha uma profundidade distinta com os rostos de Yangban.
Uma americanização dos doramas
Mas, ainda é preciso muito mais do que uma mudança de rostos e máscaras para fazer La Casa de Papel: Coreia ir do “mediano” para o “incrível”. Como boa parte das produções originais coreanas da Netflix, a nova série cai no erro de se resumir a um formato narrativo americano.
A forma que encontrou de contar sua história se manteve no que vemos todas as semanas na Netflix. Um formato perfeito para viciar, mas que perde em essência. Que esquece dos clichês e reviravoltas pelos quais os doramas se tornaram conhecidos.
Apesar do diretor Kim Hong-sun fazer o possível para deixar sua marca na série, a fórmula do streaming prende o enredo, tornando-o previsível. Por isso, são escassas as mudanças da série original para esta adaptação. O que não é um ponto negativo para quem nunca se interessou por La Casa de Papel, mas foi puxado para este mundo por conta da presença de Park Hae-soo, o Berlim, e Jeon Jong-seo, a Tóquio.
Todo o elenco principal não está apenas bem, mas funciona. A química entre Professor e Woojin é algo pelo qual o público anseia, enquanto Berlin vai além do “gerar ranço” da série original e Denver possui um carisma único. Mas ainda não é suficiente.
Entre críticas e elogios, o que falta é coragem. Estamos em uma época onde remakes, reboots e revivals são a regra. Assim como falta iniciativa para investir em conteúdo original no cinema, em La Casa de Papel: Coreia falta coragem de se desvencilhar da série espanhola e andar com os próprios pés. Resta torcer que sua segunda parte continue pelo caminho das mudanças e não dos remakes fiéis.
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