Crítica – Jurassic World: Domínio mostra exaustão da franquia em blockbuster pouco empolgante

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Crítica – Jurassic World: Domínio mostra exaustão da franquia em blockbuster pouco empolgante

Por Arthur Eloi

Diz o ditado popular que o conceito de franquia é repetir um acerto até que se torne um erro. Há muitas exceções, claro, mas isso se encaixa perfeitamente para Jurassic Park. O clássico noventista de Steven Spielberg é indiscutivelmente uma das melhores obras já feitas no cinema. Tudo que veio depois na série foi uma tentativa sem sucesso de atingir esse altíssimo patamar.

Depois de uma trilogia clássica em que dois terços já tinham ficado abaixo do esperado, a saga retornou nos moldes de “sucessor espiritual” em 2015 com Jurassic World, um gigantesco sucesso de bilheteria. E assim como o clássico, não demorou para mostrar que não sabia como continuar com o lamentável Jurassic World: Reino Ameaçado (2018). Se ainda há dúvidas, Jurassic World: Domínio agora chega para relembrar como o retorno da série é baseado apenas em nostalgia ao invés de filmes propriamente bons.

Ficha técnica

Título: Jurassic World: Domínio (Jurassic World: Dominion)

 

Direção: Colin Trevorrow

 

Roteiro: Emily Carmichael, Colin Trevorrow e Derek Connolly

 

Data de lançamento: 2 de junho de 2022

 

País de origem: Estados Unidos

 

Duração: 2h 26min

 

Sinopse: Quatro anos após a destruição da Isla Nublar, os dinossauros agora vivem – e caçam – com os humanos pelo mundo. Logo, os avanços tecnológicos caem nas mãos erradas quando uma gigante farmacêutica se envolve em uma conspiração bioquímica.

Ambientado quatro anos após o antecessor, Domínio mostra um mundo em que humanos e dinossauros tentam conviver lado-a-lado. Com avanços tecnológicos nos olhos do grande público, logo surge uma conspiração quando uma gigante farmacêutica se torna suspeita de criar gafanhotos gigantes devoradores de plantações, capazes de alterar toda a produção alimentícia mundial.

Quem lidera a investigação dessa conspiração é a pesquisadora Ellie Sattler (Laura Dern), que reúne seu antigo grupo — o paleontólogo Alan Grant (Sam Neill) e o matemático/filósofo Ian Malcolm (Jeff Goldblum) — para visitar a base dessa grande companhia farmacêutica. Seus caminhos se cruzam com o comportamentalista animal Owen Grady (Chris Pratt), que se vê arrastado para a intriga quando sua filha — Maisie (Isabella Sermon), uma clone criada em laboratório — e a filhote de uma velociraptor geneticamente modificada são sequestradas.

O resgate emotivo de uma filhote de dinossauro é uma motivação meio boba, mas não dá pra negar: ela é bem fofinha

Na tentativa de encontrar algo para contar, o filme vai muito além dos dinossauros e se apega a qualquer causa que pareça minimamente urgente, por mais desinteressante que seja. A forma como o trio de protagonistas clássicos retorna é talvez o único acerto da narrativa, que os reúne de um jeito orgânico e original. É difícil dizer isso de qualquer outra parte do longa.

Tentar enquadrar Jurassic Park como uma conspiração biológica digna de Resident Evil é um exercício em ignorar tudo que consagrou a obra original, e tentar seguir em uma nova direção sem largar as amarras de uma grande franquia. Quebrar a fórmula é sempre o desejado para algo que já completa quase três décadas de existência, mas é preciso um mínimo de consistência ou entendimento das qualidades e defeitos da obra clássica. Não é o caso aqui, e há momentos que tudo soa como uma versão bizarra de Missão: Impossível ou 007 com dinossauros, mas nem o roteiro e nem a direção se mostram à altura de sustentar essa virada brusca.

Colin Trevorrow roda as cenas de ação do jeito mais funcional possível, sem nenhum estilo ou construção de tensão. As coisas simplesmente acontecem, ao ponto de desorientar o espectador. O mesmo vale para os momentos mais assustadores, como quando dinossauros encurralam e atacam alguém. Um dos marcos do filme de 1993 foi a excelente direção de Spielberg, que sabia valorizar o suspense, o espetáculo e o drama. Trevorrow, por sua vez, é constante em seu desinteresse por tudo que não seja grandioso.

Jurassic World: Domínio frequentemente tenta ser Missão: Impossível com dinossauros (e cenas de ação ruins)

As melhores partes de Domínio são os momentos em que segue o trio original, simplesmente porque há química genuína entre eles. Além disso, a Ellie Sattler de Laura Dern transborda carisma, e o Alan Grant de Sam Neill parece não ter mudado com o tempo. E não é nem preciso citar o Ian Malcolm de Jeff Goldblum, um ator com maneirismos fascinantes que transcendem qualquer personagem.

Os três atores são conhecidos por elevar qualquer obra que participam – e esse talento ajuda a evidenciar um problema chamado Chris Pratt. Por algum motivo, seu personagem segue como protagonista mesmo sem ter um pingo de personalidade ou qualquer característica minimamente marcante. Por si só, Owen Grady já é uma folha em branco, mas na presença de qualquer um do trio original, se torna ainda pior.

Chris Pratt está cercado de pessoas muito mais talentosas que ele

Na verdade, todo o restante do elenco engole o protagonista de Pratt em talento. A Claire de Bryce Dallas Howard se torna cada vez mais interessante como alguém disposta a sujar as mãos para proteger as criaturas. Há ainda coadjuvantes de peso vividos pelos excelentes Justice Smith (Detetive Pikachu), DeWanda Wise (Ela Quer Tudo), Mamoudou Athie (Arquivo 81), Omar Sy (Lupin), BD Wong (Mr. Robot) e Dichen Lachman (Rupture).

A todo momento, há alguém de alto nível aparecendo em tela, portanto os momentos desperdiçados no raso drama de Owen Grady se tornam ainda mais críticos. E olha que há bastante momentos para desperdiçar, visto que o filme arranha quase 2h30m sem muito para justificar todo esse tempo. Até na duração é uma obra que confunde excesso com grandiosidade.

Ver o trio clássico reunido é o suficiente pra levar muita gente para Jurassic World: Domínio no cinema

Jurassic World Domínio tinha apenas a obrigação de ser um bom blockbuster, mas se perde em viradas absurdas para tentar justificar a própria existência. Assim como grande parte das sequências, seu maior problema é não entender nada do que consagrou a obra original. Os dinossauros até parecem secundários em um longa sem nenhum tipo de suspense ou ameaça genuína, apenas uma conspiração vazia e um falso senso de urgência.

O que vai levar as pessoas para o cinema é o carinho pelo clássico de 1993, e essa memória afetiva talvez até seja saciada pela marcante trilha sonora, ou pelo retorno dos excelentes atores originais. Mas é lamentável como a nostalgia desorienta, ao ponto de que qualquer produção medíocre, sem rumo ou forças para seguir sozinha é capaz de se disfarçar na boa intenção de reviver momentos do passado.

Nota: 2 de 5

 

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