Crítica – Avatar: O Caminho da Água ressignifica a era dos blockbusters com uma verdadeira imersão subaquática
Crítica – Avatar: O Caminho da Água ressignifica a era dos blockbusters com uma verdadeira imersão subaquática
Embora deslize no desenvolvimento de diálogos e na consistência da narrativa, o retorno de Avatar prova que a franquia ainda tem seu espaço!
Quando Avatar estreou nos cinemas, em meados de 2009, o território hollywoodiano mal sabia que estava prestes a passar por algumas mudanças importantes no cenário cinematográfico. Muito mais do que “apenas” modificar a relação da indústria com o 3D, o filme de James Cameron foi revolucionário pela maneira como usou a tecnologia a seu favor para criar um universo surpreendente, algo quase inacreditável para nossa perspectiva naquela época.
Agora, 13 anos depois do longa que ainda mantém o marco de maior bilheteria da história do cinema, Avatar: O Caminho da Água finalmente chega às telonas. Os tempos são outros, a tecnologia avançou e a questão que fica é: será que James Cameron conseguiu se superar mais uma vez? A resposta mais simples e direta é que sim, a sequência de Avatar, embora caia em certas armadilhas do primeiro filme, entrega uma viagem ainda mais imersiva e estonteante do que a de 2009.
Ficha técnica
Título: Avatar – O Caminho da Água
Direção: James Cameron
Roteiro: Zach Cregger, Rick Jaffa e Amanda Silver
Data de lançamento: 15 de dezembro de 2022
País de origem: Estados Unidos da América
Duração: 3h 12min
Sinopse: Após formar uma família, Jake Sully e Neytiri fazem de tudo para ficarem juntos. No entanto, eles devem sair de casa e explorar as regiões de Pandora quando uma antiga ameaça ressurge, e Jake deve travar uma guerra difícil contra os humanos.
O mar é vida e morte
Para Jake Sully (Sam Worthington), Pandora deixou de ser apenas um planeta desconhecido para se tornar um lar. Ao lado de Neytiri (Zoe Saldaña), ele desbrava cada canto daquele território que um dia tentou explorar, afeiçoando-se às criaturas fantásticas, ao povo e aos rituais de uma civilização que agora pode chamar de sua.
Mas o que realmente importa para Jake ali é a família que formou com Neytiri. Com filhos biológicos e adotivos, sendo que um deles é um humano, o então guerreiro Na’vi tenta manter os Sully unidos mesmo diante de uma antiga ameaça, que retorna à Pandora com ideais mais egoístas e perversos.
A primeira reação de Jake, então, é fugir. Afinal, ele acredita que seu dever como pai é proteger sua família, custe o que custar. Nem que, para isso, eles precisem abandonar tudo sem olhar para trás. Como se desaparecer sem deixar rastros pudesse evitar uma catástrofe ainda maior.
O problema é que a tal da antiga ameaça é insistente e não vai descansar enquanto Jake Sully e os Na’vi não paguem por sua existência. Acontece que o preço é caro demais e as variantes são ainda mais extremas do que parece. Sully sabe muito bem disso depois que deu sua vida para evitar que Pandora fosse destruída por exploradores, ou melhor, colonizadores inconsequentes.
A premissa de Avatar: O Caminho da Água pode até parecer comum à primeira vista. Mas se tem uma pessoa que consegue elevar o simples a patamares grandiosos, mesmo que seja com o empurrãozinho de aparatos tecnológicos e um tanto de ambição, é James Cameron. Titanic, só para citar um caso, é um ótimo exemplo disso.
Imersão talvez seja a melhor palavra para descrever o que é assistir ao segundo filme de Avatar. Cameron extrapola o magnetismo do primeiro longa, no que diz respeito aos efeitos visuais impressionantes e à técnica cinematográfica, de um jeito que chega a ser assombroso.
Todas as sequências embaixo d’água produzem um espetáculo à parte. A construção dos elementos marítimos são tão vivos, coloridos e revigorantes que tentativas anteriores de proporcionar o mesmo, como em Aquaman ou até mesmo no recente Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, que nos leva em uma breve viagem pelo reino submerso de Talokan, tornam-se esquecíveis.
Cameron sabe como usar sua ambição para fazer com que O Caminho da Água destoe de outros blockbusters e nade contra a exaustiva marvelização do cinema. É o perfeito exemplo de como, em um mesmo oceano, vida e morte se encontram. E, no meio de tudo isso, o caminho misterioso da água está ali para conectar todas as coisas e dar um novo significado para outras.
Laços familiares
Avatar: O Caminho da Água é uma experiência cinematográfica que impressiona da mesma forma que o primeiro Avatar impressionou. Mas o diferente, desta vez, é que Cameron parece ter aprendido com erros do passado: há mais compaixão na sequência do que no filme que deu início a essa jornada.
Isso porque, se deixarmos a grandiosidade visual um pouquinho de lado, é fácil perceber que O Caminho da Água é uma história sobre família. Não somente aquela de sangue, mas também aqueles que escolhemos ao longo do caminho para nos acompanharmos durante a longa e inesperada jornada da vida. É o laço entre Jake, Neytiri e seus filhos que nos aproxima de Pandora de um jeito diferente, e boa parte desse apelo vem da performance de seus atores, com Zoe Saldaña sendo o carro-chefe desse aspecto.
Culturalmente mais diverso e intrigante, Avatar: O Caminho da Água conta com o apoio de novas figuras (aqui vai uma menção honrosa para a personagem de Kate Winslet e o de Britain Dalton, que faz o filho rebelde de Jake e Neytiri) e uma tribo até então inédita para aprofundar as emoções da história de Cameron. Mas, embora de fato tenha explorado esse lado com mais afinco do que seu antecessor, a produção cai em outras armadilhas.
Assim como o antecessor, os diálogos continuam pisando em ovos e há uma preferência em nos mostrar as maravilhas de Pandora ao invés de tirar um tempinho para desenvolver a relação entre seus personagens, que são importantes para o próprio desenrolar da trama. Para não entrar no território dos spoilers, basta dizer que há quase um “gargalo” deixado por certas questões apresentadas inicialmente que não se sustentam ao longo da narrativa. A justificativa é falha se olharmos para trás, o que faz com que o brilho dos mares e a vivacidade da trama percam um pouco de seu encanto em determinados momentos.
Mas isso não faz de Avatar: O Caminho da Água um filme problemático. Como dito, é uma obra que soube como aprimorar os erros do passado para contar a história de uma família que precisa fazer o necessário para sobreviver. Peca em diálogos ou no maior aprofundamento de dramas internos de seus personagens (com exceção de figuras como Lo’ak, o filho de Jake e Neytiri), mas ainda assim é uma experiência válida por entregar tudo aquilo que James Cameron sabe fazer de melhor de uma forma mais ousada e emocionante.
Além disso, é uma narrativa que resgata os mesmos temas do primeiro Avatar para falar da nossa relação com a natureza e como a sede por inovações e descobertas tecnológicas são capazes de destruir civilizações. É o mal da humanidade que, ao mesmo tempo que nos leva em direção ao futuro, também o torna quase impossível de acontecer, como se vivêssemos em uma distopia horripilante onde tudo vale pela sobrevivência.
São esses desafios e perigos iminentes que a narrativa de Avatar: O Caminho da Água busca elucidar, ou pelo menos instigar o público a procurar por elas. São 13 anos de história que fizeram James Cameron reunir suas ideias e a tecnologia necessária para que a sequência de seu revolucionário filme de 2009 obtivesse sucesso, e ele consegue isso. Assim, o segundo longa da franquia mostra que não tem medo das falácias acerca da ausência de relevância cultural de Avatar na indústria do entretenimento, pois James Cameron ressignifica mais uma vez o que o termo blockbuster representa para Hollywood. O que vem depois disso, apenas o futuro dirá.
Avatar: O Caminho da Água estreia no dia 15 de dezembro de 2022 nos cinemas.
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