Crítica: As Agentes 355 castiga o mundo com outra história genérica de espiões

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Crítica: As Agentes 355 castiga o mundo com outra história genérica de espiões

Por Gus Fiaux

Jessica ChastainPenélope CruzDiane Kruger, Lupita Nyong’o e Bingbing Fan se juntam para salvar o mundo, enquanto correm contra o tempo para recuperar uma tecnologia extremamente perigosa. Juntam-se a elas nomes como Sebastian Stan e Édgar Ramírez, e o resultado é um filme de ação e espionagem dirigido por Simon Kinberg.

Mas mesmo com um elenco de peso e uma aventura global, As Agentes 355 luta para se manter relevante, mesmo em uma época onde filmes de grupos femininos estão em alta. Com uma dose genérica de ação e uma trama bem batida, o filme desperdiça potencial e talento. Já conferimos o longa e aqui você pode ler a nossa crítica!

Ficha Técnica

Título: As Agentes 355 (The 355)

 

Direção: Simon Kinberg

 

Roteiro: Simon Kinberg e Theresa Rebeck

 

Data de lançamento: 20 de janeiro de 2021 (Brasil)

 

País de origem: Estados Unidos

 

Duração: 2h 02min

 

Sinopse: Um grupo de mulheres compõe uma das mais prestigiosas unidades de espionagem do mundo. Os agentes devem enfrentar uma ameaça assustadora.

As Agentes 355 está em cartaz nos cinemas!

As Agentes 355 é outro atentado terrorista de Simon Kinberg nos cinemas

A carreira de Simon Kinberg é uma das mais inexplicáveis de Hollywood – ao menos, sua carreira como diretor. Produtor e roteirista há quase vinte anos, o cineasta embarcou na direção pela primeira vez em 2015, ao comandar as desastrosas regravações de Quarteto Fantástico. Eventualmente, ele teve a chance de estragar outra propriedade da Marvel com X-Men: Fênix Negra, filme que foi um fracasso de crítica e bilheteria.

Agora, ele (felizmente) está longe da Casa das Ideias, mas continua provando sua incapacidade como diretor em As Agentes 355, novo filme que reúne um grupo considerável de talentos. Aqui, temos Jessica Chastain, Lupita Nyong’oDiane KrugerBingbing Fan Penélope Cruz reunidas em um grupo de espiãs para salvar o mundo antes que uma tecnologia letal caia em mãos erradas.

Se a premissa parece genérica, é porque ela é. Embora a ideia de um grupo de mulheres tenha sido explorada de diversas formas ao longo dos anos, Oito Mulher e um Segredo As Panteras possuem tramas muito similares – na verdade, não é lá a ideia mais original de Hollywood, já que quase todas as franquias de espionagem lidam com tecnologias assustadoras e compradores maquiavélicos, de 007 Missão: Impossível. Até Austin Powers já fez algo do naipe.

Filme conta com grande elenco: Penélope Cruz, Jessica Chastain, Diane Kruger e Lupita Nyong’o são apenas alguns dos nomes principais.

Mas o que mais incomoda aqui nem é tanto a falta de originalidade – claro, a essa altura do campeonato, já estamos cansados de ver softwares capazes de entrar em qualquer sistema, como se esse já não fosse um medo real na era da vigilância total. O problema é a falta de personalidade, que cospe as ideias de um roteiro mal-concebido e, no processo, desperdiça talentos de algumas das maiores atrizes da nossa geração. E tudo isso por conta de uma direção que não tem um norte ou sequer uma visão artística como base.

Basta pensar nos essenciais: o que um filme de espionagem precisa? Eu começo: ação é um bom ponto de partida. E aqui, temos algumas das cenas de ação menos inspiradas dos últimos anos. Kinberg confunde a necessidade de frenesi e emoção com a obrigação de usar câmera tremida – e o resultado final é quase incompreensível, com momentos onde chega a ser difícil diferenciar algumas das personagens – mesmo com os figurinos de Stephanie Collie, a mesma figurinista de Peaky Blinders.

Na verdade, o filme se torna um monstro de Frankenstein quando nos damos conta de que há méritos em seus departamentos isolados, mas não na obra enquanto conjunto. A trilha sonora de Tom Holkenborg (ou Junkie XL) é boa e frenética, mas não consegue trazer nenhuma emoção com a fotografia e a montagem picotada. A direção de arte de Simon Elliott é contida e direta, mas se perde em meio à mise-en-scène fajuta de Kinberg. Dá para notar todo o esforço dos envolvidos, mas uma completa incapacidade de quem deveria ser o maestro do projeto.

Filme envolve o roubo de uma tecnologia extremamente perigosa.

Em termos de roteiro, o filme também não é dos melhores. Além de sua trama genérica, ele falha no essencial: fazer com que nos importemos com as protagonistas. A começar, todas elas parecem ser apenas subprodutos de suas relações com homens, e nunca conseguem mostrar personalidade além do básico. Mace (Chastain) se dedica a um plano de vingança pela morte de seu namorado. Khadijah (Nyong’o) passa toda a duração do longa desejando não estar ali e sim em casa com seu marido, assim como Graciela (Cruz). Até a personagem “independente”, Marie (Kruger) é atormentada pelo fantasma de seu pai traidor.

Nas mãos de um filme mais competente, essa seria a deixa certa para analisar e subverter a noção de como mulheres precisam estar sempre submissas a figuras masculinas, seja nos cinemas ou no mundo real. Mas o filme nunca se aprofunda nesse ponto. Elas são figuras padronizadas que só mostram como são diferentes quando estão falando de homens ou agindo para homens. Até mesmo a ficção de super-heróis conseguiu contornar isso em Aves de Rapina, mas fica evidente que As Agentes 355 não se importa de fazer o mesmo.

E passadas duas horas, temos um filme completamente desprovido de vida, de personalidade e de qualquer traço minimamente memorável. Parece uma obra – ou melhor, um produto – feito pensado em algoritmo, tentando capitanear em cima da “onda” girl power girlboss, com a maior quantidade de astros do momento e uma narrativa que não seja tão diferente a ponto de incomodar, mas que também nunca fuja de um lugar comum que já está batido há mais de décadas.

Longa foi dirigido por Simon Kinberg, que também é responsável por X-Men: Fênix Negra e as refilmagens de Quarteto Fantástico.

E o pior de tudo é não conseguir entreter. Até mesmo algumas produções mais “detonadas” pelo público, como o Caça-Fantasmas de 2016, consegue ter um apelo forte para a diversão e trazer momentos engraçados. Já As Agentes 355 nunca sai do chão nesse quesito, e ainda por cima acha que está sendo um filme muito mais inteligente do que realmente é com seus vinte plot twists – todos previsíveis ou derivativos – e uma história tão autoexplicativa que faria até Christopher Nolan ficar com vergonha.

É triste, porque o esforço inicial veio de Jessica Chastain, que queria fazer um filme de espiões inteligente e original, com um elenco majoritariamente feminino. E no fim, até ela está bem – ao lado de todas as atrizes do filme, que se entregam de corpo e alma ao papel. Verdade seja dita, o único ator que não faz questão de estar ali é Sebastian Stan, que ligou um piloto automático jamais visto, mesmo quando participa dos filmes da Marvel. De resto, todo o elenco funciona, com destaque para Diane Kruger Lupita Nyong’o.

Mas todo o esforço do mundo não seria capaz de salvar um filme que nasceu respirando com a ajuda de aparelhos. No fim, é até um experimento de certo interesse para quem gosta das atrizes envolvidas, mas não consegue ser muito além disso. Pela terceira vez consecutiva, Simon Kinberg revela que não é capaz de compreender a linguagem cinematográfica e empregá-la nas suas obras – resta saber quando a indústria vai perceber isso, já que pelo fracasso do filme nas bilheterias, até o público já percebeu…

Nota: 2/5

As Agentes 355 está em cartaz nos cinemas.

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