Crítica: Amor com Fetiche quebra vários estereótipos das produções coreanas

Crítica: Amor com Fetiche quebra vários estereótipos das produções coreanas

O famoso “Quero apanhar de mulher bonita”!

Sendo o primeiro filme coreano original da Netflix, Amor com Fetiche tenta quebrar diversas expectativas dos famosos “doramas”. Trazendo dois idols – celebridade de k-pop que tem um treinamento duro e passou por várias fases de audições realizadas por agências de talento sul-coreanas – nos papéis principais, a produção baseada no webtoon Moral Sense apresenta uma comédia romântica sobre ter a coragem de ser você mesmo. 

Nele, após um erro nas entregas, Ji Woo, interpretada por Seohyun, acaba recebendo uma coleira de couro. O que ela não suspeitava era que a encomenda era para Ji Hoo, interpretado por Lee Jun-young, seu colega de trabalho conhecido por ser certinho e adorado. Ao descobrir o fetiche sexual do colega, Ji Woo se vê inclinada a experimentar o mundo do BDSM. E Ji Hoo não quer deixar a oportunidade passar. 

Ficha Técnica

Título: Amor com Fetiche (Love and Leashes)

 

Direção e Roteiro: Park Hyun-Jin

 

Data de lançamento: 11 de fevereiro de 2022 (Brasil)

 

País de origem: Coréia do Sul

 

Duração: 1h 58min

 

Sinopse: O amor é um sofrimento gostoso para dois colegas de trabalho que concordam em viver uma relação cheia de joguinhos, dor e prazer.

Entre Cinquenta Tons de Púrpura

No meio do sabor baunilha e o carmesim intenso parece existir o púrpura. E é nele que Amor com Fetiche se encontra. Com um roteiro leve de comédia romântica, o longa tenta dosar cenas intensas de dominação BDSM com momentos doces e uma química palpável entre os protagonistas.

Sendo assim, é curioso, mas também inevitável, pensar na repercussão que o filme possa ter na Coréia. Mesmo sendo baseado em um webtoon, o mundo dos idols, do cinema coreano e dos doramas é bem diferente das novelas ilustradas da internet. Junto do fato de possuir duas figuras conhecidas de grupos de kpop, mas também da TV coreana, esse projeto parece tanto arriscado quanto um sopro de novidade para a indústria.

Por outro lado, talvez por medo de represália ou até pelo teor da história original, a diretora Park Hyun-Jin peca em não ser mais intensa em suas quebras de expectativas. Mesmo sendo maravilhoso ver uma inversão de papéis dos arquétipos coreanos românticos, às vezes, parece que falta um pouco mais de experimentação nas relações de dominador e submisso. É difícil não desejar mais das cenas apresentadas no teaser, que parecia equilibrar bem o “amor” e o “fetiche”.

Porém, isso não torna o filme menos do que ele se propõe. A forma como, por exemplo, as cenas entre Seohyun e Jun no trabalho e no quarto contrastam bem. A diretora, de alguma forma, consegue transparecer o divertimento dos atores, mas também a intensidade desse relacionamento, suas dúvidas, medos e curiosidades. E isso se torna a cereja do bolo em uma relação que é nova para ambas as partes.

Em um primeiro momento, existe uma impressão de que o personagem de Jun é muito mais experiente do que realmente é. Mas, nessa história, ele toma para si o “papel da garota em um dorama colegial”. Deixando todo o peso problemático que isso pode ter, o que quero dizer é como a expectativa de ver Jun interpretando o típico protagonista masculino de um dorama entra em conflito com uma interpretação mais calma e, até mesmo, infantil. Causando acidentes, caindo na frente da crush e sendo o outro lado das famosas cenas em câmera lenta de casal.

Não muito diferente de Seohyun, que se mostra confortável em um papel dominante, mesmo que sua personagem ainda tenha diversas dúvidas sobre o que é ser uma dominatrix. E toda essa fase de descobrimento, suas cenas visualmente belas, o trabalho com a luz e o desejo fazem dessa uma experiência bem mais interessante que Cinquenta Tons de Cinza, por exemplo.

Aqui, além do sexo desmedido e de um remix de Crazy in Love, podemos ver mais dos personagens e dos atores. Tanto que fora o casal principal, poucos parecem se destacar na trama. Talvez a personalidade divertida da personagem de Lee El, de Goblin, ou o estagiário com desejos secretos feito por Ahn Seung-Kyoon.

Park Hyun-Jin faz valer esse primeiro filme original da Netflix feito na Coréia. Com cenas cômicas, momentos intensos e debates importantes sobre desejo, afeto e “ser você mesmo”, Amor com Fetiche é o que se propõe. Leve, divertido, fazendo suas duas horas valerem à pena.

Amor com Fetiche está disponível na Netflix.

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