Crítica: Entre horror e fé, A Médium se torna como um dos melhores filmes de possessão dos últimos anos
Crítica: Entre horror e fé, A Médium se torna como um dos melhores filmes de possessão dos últimos anos
Filme tailândes de 2021 finalmente chega aos Brasil
Depois de tantos found footages e mockumentaries parece impossível inovar nesse estilo de cinema. Não pela infinidade de longas da franquia Atividade Paranormal, nem por Bruxa de Blair parecer ser o único que se instaurou como o maior do gênero, mas por parecer que já vimos de tudo.
Porém, isso não impede que Banjong Pisanthanakun consiga trazer um frescor em seu novo filme, A Médium. Com uma trama que cresce aos poucos, o diretor abre mão dos sustos e cria um horror atmosférico capaz de gelar a espinha.
Ficha técnica
Título: A Médium (The Medium)
Direção: Banjong Pisanthanakun
Roteiro: Chantavit Dhanasevi, Na Hong-jin, Banjong Pisanthanakun
Data de lançamento: 19 de maio (Brasil)
País de origem: Tailândia
Duração: 2h 15m
Sinopse: Uma equipe de documentaristas tailandeses viajam para o nordeste do país para acompanhar o dia-a-dia de uma médium local. Porém, o que era para ser um relato documental sobre a herança da deusa Bayan para a família Nim se torna uma história de possessão e fé.
O horror atmosférico de Banjong
Assustar uma sala de cinema não é tão fácil quanto parece. Alguns preferem utilizar de longos momentos silenciosos e uma trilha sonora que escala de maneira rápida para tirar suspiros e gritos do público, como James Wan. Outros, utilizam a narrativa para construir o bizarro, o estranho. Esse é o caso de Banjong Pisanthanakun.
Conhecido por Espíritos: A Morte Está ao seu Lado, de 2004, o diretor se manteve quase no anonimato após o sucesso de seu filme de terror. Entre escrever uma sequência para Espíritos e produzir alguns outros filmes na Tailândia, retornou após cinco anos de pausa com uma obra eletrizante.
E muito dessa sensação de euforia e incômodo gerada por A Médium é pelo do roteiro. Além do diretor e Chantavit Dhanaseci, a história teve participação de outro nome em ascensão no terror asiático: Na Hong-jin. Para os menos familiarizados, ele escreveu e dirigiu outro horror atmosférico que ganhou o coração de vários amantes do gênero, O Lamento, de 2016.
Elementos conhecidos, mas bem trabalhados
Seria uma mentira dizer que não dá para sentir esse mesmo medo do desconhecido, do que não é palpável, do longa anterior do roteirista. Pelo contrário, em A Médium, entramos na vida de Nim, uma xamã da região de Isan. Entre muita vegetação, roupas simples e olhar caridoso, a mulher fala sobre como é ser possuída pela deusa Bayan, entidade que tem escolhido a família dela como porta-voz durante gerações.
Mas, o contato de Nim com sua divindade é o menos usual dessa linhagem. Sendo recusada por Noi, a irmã de Nim, que é descrente da deusa pagã e segue uma vida cristã, afastada das crenças da família, Bayan acabou optando pela protagonista da história.
Desta forma, ao estar no lugar da irmã, percebemos o desconforto da personagem, pela pergunta silenciosa que ainda paira sobre ela: “Será que eu fui mesmo escolhida?”.
Potencializada pela atuação de Sawanee Utoomma, a personagem de Nim consegue ser tão cativante quanto misteriosa. Entre olhares e explicações do que estamos vendo, o que fica subentendido parece chegar à superfície sem dificuldade. E isso se estende para outras atuações. Narilya Gulmongkolpech, que interpreta a sobrinha de Nim, Mink, faz outro trabalho excepcional em mostrar as dores em sentir o suposto “toque divino” da deusa Bayan.
Com uma performance que poderia ser equiparada a de Linda Blair em O Exorcista, Narilya consegue transitar entre a normalidade e o grotesco, entre a vida normal de uma garota tailandesa que não acredita em nada e na dúvida do que é real ou crença.
Por outro lado, ainda é possível encontrar algumas atuações que podem incomodar um público menos habituado ao cinema tailandês. Yasaka Chaisom, por exemplo, possui uma presença “cômica”, em alguns momentos, que quebra a narrativa imersiva em que estamos adentrando.
Mas até as características mais amadoras se tornam uma base para construir a sensação de verossimilhança do filme. Até porque estamos tratando de um documentário falso. Os personagens presentes no filme precisam estar mais próximos da realidade, seja no desconforto com a câmera ou através do nervosismo se transformando em risos involuntários.
Mesmo assim, A Médium, em momento nenhum, se intitula um “novo A Bruxa de Blair”. Sua aproximação com o real não é para ser enganosa, mas atmosférica. Característica similar ao filme japonês Noroi, de 2005, que utiliza uma comunicação jornalística e crua para construir uma ambientação assustadora e incômoda.
Sempre está claro claro que nada daquilo é real. Seja em como tudo de importante sempre parece ter sido documentado, ou na forma que o fio narrativo ignora algumas “impossibilidades”, desde qualidades técnicas de imagens à permissividade dos personagens em deixarem filmar tudo.
Tudo isso contribui para o charme de A Médium. Mesmo com suas duas horas de filme, a produção consegue captar a atenção do público e deixá-lo curioso para o desenrolar da trama. Por outro lado, aqui não há nada de inovador. Não espere encontrar um plot twist que irá explodir sua cabeça, nem uma nova forma de utilizar o mockumentary e found footage. A Médium é como um bolo de vó para um fã de terror: o sabor pode ser o mais simples, mas a experiência é cativante.
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