Cavaleiro da Lua: Mitologia atraente de nova série da Marvel esbarra no humor pastelão

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Cavaleiro da Lua: Mitologia atraente de nova série da Marvel esbarra no humor pastelão

Por Evandro Lira

Cavaleiro da Lua, nova série da Marvel Studios para o Disney+, estreia nesta quarta-feira, 30 de março. O programa apresenta a história de de Steven Grant (Oscar Isaac), um homem gentil, educado e aparentemente normal, mas que descobre ter uma dupla identidade, dividindo sua personalidade com a do mercenário implacável Marc Spector.

A Legião dos Heróis foi convidada a assistir os dois primeiros episódios da série e aqui está o que achamos da mais nova empreitada do Universo Cinematográfico da Marvel.

Cartaz de Cavaleiro da Lua, estampado pelo ator Oscar Isaac

Cavaleiro da Lua é a mais nova aposta da Marvel para o streaming da Disney

A fórmula Marvel ataca novamente

Todo mundo já deve ter ouvido por aí que a Marvel Studios não faz “filmes sérios”, que existe uma “fórmula Marvel” e que a DC é muito melhor quando se trata de produções “mais adultas”. Veja bem, há argumentos suficientes que depõem contra ou a favor dessas ideias, mas a mais nova série da Marvel para o Disney+, Cavaleiro da Lua, é uma daquelas produções que com certeza reforçam esses comentários.

É fato que a Disney tem como meta lançar produções acessíveis para todos os públicos. Seja um adulto que consome produções visando o mais puro e simples entretenimento ou uma criança que sequer era nascida quando os 20 e tantos filmes do estúdio foram lançados, todos podem curtir a história que está se desenrolando nas telas. O problema é que, para isso, as obras precisam abrir mão de certos aspectos e abraçar alguns outros, e isso fica transparente quando vemos aplicado ao enredo do homem de múltiplas personalidades apresentado em Cavaleiro da Lua.

No primeiro episódio da série, que estreia no Disney+ nesta quarta-feira (30), esses problemas começam a aparecer da metade para o final. No início, o espectador está muito interessado em desvendar o que acontece na vida daquele homem atípico. Além disso, a confusão do personagem é reflexo da confusão do público e gera uma identificação rápida. Mas não demora muito para ficar claro o caminho que a coisa vai tomar, quando uma perigosa corrida numa estrada mortal se torna uma sequência cômica, cheia de humor físico capaz de arrancar gargalhadas do público. E esse humor, que beira ao pastelão, só ganha mais espaço à medida que a confusão de Steven Grant (Oscar Isaac) se intensifica.

O ator Oscar Isaac em cena de Cavaleiro da Lua

Oscar Isaac interpreta Steven Grant em Cavaleiro da Lua

Vale ressaltar que o humor no entretenimento não é um problema e que ele é, quase sempre, bem-vindo. Durante todos esses anos, a Marvel Studios soube dosar momentos dramáticos e cômicos muito bem, como em Homem de Ferro, Capitão América: O Soldado Invernal e Pantera Negra, da mesma forma que soube aplicar o humor no seio de obras essencialmente cômicas, tais quais Guardiões da Galáxia, Homem-Formiga e Thor: Ragnarok. Mas por que isso é um problema em Cavaleiro da Lua?

O protagonista vivido por Oscar Isaac é um homem essencialmente confuso, perdido e azarado – e ok, não é por menos, afinal o cara vive uma vida completamente angustiante. Mas em apenas dois episódios, Cavaleiro da Lua esgota todas as piadas que poderiam ser feitas frente à situação inusitada do protagonista.

Um humor inteligente que acrescenta alguma leveza à narrativa é louvável, mas o humor que está ali apenas para deixar no espectador a sensação de felicidade e satisfação é uma abordagem preguiçosa e limitada. Fazer do personagem principal um saco de pancadas da audiência perde a graça muito rapidamente.

Cavaleiro da Lua merecia que seus criadores se preocupassem menos com piadas clichês e se debruçassem mais sobre a mitologia da série, que é algo novo e totalmente diferente dentro do Universo Cinematográfico da Marvel. Quando isso é feito, a série ganha muito.

Cavaleiro da Lua é boa quando adentra no campo do suspense e horror

O horror liberado pelas aparições da divindade Konshu é de arrepiar. As cenas protagonizadas pelo personagem são, sem dúvida, alguns dos momentos mais aterrorizantes das produções da Marvel. A voz assombrosa de F. Murray Abraham faz toda a diferença, sendo o único problema os momentos em que Konshu precisa ser um velho ranzinza que xinga o “pobre” Steven.

O vilão de Ethan Hawke é um outro bom exemplo do que funciona em Cavaleiro da Lua. O personagem é a prova cabal de que quando a série decide abraçar o inquietante, ela se torna realmente atraente. Tudo que gira em torno de Arthur Harrow é instigante, e te faz querer saber mais sobre ele e sua seita sinistra. 

Ethan Hawke como Arthur Harrow em Cavaleiro da Lua

Ethan Hawke, ator indicado ao Oscar, é o misterioso vilão Arthur Harrow em Cavaleiro da Lua

A forma como os dois primeiros episódios trabalham as elipses referentes ao controle do corpo de Steven contribui muito bem com a narrativa fragmentada do enredo, o que traz um polimento único para a obra em relação ao que estamos acostumados na Marvel.

Oscar Isaac está sensacional na pele de Steven Grant, é claro. Algo que a gente definitivamente não esperava, porém, é que seria Cavaleiro da Lua o palco onde o ator mostraria todo seu timing cômico. É verdade que uma dose de ironia faria bem à sua performance, que por vezes soa ingênua demais. Porém, essa certamente foi a instrução que o ator recebeu na hora de dar vida a Steve.

Cavaleiro da Lua poderia ecoar como um novo respiro à franquia da Marvel mas só nos permitiu perceber as fragilidades da marca. Se até quando tem uma oportunidade, a Disney não se permite ir além do óbvio, é fácil imaginar o destino de personagens como Demolidor e Blade

Enquanto seguimos aguardando algum sopro de ousadia da Marvel Studios, Cavaleiro da Lua terá 6 episódios, cada um chegando ao Disney+ todas as quartas a partir do dia 30 de março. Se ainda não tem Disney+, assine aqui.

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