BGS 2022: Como funciona a Nintendo no Brasil? Diretor explica as dificuldades da marca no mercado nacional
BGS 2022: Como funciona a Nintendo no Brasil? Diretor explica as dificuldades da marca no mercado nacional
Diretor da Nintendo na América Latina comenta avanços no país e as questões da localização para português
Além de disponibilizar uma série de jogos ao público, a Brasil Game Show 2022 também foi uma oportunidade de entender o que as gigantes dos games estão preparando para o Brasil. Um grande destaque da feira foi a Nintendo, que não só trouxe seus maiores sucessos do ano como também anunciou jogos físicos em lojas nacionais. A Legião dos Heróis conversou com o diretor sênior Bill van Zyll para entender como funciona o ressurgimento da Nintendo no Brasil.
A nação nintendista
O gamer brasileiro é bem diverso. Mas mesmo entre um público com gostos tão distintos, Super Mario e Pokémon continuam entre os personagens mais queridos dos jogadores nacionais. Os fãs não medem esforços para demonstrar seu amor pelas franquias da Nintendo, seja com artes, tatuagens ou comentários acalorados nas redes sociais. Tamanha paixão fez com que os “nintendistas” ficassem conhecidos por todo mundo, até mesmo entre os executivos da empresa.
Em conversa com van Zyll, o gerente geral para a América Latina da Nintendo of America confessa que este carinho dos brasileiros é um grande motivador pessoal que o levou a querer trabalhar com nosso mercado. “Vou te dizer que a gente tem fãs por toda a América Latina, ótimos fãs. Eu também vou te dizer que os fãs do Brasil são bem únicos. Eles são muito apaixonados. E eu amo isso,” conta.
“Eu acho que é pela longa história que nós temos no Brasil. Digo, vem desde o Nintendinho e Super Nintendo,” lembra. No início dos anos 90, a gigante japonesa tinha uma forte presença nacional graças a uma parceria com a Gradiente e a Estrela. Entretanto, ao longo dos anos, a atuação no país foi enfraquecendo até que a Nintendo saiu de vez do Brasil em 2015, em seu período mais conturbado. “Infelizmente [a história da Nintendo no Brasi] não tem sido consistente, mas é nisso que estamos trabalhando agora,” acrescenta.
A jornada da Nintendo Brasil
Durante a era do Nintendo 3DS e Nintendo Wii U, foi Bill van Zyll quem confirmou à imprensa a partida da Nintendo do Brasil. E em 2018, quando os jogos digitais do Nintendo Switch começaram a ser vendidos no país, ele também esteve presente, anunciando o início de uma nova era. Dessa vez, é a própria Nintendo que está se representando por aqui, pronta para dar um novo passo no mercado nacional muito em breve.
Esse tempo fora serviu para a Nintendo reavaliar sua estratégia no Brasil. De acordo com Bill, o maior desafio é depender da paciência dos fãs enquanto preparam o terreno para a sua expansão local. “Nós sabemos que os fãs do Brasil, eles querem nossos produtos, querem nossos serviços e nós realmente queremos trazer isso para eles,” explica, “mas tem sido uma jornada.”
“Primeiro a gente precisava conseguir preparar o modelo de negócio certo, o modelo de distribuição certo. E depois a gente queria ser bem intencional e ir passo a passo, então a gente estaria construindo algo concreto e algo que iria durar. E então construímos do jeito certo,” diz van Zyll.
Desde o lançamento do Nintendo Switch no Brasil de forma oficial, em 2020, a empresa vem correndo atrás do tempo perdido. Aos poucos, os grandes lançamentos de hardware como o Nintendo Switch OLED são distribuídos entre as lojas parceiras, mesmo que com algum atraso em comparação ao mercado mundial.
“Só precisa ser paciente, assim como com software, sabe?,” acrescenta, comentando sobre a distribuição dos jogos da Nintendo no Brasil, “Nós trouxemos os softwares digitais. Nós temos melhorado o acesso aos softwares digitais e métodos de pagamento, tornando mais fácil. Até agora era só digital, mas também estamos trazendo softwares físicos, porque é isso que os fãs querem.”
O plano é, aos poucos, construir um ambiente em que a distribuição dos produtos Nintendo no Brasil chegue ao mesmo nível de outros cantos do mundo, de acordo com Bill. Essa é uma grande demanda de Doug Bowser, o presidente da Nintendo of America, porém existem algumas etapas que precisam ser cumpridas para termos lançamentos simultâneos de jogos físicos e consoles.
“Tem muitas coisas que acabam afetando. As nossas próprias capacidades e recursos, mas além disso tem as certificações locais, você tem a Anatel, as tomadas próprias do Brasil e tudo mais. Depois você tem a classificação dos jogos. Então tem esses outros fatores, outras questões que podem afetar [o processo],” comenta, “Definitivamente é uma prioridade para meu chefe, para nossa empresa e para mim pessoalmente.”
Mas a oferta de produtos físicos com maior agilidade é apenas um pilar para garantir que os fãs brasileiros tenham a mesma experiência com a Nintendo que jogadores internacionais. A localização é outro aspecto importante dessa estratégia.
Por que não temos tantos jogos da Nintendo em português?
Nos últimos anos, alguns poucos jogos chegaram a ser traduzidos para português europeu, como Super Smash Bros for Wii U e Mario Kart 8 Deluxe. Porém, em 2022, a Nintendo deu um passo além e começou a trazer mais conteúdo especialmente em português brasileiro. Mario Strikers: Battle League foi um grande destaque, por conversar com a paixão nacional por futebol, mas não foi o único. Títulos como Mario Party Superstars e Kirby’s Dream Buffet também tiveram o mesmo tratamento, que começa a se tornar o novo padrão.
“A resposta dos fãs tem sido bastante positiva. Eu diria que nas redes sociais, por exemplo, o principal feedback que a gente recebe é quando a gente vai trazer games: mais games, mais conteúdo,” comenta van Zyll, “Nós reconhecemos a importância de ter jogos localizados. O desafio que a gente está tendo é aumentar nossa capacidade.”
Sempre que uma nova vaga para a equipe fixa de tradução para a nossa língua surge, acaba virando assunto entre a comunidade de fãs — algo que se tornou relativamente frequente nos últimos tempos. Há um esforço claro, mesmo que tardio, de atender a principal demanda do público brasileiro. A questão é quanto tempo ainda vai demorar para esse esforço render frutos.
No âmbito mobile, a empresa mostra um pouco de sua excelência. “A Nintendo tem um grande comprometimento com qualidade,” reforça Bill. Mesmo jogos repletos de texto como Fire Emblem Heroes, um RPG tático carregado de história, e Mario Kart Tour, cheio de personagens, contam com uma localização completa para português brasileiro. Mas no Nintendo Switch, o progresso tem sido bem mais modesto.
“Nós fazemos a localização internamente. E localização não é simplesmente tradução, sabe?,” explica Bill, “Você tenta trazer a emoção, a essência do jogo, o humor, tudo. Você tenta transmitir isso para o consumidor. Então a gente faz isso internamente, na maioria das vezes. Leva tempo para construir esses recursos, então a gente está trabalhando nisso. Nossa meta é aumentar a oferta que temos de jogos localizados, mas novamente, pedimos paciência.”
Enquanto a equipe de localização para português se solidifica na Nintendo of America, alguns grandes lançamentos como Xenoblade Chronicles 3 e Splatoon 3 ainda chegam sem opção de legendas em nosso idioma. No momento, a empresa precisa fazer esses sacrifícios, mas sempre tendo em mente o menor impacto para os fãs dentro de suas capacidades. Assim, a escolha de quais títulos são localizados respeita alguns critérios.
“Tem muitos fatores que influenciam nisso. Para começar, um importante é simplesmente nossa capacidade, sabe? O quanto a [equipe de] localização consegue encarar com os recursos que eles têm. Então isso influencia demais,” revela, “Depois o outro [fator], talvez, [é] o quão crítico seria ter esse jogo em um idioma localizado ou quão intuitivo é o jogo. Então esse é outro fator, mas eu diria que recursos e investimento é o principal.”
Esse investimento em consolidar a marca entre os brasileiros têm trazido resultados. O Nintendo Switch já é um sucesso absoluto no país e o sonho de consumo de muitas crianças brasileiras. Para o futuro, conforme a Nintendo volta a consolidar suas raízes no Brasil, a expectativa é que essa relação renda ainda mais resultados.
Bill está bastante animado para ver o desempenho de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom, a aguardada sequência de Breath of the Wild, em território nacional. “Esse foi um grande título no Brasil. Na verdade, qualquer jogo de Zelda vende muito bem no Brasil,” aponta.
Não surpreende que a franquia seja uma grande favorita entre os fãs, junto de Mario e Pokémon. Scarlet & Violet está entre os títulos que o diretor sênior aposta que será um grande sucesso no país. Bill fez questão de frisar a ausência histórica de localização na franquia, que foi alvo de grande comoção pública no início do ano. Uma realidade que pode mudar muito em breve.
Mesmo com um retorno tímido, a verdade é que a Nintendo voltou para ficar no Brasil. Os nintendistas podem ficar tranquilos que as principais demandas da comunidade estão nos planos da empresa, que está fazendo de tudo para corresponder as expectativas dos fãs no seu próprio tempo. Quem sabe na próxima BGS não estaremos comentando sobre como as principais franquias da empresa estão em português? Isso só o tempo dirá.
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