Akira: O legado de um dos filmes japoneses mais influentes da cultura pop
Akira: O legado de um dos filmes japoneses mais influentes da cultura pop
Você já assistiu Akira? Conheça uma das primeiras obras do Cyberpunk Japonês!
Atenção: Alerta de Spoilers!
Akira é um grande marco da ficção científica e do cyberpunk oriental, que revolucionou completamente a visão do ocidente para com animes e mangás. Uma obra complexa, que abre espaço para interpretações pessoais e te tira da zona de conforto… Akira foi adaptado para filme e recebeu uma das melhores animações de todos os tempos (até para os dias atuais). Considerada uma das obras mais populares da cultura pop japonesa, vamos te contar tudo sobre sua adaptação para filme!
- A obra original
- Qual é a história de Akira?
- O contexto social de Akira
- O legado de Akira
- Qual é a relevância de Akira para o Ocidente?
- Quais são as diferenças entre o mangá e o anime de Akira?
A obra original
Akira é um mangá escrito e ilustrado por Katsuhiro Otomo, sendo publicado entre os anos de 1982 à 1990 pela Editora Kodansha. A obra rapidamente se tornou umas das principais referências do cyberpunk durante a década de 80 e foi um grande sucesso, inicialmente nacional.
Após ser adaptado para filme em formato de anime no ano de 1988, Akira ganhou fama mundial e, como consequência, seu mangá se tornou um grande sucesso mudando completamente o mercado mundial em relação ao consumo de mangás e animes.
Em 1988, Akira foi lançado por ninguém menos que a Marvel em seu selo Epic Comics e sua versão americanizada foi colorizada para ser melhor adaptado à leitura ocidental, claro, com a autorização do próprio Katsuhiro. Isso fez de Akira o primeiro mangá a ser publicado nessas duas orientações de leitura (mangá e HQ).
As edições brasileiras foram publicadas pela Editora JBC e são divididas em 6 volumes:
- Volume 1: Tetsuo (Parte 1 )
- Volume 2: Akira (Parte 2 )
- Volume 3: Akira II (Parte 3 )
- Volume 4: Kei (Parte 4 )
- Volume 5: Kei II (Parte 5 )
- Volume 6: Kaneda (Parte 6 )
Qual é a história de Akira?
Sem spoiler
No ano de 1988, o Japão passa por um desastre causado por uma explosão misteriosa que devastou todo o país e deu início a Terceira Guerra Mundial. Porém, a história que acompanhamos no filme começa de fato 31 anos depois, em 2019, num futuro despótico e em uma cidade reconstruída, agora chamada Neo Tokyo.
Neo Tokyo é uma cidade repleta de tecnologia, com inúmeros telões e hologramas nas ruas, porém a situação civil é caótica. Fome, violência e marginalização das classes mais baixas… Essa era a realidade da cidade onde toda a história acontece, formando o cenário cyberpunk perfeito para este roteiro.
Para completar a situação de desordem em uma sociedade recém formada, o governo de Neo Tokyo era corrupto e não funcionava nos setores básicos – como escolas e hospitais, que eram quase sucateados – o que gerava revolta em parte da população. Essa parcela de civis disposta a enfrentar tamanho descaso se dividia entre os ativistas e os terroristas, mas no fim, ambos eram contidos pelo exército de forma violenta.
É nesse contexto que conhecemos os personagens principais, já que uma sociedade precária abre espaço para o surgimento de gangues. A principal gangue de motoqueiros da obra, As Cápsulas, era liderada por um jovem chamado Kaneda. A moto do líder do grupo era de longe a mais chamativa, equipada e que tinha um mecanismo tecnológico de direção que permitia apenas Kaneda pilotá-la.
Como acontece entre gangues, um dia As Cápsulas foram para um confronto com outro grupo rival, Os Palhaços. Houve uma perseguição e briga enquanto todos pilotavam, mas durante o conflito o membro mais jovem da gangue de Kaneda vai sozinho atrás de um inimigo. Tatsuo é o mais novo do grupo e acaba se envolvendo em um acidente ao quase atropelar uma criança estranha.
Ao ver uma explosão causada pelo acidente de seu amigo, Kaneda e seus companheiros vão até o local tentar ajudar Tetsuo, mas eles presenciam o exército capturando a criança estranha e levando seu amigo também. É a partir desse ponto que a história de verdade começa e se aprofunda cada vez mais em uma trama de experimentos científicos, cobaias humanas, poderes sobrenaturais e etc.
Com spoiler
Quando Tetsuo é levado pelo exército, ele é direcionado a uma área restrita para que cientistas o estudem, já que ele teve contato com a tal criança. O problema começa quando nesses estudos os cientistas descobrem que o garoto tem potencial para despertar poderes telecinéticos tão poderosos quanto os de Akira.
Akira é o ponto-chave de toda história e considerado uma espécie de entidade pelos personagens. Existem até grupos fanáticos que adoram Akira como se ele fosse um salvador ou algo desse tipo. Ele é visto como entidade devido aos seus poderes sobrenaturais que foram responsáveis por aquela explosão de 31 anos atrás, que deu início a todo o caos do presente.
A realidade por trás de Akira é muito mais complexa do que se imagina, afinal, Akira na verdade era apenas uma criança. A primeira criança com poderes sobrenaturais psíquicos a ser estudada por entidades governamentais para criar uma arma de guerra a partir de suas habilidades. Isso em um período histórico muito conhecido do nosso mundo real: a Guerra Fria.
A explosão ocorre quando o poder da criança é liberado sem que possa ser contido, o que fez os danos saírem de controle assim como o próprio Akira. Porém, ele não era a única criança paranormal e mesmo após provar que não era um bom caminho, o governo seguiu estudando e realizando experimentos com algumas delas. O garoto que vemos Tetsuo quase atropelando é uma dessas cobaias humanas que havia conseguido fugir.
Tetsuo então tem seus poderes ativados na base militar, mas consegue fugir de lá sem muita dificuldade. A medida em que o tempo passa podemos perceber mudanças no garoto, não só em relação aos seus poderes, mas também as suas ações. Ele fica mais forte fisicamente, mas também tende a ser mais violento e imponente. Como essas mudanças são reflexo de sua mutação, afetam diretamente sua cabeça, o fazendo alucinar e até mesmo ter visões com o próprio Akira.
A medida em que libera sua raiva, Tetsuo vai criando uma conexão ainda mais forte com os poderes de Akira. Seu corpo começa a mudar de forma à medida que seus poderes aumentam, consumindo matéria inanimada e lhe dando um aspecto completamente incomum, fazendo com que o garoto se torne uma grande ameaça.
No meio disso tudo está Kaneda, o amigo de infância de Tetsuo e o líder de sua gangue. Ele quer apenas ajudar seu companheiro, pois acredita que ele ainda pode ser salvo. Em contrapartida, Tetsuo não fere ou mata Kaneda (mesmo sendo algo fácil para ele à essa altura), provavelmente porque seu lado humano e racional ainda gosta dessa amizade.
O contexto social de Akira
Por mais que a trama se concentre nessas crianças e seus poderes, ela faz isso de uma forma bem inteligente ao acrescentar fatores sociais e abordando muito bem a parte política de Neo Tokyo enquanto uma sociedade recém estruturada. Principalmente o viés social de uma população que vive em miséria após uma Guerra de grandes proporções e que ainda não teve tempo de se reestabelecer.
Em paralelo, os poderes políticos negligenciam a realidade das ruas e não suprem necessidades básicas dessa população, enquanto seguem uma vida de requinte ignorando os protestos e mandando a polícia sessar com violência qualquer manifestação.
A cidade e suas movimentações acabam sendo mais que um cenário para a história, mas também um personagem secundário que dá o ritmo de inúmeros fatos que ocorrem ao longo da narrativa.
O legado de Akira
A importância histórica de Akira para as animações japonesas no Ocidente é gigantesca, afinal o filme foi o principal responsável pela divulgação desse tipo de conteúdos por aqui. Um detalhe muito importante é que toda a arte deste filme foi feita à mão, quadro por quadro. Isso mesmo, hoje em dia estamos acostumados a ver grandes produções no mundo dos animes, graças ao auxílio da tecnologia, não é?
Mas a produção de Akira optou por fazer tudo manualmente. Além disso, o filme foi construído com 2/3 à mais de imagens em quadros por segundo do que qualquer outra animação (incluindo muitas dos dias atuais). Dados de produção indicam que também optaram por uma cartela de cor bem mais ampla que o padrão, depositando no filme cerca de 327 cores diferentes onde 50 delas foi criada apenas para essa produção.
Mesmo se você assistir ao filme nos dias atuais e se atentar a animação, é quase impossível dizer que se trata de um filme antigo (a não ser pela estética dos traços da época, mais arredondados que os de hoje). A dublagem também se destaca nessa obra, pois diferente do que vemos em maioria, ela foi gravada primeiro para que os personagens fossem animados à partir dela.
Lembre-se: Akira foi lançado em 1988, para a época cada um desses detalhes e informações de produção soavam como absurdo e, parando pra pensar, até hoje é surpreendente o trabalho e o cuidado que a equipe por trás de Akira teve com a adaptação para o longa. Não é à toa que Akira se tornou referência para a grande maioria das obras que vemos a partir daí.
Qual é a relevância de Akira para o Ocidente?
Akira e sua história possuíam elementos que os norte-americanos adoravam na época: ficção científica, humanos super poderosos e um traço que não reproduzia tanto os estereótipos orientais. Tudo isso fez com que a Marvel abraçasse o projeto e o lançasse em sua versão colorida, fazendo com que os mangás, algo quase desconhecido até então, fosse completamente difundido nos Estados Unidos.
Artistas como Kanye West e Michael Jackson já referenciaram o anime em alguns de seus clipes musicais e até mesmo séries americanas usam da fórmula “crianças com poderes sendo cobaias do governo” para criarem seus enredos. Akira de longe se tornou, seja como anime ou em mangá, uma das obras mais influentes de todos os tempos e abriu caminho para que os animes que acompanhamos hoje em dia pudessem chegar até aqui.
Quais são as diferenças entre o mangá e o anime de Akira?
Sim, o filme de Akira acaba sendo muito confuso e se você for do tipo que não larga o celular pode acabar não entendendo nada do que a história tentou passar. Mas isso não é culpa apenas da desatenção de quem assiste, afinal a obra original – o mangá – possui mais de duas mil páginas.
Adaptar mangás para animes com inúmeras temporadas já não é uma tarefa fácil, imagina adaptar uma obra tão extensa e complexa em pouco mais de duas horas. É óbvio que grande parte do desenvolvimento do mangá ficou de fora do filme, o que dá um ar de que sim, “é tudo meio acelerado“. Basicamente adaptaram apenas metade do Volume 1 somado com alguns detalhes do Volume 6 para que o filme fosse produzido, até porque na época nem mesmo o mangá havia terminado.
Mesmo com uma das melhores narrativas da época, todos os pontos positivos da animação já citados acima e sendo uma obra de arte visual, se você gostou do filme (ou da proposta que apresentei à você até aqui), garanto que o mangá é muito melhor e mais completo, valendo à pena uma recomendação de leitura também.
Akira é um clássico, seja o filme ou os mangás e deixou um legado que até hoje inspira muitos artistas dentro e fora do Japão. Você já assistiu ao filme? Já leu os mangás? Ficou curioso para conhecer a obra? Deixe sua opinião nos comentários!
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