45 do Segundo Tempo: Elenco do novo filme nacional fala sobre palavrões, futebol e o sentido da vida
45 do Segundo Tempo: Elenco do novo filme nacional fala sobre palavrões, futebol e o sentido da vida
Elenco de Globais liderado por Tony Ramos conversou com a Legião.
O isolamento social pegou todo o mundo de surpresa, mas foi especialmente doloroso no Brasil. Um povo conhecido por ser amigável e acolhedor se viu distante e pensativo, o que logo refletiu na produção nacional. 45 do Segundo Tempo, o novo filme do Tony Ramos, dirigido por Luiz Villaça, ecoa este período introspectivo em uma história que respira vida, morte, futebol e amizade.
A Legião dos Heróis foi convidada a entrevistar o diretor e o elenco, que ainda conta com Cássio Gabus Mendes e Ary França. E o resultado foi uma conversa leve e divertida sobre os assuntos mais importantes e triviais, uma delicada harmonia muito presente no filme.
45 do Segundo Tempo conta a história de três amigos de escola que se reencontram depois de décadas após perderem contato. Cada um está passando por um grave momento de crise que abala o aspecto mais essencial de suas vidas — para Pedro (Tony Ramos), o seu legado; Ivan (Cássio Gabus Mendes), sua família; e Mariano (Ary França); a sua fé.
A graça da história está exatamente em ver como esse reencontro mexe com cada um deles, dando forças para que enfrentem o desafio de abraçar uma nova perspectiva. “O roteiro é tão bem colocado, tão bem desenhado, tem uma carpintaria clássica do Luiz tão bacana,” elogia Cássio, “Não tem tempo de se improvisar. Não tinha o porquê.”
Há um cuidado enorme nos diálogos de Villaça em construir seus personagens como verdadeiros debates sobre diferentes formas de viver a vida. Os amigos estão sempre dispostos a se ouvir, então conversas viram monólogos belíssimos cheios de emoção. “Muito bem desenhado,” nas palavras do ator. E para que tudo funcionasse de forma orgânica, os protagonistas precisaram levar essa conexão para fora das telas.
“A gente se conheceu muito,” explica Ary, “Porque a gente se conhecia assim, de trombada. Como os três [personagens] eram muito próximos, o Villa talvez por método, fez com que a gente se conhecesse muito bem. Então eu, o Cássio-san e o Tony Ramos… Nós ficamos muito amigos. Nós começamos a trocar confidência, trocar experiências… Aí fez com que a gente criasse uma intimidade muito grande.”
A arte de ligar o foda-se
Tal proximidade se traduziu em uma química incrível, que reluz na amizade entre os três. Mas quando a situação aperta, companheirismo sozinho não é capaz de segurar a barra. Encurralados, os personagens entram em um estado mental de profundo “foda-se”, agindo por impulso sem ligar para as consequências, desencadeando em uma série de situações engraçadas.
“A gente faz isso o tempo inteiro,” comenta Ary, “Não só a gente, todo mundo. Esse é o país do pendura, da improvisação. E às vezes realmente a gente se irrita e liga o ‘foda-se’, porque é o único jeito,” Cássio concorda com o parceiro de cena e ainda acrescenta que “no país que a gente vive, todas as dificuldades que todo mundo na sua vida passa, não tem saída. Você vai ter que ligar ele.”
E Pedro, personagem de Tony, é a prova viva disso. “A minha personagem está se defrontando com uma tomada de posição muito grave e aposta isso com os amigos para decidir, aos 45 do Segundo Tempo, [ o que fazer]. Todos os palavrões que ele conhece ele vai pôr para fora. Ele está se libertando,” declara o ator.
Em sua vida pessoal, ele revela não ter o costume de falar muito palavrão. Prefere deixar para momentos de necessidade, como ao topar na quina de uma mesa. Mas isso não significa que não os conhece muito bem. “Eu posso lhe garantir que eu conheço, no mínimo, 250 grandes palavrões,” afirma. E tem cenas hilárias e dolorosas no filme que deixam isso muito claro.
“Foi uma delícia ter falado e ter posto para fora estas dores e estes sonhos não realizados desse homem,” conclui. Mas Pedro não foi o único personagem a receber um ultimato da vida e Ary reflete que o nome do filme fala um pouco sobre isso: sobre aproveitar as oportunidades que ainda nos restam para agir.
“Eles estão aos 45 do Segundo Tempo, então não há mais tempo para conversinha fiada,” declara, “Não é porque o tempo acabou. É que o tempo está no fim. Porque 45, até o juiz apitar, tá valendo.”
Até o apito final
Desse momento tão angustiante do futebol, surge uma das cenas mais bonitas do longa. Uma verdadeira catarse emocional que só funciona porque Luiz Villaça, que também escreveu o roteiro, pensou no esporte como uma grande metáfora. “Eu coloquei esse futebol de pano de fundo para a gente discutir uma coisa que eu acredito muito mais que é a amizade desses três caras,” explica o diretor.
“E todos os assuntos que essa amizade traz para o filme e que a gente explora ela comicamente, mas aprofundando o tempo inteiro,” acrescenta, “Eu gostei outro dia que o Casagrande escreveu ‘O futebol deve ser levado como uma coisa séria, uma coisa social’, porque ele é uma metáfora da nossa vida.”
Além de ser extremamente importante na vida do Pedro, que é louco pelo Palmeiras, futebol também tem um lugar especial no coração dos próprios atores. Tanto Tony quanto Cássio e Ary são são-paulinos de coração! Cássio até mesmo levou uma caneca de seu time para a entrevista de tão apaixonado.
Pode ser uma coincidência, mas não poderia ser mais apropriado. Afinal, o time carrega o nome da cidade carinhosamente homenageada pelo longa, a grande São Paulo. Ao visitar suas memórias com a cidade em nossa conversa, Tony cita o nome de diferentes lugares que marcaram sua história — a Avenida Paulista, o extinto Cine Universo, o Estádio do Pacaembu, os bairros da Mooca e do Brás… Uma São Paulo muito pessoal e diferente daquela presente na vida de sua personagem.
“Foi uma escolha mesmo, em cima da personagem do Pedro, dono de uma cantina, dessa italianice que ele tinha. E a gente escolheu focar, né? Por a nossa lupinha no Bixiga e a região central,” explica Luiz Villaça, “Eu particularmente sou apaixonado na região central.”
Viver a vida
E navegando nesse cenário cheio de vida, que conta com o Mercado Popular e o metrô, os personagens precisam encontrar a resposta para a grande pergunta da trama: o que faz valer a pena viver a vida? Cada um chega a sua própria conclusão, mas o elenco parece concordar que uma das grandes alegrias da vida é ter com quem compartilhar.
“Tem tantas coisas, né? Mas eu acho que uma das fundamentais é ter alguém do nosso lado, um amigo, falando coisas que você precisa. Você falando para ele, ajudando, saber que tem alguém que te ama tanto e sem interesse. Seu amigo,” diz o Cássio e o diretor também concorda.
“São as pessoas que você encontra. São os olhares, os abraços. A gente é social. A gente tá aqui para se relacionar, para se olhar. Eu fico preocupado quando a gente se torna individualista, e não pensando em grupo. E a partir do momento que você tem um amor, de que forma ele seja, ou que você tenha um amigo, o que for tá valendo,” defende Luiz.
“Acho que o que é fundamental é você abrir o olho e perceber o que está na sua volta,” continua, “Abre o olho para prestar atenção no que você está olhando. Porque a vida tá aí.” Completando esse pensamento, Ary França ainda reforça a importância de estar sempre consciente do seu agora, para aproveitar cada momento. “Preste atenção em quem está ao seu lado. Preste atenção nos seus sentimentos, vê o que você quer. Antes que entre no 46, 47 [do segundo tempo], sem desconto,” alerta, “Se for para rir, ri agora, não perca tempo.”
Mas muito além do que procurar respostas prontas, Tony Ramos conclui lembrando que precisamos encontrar nosso próprio caminho acima de tudo. “Busca sempre, dentro de si próprio, as respostas. Porque se a gente pegar respostas só a partir da experiência de terceiros, a gente só vai ter espelhos e não o exercício da nossa experiência,” comenta. “Quando você encontra esse interior disciplinado, a vida fica respirável. E temos sempre que nos lembrar, como um poeta já disse, que a vida é um sopro, então vamos vivê-la.”
45 do Segundo Tempo está em cartaz exclusivamente nos cinemas de todo o Brasil.
Leia também: