Crítica: Yasuke, Primeira Temporada

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Crítica: Yasuke, Primeira Temporada

Por Gabriel Mattos

Yasuke, o novo anime da Netflix, abusa de elementos clássicos dos animes para reacender a memória do primeiro e único samurai negro do Japão. O que poderia ter se tornado uma tediosa palestra sobre a importância de uma figura histórica, se mostra uma aventura empolgante repleta de batalhas sangrentas, magia e carisma.

Yasuke mistura história com fantasia extravagante típica de animes

Ficha técnica

Título: Yasuke

 

Direção: LeSean Thomas e Takeru Satō

 

Roteiro: LeSean Thomas, Flying Lotus, Nick Jones Jr. e Alex Larsen

 

Estúdio de animação: MAPPA

 

Ano: 2021

 

Data de lançamento: 29 de abril (Netflix Brasil)

 

Episódios: 6

 

Sinopse: Uma garota com poderes sobrenaturais capaz de salvar o mundo é protegida pelo samurai negro de ameaças mortais.

A vida do primeiro samurai negro é marcada por arrependimentos

Forjando um samurai

Na trama, acompanhamos o retiro de um ronin vinte anos após a sua última batalha ao lado do clã Nobunaga. Sob o disfarce de um simples barqueiro chamado Yassan, ele acaba sendo recrutado para proteger Saki, uma garota com habilidades sobrenaturais cobiçadas pela tenebrosa daimyo que controla esse Japão alternativo.

De maneira semelhante a The Last of Us e Logan, a crescente relação de paternidade que floresce entre os protagonistas é o verdadeiro coração da história. Especialmente por conta de suas personalidades contrastantes.

A pequena Saki foge bastante do estereótipo de donzela em perigo. Tem um certo desejo de viver uma infância comum, mas entende suas responsabilidades. Além de saber muito bem se defender, ela é assertiva na hora de tomar decisões. Não precisa de Yassan, de fato, mas confia no samurai para evitar a solidão.

A relação de Yasuke e Saki é saudável e paternal

Enquanto ela é doce e determinada, Yassan é um cara cascudo, fechado e emocionalmente distante. Podem parecer características típicas de um arquétipo samurai, que normalmente são impostas sem muito propósito, mas os roteiristas fizeram questão de ancorar suas atitudes em arrependimentos de um passado violento.

Yassan se recusa a falar do que já viveu, mas é impossível fugir das lembranças. A princípio, esses flashbacks parecem desconexos entre si e em relação à narrativa principal. Surgem sem aviso, com um elenco de personagens próprio, e terminam sem explicar seu propósito. Como as peças de um quebra-cabeças, essas cenas não fazem tanto sentido sozinhas, mas juntas montam uma figura complexa que explica detalhadamente as ações do herói.

Potencial condensado

Apesar de refletir bem o presente contrastando a evolução do personagem, os segmentos no passado sofrem do mesmo problema: a duração curta de apenas seis episódios para uma temporada que se propõe a entregar uma aventura épica.

Flashbacks são acelerados devido a duração curta da temporada

Elementos essenciais para uma boa narrativa acabam sendo cortados em prol de avançar o enredo. Assim muitos personagens secundários não tem muito tempo para serem introduzidos e mudam de personalidade rapidamente de acordo com o tom da narrativa. Sorte que todos apresentam um carisma extraordinário que conquista em poucas cenas.

A trama se divide em dois arcos: a introdução e a conclusão. Não há tempo hábil para construir um merecido desenvolvimento. A primeira metade da temporada toma o seu tempo para introduzir os protagonistas e cativar uma simpatia com o público, o que deixa a segunda metade com a impossível tarefa de iniciar e concluir uma grande guerra em apenas três episódios.

Considerando a situação, o resultado é ainda mais surpreendente. Os roteiristas souberam exatamente o que priorizar e, se por um lado a história poderia ser bem melhor com uma temporada mais longa, o que temos ainda é muito competente e consegue entreter. Especialmente porque, mesmo sem o devido contexto, a ação dessa obra é fenomenal.

Carismáticos, personagens secundários sofrem com tempo de tela corrido

Entre bruxos, robôs e samurais

O estúdio apostou em injetar uma mitologia fantástica bastante rica para realçar a essência do que Yasuke se propõe a ser: uma mistura gostosa entre realidade histórica e ficção. Misturando elementos clássicos de combates samurais com magia e robôs gigantes, as batalhas de Yasuke são de tirar o fôlego.

Praticamente todo golpe é grandioso, com a capacidade de encerrar o combate, então qualquer deslize dos personagens pode significar o fim. Essa sensação remete às batalhas mais tradicionais de samurai. Há uma preocupação em preservar a pureza desse estilo de combate, em que a precisão de ataques é primordial.

Chega ser impressionante observar a constante harmonia entre a delicadeza samurai e a extravagância típica de animes. Mesmo quando as cenas ficam bastante frenéticas por conta dos movimentos ágeis dos combatentes, nunca fica difícil entender o que acontece na tela.

Combates do anime são hipnotizantes

Isso é o resultado de um design minucioso de personagens combinado com as melhores técnicas de animação. A Netflix acertou bastante ao contratar o estúdio Mappa, conhecido por grandes sucessos como Jujutsu Kaisen e a temporada final de Attack on Titan, que entregou um trabalho excelente neste quesito.

Conclusão

De modo geral, Yasuke é uma experiência fantástica, que acaba sendo afetada por decisões executivas que limitam as escolhas criativas do estúdio. A obra consegue resgatar uma importante figura histórica, apagada pelo tempo, e elevar ao mesmo nível de idolatria de outros gigantes, como Oda Nobunaga.

A mitologia estabelecida, apesar de mal explorada, dá margem a um futuro brilhante para o anime. As próximas temporadas podem apresentar um resultado ainda melhor, mas o que temos já satisfaz. Em um período onde estamos mais isolados do que nunca, histórias otimistas sobre a solidão são sempre bem-vindas.

Nota: 4/5

Nota: 4/5

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