Como os videogames estão se tornando os novos queridinhos do cinema
Como os videogames estão se tornando os novos queridinhos do cinema
Adaptar jogos é a próxima aposta de Hollywood
O reinado dos filmes de super-heróis pode estar próximo de acabar! Filmes inspirados em quadrinhos atraíram multidões aos cinemas ao longo da última década, com histórias independentes que se complementavam para construir um verdadeiro universo do entretenimento.
É um modelo bastante seguro de negócio, que mantém seu público interessado e sempre ansiando pelo próximo grande lançamento. Porém, parte do sucesso dos filmes de heróis vem da nostalgia de uma geração que cresceu lendo essas histórias. Conforme uma nova geração assume, as referências do cinema precisam se renovar e a próxima mina de ouro podem ser os videogames.
- Saturação da indústria
- Por que filmes de jogos não prestam?
- A redenção dos filmes de jogos
- A invasão dos videogames
Saturação da indústria
Se hoje os filmes de heróis reinam solitários, não muito tempo atrás rolou a era das adaptações dos livros. Liderado pelo sucesso colossal de mundos fantasiosos como Harry Potter e O Senhor dos Anéis, toda saga literária que conseguia cativar um público razoável ganhava sua versão para o cinema. O resultado foi uma rápida saturação do mercado.
Não demorou para filmes de qualidade duvidosa surgirem com certa frequência, como foi o caso da saga Percy Jackson. Propriedades menos impactantes, como Maze Runner e Divergente, falharam em conquistar o grande público. E práticas questionáveis, como adaptações de livros curtos divididas em várias partes (vide O Hobbit), acabaram dissipando o interesse e a confiança que restavam nessas produções.
Todo o investimento que antes ia para os livros, acabou parando nas adaptações de quadrinhos. O problema é que disputas de direitos autorais e uma forte repetição de fórmulas rasas acabou cansando o público mais geral. Para cada história verdadeiramente inspirada, como Logan, havia uma dúzia de bombas como Thor ou Homem de Ferro 2.
Claro que os longas inspirados em heróis ainda fazem muito dinheiro, mas os investidores começaram a estudar outros caminhos para ampliar o lucro da indústria de cinema. Especialmente agora que a indústria de jogos superou os ganhos dos demais segmentos do audiovisual. Porém, sabendo que não tem um jeito fácil de derrotar esse monstro de dinheiro, o jeito pode ser se juntar a ele.
Por que filmes de jogos não prestam?
Mas os produtores encontraram um obstáculo. A reputação dessas obras com o público não é muito boa. O receio é justificável: tradicionalmente, adaptações cinematográficas de videogames acabam gerando filmes, no máximo, medianos.
Há um enorme problema no modo em que grandes estúdios de cinema vinham encarando esses projetos nos últimos anos. Muitos cineastas viam games com certo desdém, alimentados por crenças infundadas que consideravam estre um meio infantilizado de entretenimento, bobo. Por consequência, não enxergavam o material de origem com respeito. Não demonstravam interesse em entender as particularidades de cada mídia.
Em uma entrevista ao Hollywood Reporter, Shawn Layden, presidente da divisão de jogos da Sony, ressaltou que esse olhar enviesado resultou na maldição dos filmes de videogames: “Você percebe só de olhar adaptações mais antigas que o roteirista ou o diretor não entendiam o mundo (do jogo) ou mesmo como games funcionam.” Produtores replicavam fielmente o enredo dos jogos sem o mínimo esforço. O resultado? Obras super genéricas como Far Cry: Fuga do Inferno (2008) e Heróis da Galáxia: Ratchet & Clank (2016).
Diferente de qualquer outro meio de entretenimento, os videogames introduzem um elemento essencial de interatividade que conecta as histórias aos jogadores de maneira mais direta. “O verdadeiro desafio é: como você pega 80 horas de gameplay e transforma isso em um filme? A resposta é, você não pega,” disse Layden.
Não é possível replicar interação com exatidão em outra mídia. Entretanto, ignorar essa parte crucial da experiência proporcionada por videogames é um equívoco comum. Como afirma Layden: “O que você faz é pegar a essência (da experiência) e escrever uma história específica para o público dos cinemas. Você não tenta recontar o jogo em um filme.”
Para realçar a jogabilidade, alguns jogos abrem mão de elementos imprescindíveis em um bom filme, como protagonistas complexos ou uma história elaborada. Cabe ao estúdio se atentar às necessidades de ajuste de cada obra, respeitando a essência ao mesmo tempo em que adiciona novidades que façam mais sentido para o cinema, evitando repetir o erro de fracassos assustadores como o recente Monster Hunter.
A redenção dos filmes de jogos
É preciso repensar o enquadramento para as cenas de ação, reconsiderar os personagens secundários, simplificar elementos narrativos redundantes e reforçar o desenvolvimento de um arco emocional para o protagonista. Estúdios que consideraram esses elementos vêm trilhando um caminho seguro para o futuro resultados bem mais agradáveis.
Recentemente, tivemos surpreendentes casos de sucesso de estúdios que fizeram o dever de casa e alcançaram um sucesso animador, como Pokémon: Detetive Pikachu (2019), da Legendary Pictures, e Sonic: o Filme (2020), da Paramount.
Um olhar mais crítico na hora da produção resultou em números bastante expressivos na bilheteria, uma conexão mais ampla com o público e demanda para sequências, que já se encontram em produção.
O problema da falta de tato dos grandes cineastas para entender as nuances dos games exigiu uma solução mais ousada: convidar profissionais da indústria de jogos para invadir o cinema. O primeiro grande fruto dessa filosofia será Mortal Kombat, que estreia em 20 de maio nos cinemas.
O longa foi produzido pela Warner Bros., que também controla o estúdio responsável pelos jogos da franquia. Em uma coletiva de imprensa com a Legião dos Heróis, Simon McQuoid, o diretor do filme, explicou sua estratégia para fugir da maldição dos games. Ele conversou com a equipe de produção o seguinte: “‘Imagine que a primeira coisa que surgiu desse universo foram livros. E desses livros alguém fez um jogo, alguém fez uma HQ, alguém fez outra coisa…’ O que eu estava tentando fazer era evitar que a gente caísse em uma armadilha, como aconteceu em outros filmes de jogos”.
A invasão dos videogames
Em 2022, veremos desdobramentos ainda mais incisivos dessa estratégia. É a vez da Nintendo e da PlayStation, duas das maiores empresas no segmento de jogos eletrônicos, mostrarem ao mundo seus projetos para o cinema.
A Big N, conhecida por ser super protetora com suas marcas, decidiu fechar uma parceria com a Illumination, estúdio responsável pela febre dos Minions, para lançar um filme animado de Super Mario Bros.
Decididos a não repetir os erros do passado, eles exigiram que Shigeru Miyamoto, o próprio criador do personagem, supervisionasse diretamente o projeto como produtor executivo, algo nunca antes visto. A combinação da expertise da Illumination em criar animações divertidas com o conhecimento profundo de Miyamoto da franquia Mario promete criar um sucesso sem igual.
Mas a PlayStation também não fica para trás. Em 2019, Shawn Layden anunciou que a Sony criaria um estúdio de cinema dedicado a transformar os seus jogos exclusivos de sucesso em filmes de grande orçamento. A PlayStation Productions, que reúne veteranos de ambas as indústrias, promete ser o principal estandarte de excelência desse ramo do cinema.
O plano é aprender com as maiores adaptações da história recente para dar início ao próximo grande universo cinematográfico. “Nós olhamos para o que a Marvel tem feito, pegando o mundo dos quadrinhos e transformando no maior evento do mundo dos filmes. Seria um objetivo arrogante dizer que vamos seguir seus passos, mas certamente estamos tirando inspiração disso.” revelou Layden.
A primeira grande estreia será Uncharted, uma saga de exploração que bebeu diretamente da fonte de Indiana Jones. Estrelado por Tom Holland, o filme chega aos cinemas em 11 de fevereiro de 2022 abrindo caminho para a invasão PlayStation nos cinemas.
Seu sucesso pode ser crucial para abrir os olhos dos demais estúdios para o potencial dos jogos, especialmente por surgir da primeira iniciativa de uma empresa de games a perfurar a bolha do cinema. E Layden sabe exatamente o fardo que carrega: “Ser a primeira entidade dos games a fazer algo duradouro e significativo em um meio completamente diferente é algo que eu gostaria de ver acontecer aqui com a PlayStation Productions.”
Não temos ideia de como o Xbox levará seus grandes jogos, como Halo e Gears, para as telonas, mas tudo indica que é apenas uma questão de tempo.
Em um mundo pós-pandemia, quando os cinemas reabrirem, a indústria precisará se reinventar para atrair um público acomodado pelos serviços de streaming. Apostar em games, segmento que cresceu ainda mais nesse período de crise, pode ser o toque de novidade que vai marcar a nova era do cinema.
Conheça os próximos filmes da PlayStation: