Tom Holland: O Homem-Aranha encontra uma casa no Universo Cinematográfico da Marvel
Tom Holland: O Homem-Aranha encontra uma casa no Universo Cinematográfico da Marvel
Com nova trilogia, o Homem-Aranha precisa se adequar à vastidão do MCU!
Atenção: Alerta de Spoilers!
E finalmente chegamos ao final da nossa série de artigos sobre a trajetória e a evolução do Homem-Aranha nos cinemas – bem a tempo de pegar a estreia de Sem Volta para Casa, o encerramento da primeira trilogia do herói no Universo Cinematográfico da Marvel. Porém, para comentar um pouco sobre esse filme, é necessário voltar no tempo cinco anos e lembrar de quando essa nova versão do herói deu as caras pela primeira vez.
Desde Capitão América: Guerra Civil, a Marvel Studios decidiu reformular completamente o personagem, sua mitologia e seus coadjuvantes, dando início a uma saga que pode até ser divisiva entre os fãs, mas que está longe de ser ruim como muitos pintam. Como disse no primeiro artigo da série, cada época tem seu próprio Homem-Aranha e ele simboliza um pouco do contexto cinematográfico contemporâneo – e com Tom Holland, não é nem um pouco diferente…
Parte de algo maior
Apenas dois anos depois do lançamento de O Espetacular Homem-Aranha 2, a Marvel Studios fez o impossível: o estúdio conseguira fechar uma parceria com a Sony e estava desenvolvendo sua própria versão do herói, com uma nova pegada ainda mais próxima da geração atual e dos filmes de super-heróis que estavam sendo produzidos na época. E é aí que Tom Holland entra como o Aranha mais jovem já apresentado nos cinemas.
Porém, desde sua primeira aparição, já tínhamos a sensação de que tudo seria diferente e que os filmes não teriam a mesma pegada individual da trilogia original de Sam Raimi ou da saga Espetacular de Marc Webb. Não, o novo Homem-Aranha era parte de algo maior, de um universo que já estava lotado de super-heróis e cuja introdução de um Amigão da Vizinhança seria apenas mais um elemento para a construção de uma franquia muito maior.
Não é à toa que o personagem surge em Capitão América: Guerra Civil, e não em um filme solo. Sua presença aqui é pequena e carrega um peso curioso, já que “não faz muito sentido” ver o Homem de Ferro recorrendo a um herói adolescente para impedir a equipe do Capitão América. E mesmo sendo um fanservice “barato”, deu origem ao Aranha mais “descolado” dos cinemas, que era fã de heróis e que faria de tudo para se provar entre os maiorais.
A presença do Aranha em Guerra Civil é quase como uma cena pós-créditos inserida dentro do próprio filme, que puxa diretamente para o retorno do herói em seu filme solo, que sairia no ano que vem. E aqui, já começam alguns dos “problemas” que muitos fãs criticam a respeito da franquia: não temos uma origem, não temos um Tio Ben e nem a máxima de “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades“… mas a trilogia subsequente daria conta disso.
Aprendendo a ser Amigão da Vizinhança
Em 2017, chega aos cinemas Homem-Aranha: De Volta ao Lar, vendido pela Marvel como o “filme indie mais caro de todos os tempos”. E sinceramente, não é difícil entender o motivo. Aqui, em vez de grandes aventuras muito mirabolantes envolvendo os Vingadores e grandes vilões, diminuímos o ritmo para encontrar um Peter Parker ainda adolescente, estudando no Ensino Médio e com uma pletora de coadjuvantes bem sagazes.
Na tentativa de se distanciar ao máximo do que já havia sido feito com outros filmes do herói, a Sony e a Marvel não traziam de volta nomes como Gwen Stacy, Harry Osborn ou Mary Jane Watson. Em vez disso, o filme até traz elementos da mitologia de Miles Morales, com Ned Leeds sendo a cara cuspida e escarrada de Ganke, o amigo do “novo Aranha” das HQs. E MJ, apesar dos paralelos com Mary Jane, é uma figura quase original.
E claro que não podia faltar um romance adolescente – motivo pelo qual temos Liz Allan, uma personagem quase esquecida dos quadrinhos mas que também já se envolveu romanticamente com Peter Parker por lá. Feche a conta com outro vilão inédito dos cinemas e temos o Abutre, uma figura ameaçadora e bem desenvolvida que tem sua própria história “trágica” de origem, ligações com Liz e um papel a cumprir nesse mundo povoado por super-heróis.
Claro que, sendo parte do vasto Universo Cinematográfico da Marvel, não podiam faltar referências a outros heróis e personagens marcantes do cinema. Temos aqui participações breves do Capitão América, mas o destaque vem pelo Homem de Ferro, que se torna o mentor e a grande inspiração de Peter, para o desgosto de muitos fãs. Mas devo admitir que, nesse primeiro filme, até gosto da participação de Tony Stark.
Tony está ali para desafiar Peter Parker e mostrar a ele que há outro caminho para seguir no heroísmo. É por isso que um dos momentos mais simbólicos do filme vem quando ele toma de volta o traje tecnológico que fez para Peter, o que faz com que o Aranha precise retornar às suas origens e usar um traje caseiro, enquanto enfrenta o maior vilão de sua carreira – ao menos até ali.
E toda a jornada desse Amigão da Vizinhança rende momentos ótimos nesse primeiro filme, por ser um herói que ainda está aprendendo seu lugar no mundo. Ele quer desesperadamente ser um Vingador e lutar contra grandes ameaças, e é por isso que o final, onde ele recusa seu lugar na equipe e decide ser um herói “pequeno” é tão bonito e significativo. Pena que isso foi por água abaixo em pouquíssimo tempo…
Um herói global
No ano seguinte, temos a estreia de Vingadores: Guerra Infinita, filme que serve como a apoteose de tudo que o MCU já havia construído até ali. Nesse momento, o Homem-Aranha está de volta para lutar ao lado do Homem de Ferro e dos Guardiões da Galáxia contra o maligno Titã Louco, mas seu desenvolvimento de personagem é bem deixado de lado em prol das cenas de ação memoráveis e um senso de “colisão” de todo esse universo.
Dito isso, a morte de Peter nos braços de Tony Stark é um momento bem emocionante que serve quase como uma escada para o papel que o Homem de Ferro teria que desempenhar em pouco tempo, em Vingadores: Ultimato. Ele, mais do que qualquer outro herói ou civil que é pulverizado pelo estalar de dedos de Thanos, marca a perda da inocência e o começo de um futuro opressivo, onde os heróis teriam que se juntar para deter o tenebroso vilão.
E isso leva ao retorno de Peter em Ultimato, ao lado de outros heróis. Aqui, é onde mais temos a sensação de que esse Aranha faz parte de algo muito maior que só ele, é onde temos aquela sensação emocionante de abrir uma HQ antiga e ver um evento que reúne todos os heróis desse vasto universo. É bonito e é eletrizante, e ainda resulta em um bom espelho com relação a Guerra Infinita, quando Stark morre e, entre os presentes, lá está o Homem-Aranha.
Deixando o lar para trás
E assim, temos o lançamento de Homem-Aranha: Longe de Casa, o segundo filme de sua trilogia. Porém, no frigir dos ovos, a verdade é que o longa mais serve como um epílogo de Guerra Infinita e Ultimato. Aqui, temos Peter Parker descobrindo um novo mundo após cinco anos “morto”, ao mesmo tempo em que precisa tirar férias para descansar de todos os acontecimentos recentes.
É aí que ele conhece Mysterio, enquanto está em uma road trip pela Europa ao lado de seus colegas de escola. O “novo herói” vem para enfrentar ameaças conhecidos como Elementais, seres de outras realidades que… bem, na verdade, eles são apenas criações do próprio Mysterio, que é um vilão e que quer se vingar do Homem de Ferro enquanto rouba criações do falecido.
Por conta disso, Longe de Casa acaba se tornando o filme mais frágil dessa trilogia, ao menos enquanto parte de toda a jornada do Homem-Aranha. É um filme que fala muito mais do legado do Homem de Ferro e como Peter deve assumir esse lugar, o que compromete totalmente a mensagem de De Volta ao Lar sobre ele aprender a ser apenas o Amigão da Vizinhança. Agora, ele precisa ser o Vingador.
Mas isso não quer dizer que o filme seja totalmente descartável ou ruim – embora a direção medíocre de Jon Watts sempre o leve para baixo. Temos uma trama bem interessante, conforme Peter Parker precisa conciliar sua vida civil e heroica, ao mesmo tempo em que o Mysterio de Jake Gyllenhaal está ali para roubar a cena a cada segundo, criando um personagem muito carismático e capcioso, apesar de ser mais um inimigo de Tony que de Peter.
E por mais que faça muita falta a presença do Homem-Aranha em Nova York, confesso que até gosto da mudança de ares e do clima de “viagem” pela Europa. Talvez, seria melhor se isso acontecesse depois que ele já estivesse mais consolidado como um herói nova-iorquino, mas é interessante ver ele sendo desafiado em outro cenário, até para dar uma variada nas franquias que sempre tiveram Nova York como principal cenário.
No fim das contas, Longe de Casa se balança entre a diversão descomprometida e a falta de um norte sólido que ancore a jornada de Peter Parker. O filme acaba sobrando na inclusão de personagens como Nick Fury e Maria Hill e quer a todo custo ser um festival de conexões que mostre como esse Aranha está habituado ao MCU. E por mais que haja coisas boas no caminho, o resultado final é aquém da potência do personagem.
A verdadeira história de origem
E isso tudo nos leva, obviamente, a Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, o mais recente capítulo da saga, que serve como um desfecho oficial para essa primeira trilogia do herói no MCU. Lançado em um ano onde a Casa das Ideias já estava emplacando fortes estreias, como Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis e até o divisivo Eternos, o novo longa era, sem dúvidas, o mais esperado do ano.
Os fãs compraram a ideia de imediato, mesmo com incontáveis vazamentos e com a Sony mantendo uma aura de segredo quase ridícula, já que todo mundo sabia o que iria acontecer e quais personagens estariam no filme. Mas mesmo assim, isso não importa. O filme chegou e foi um sucesso absoluto – e já está no caminho para se tornar a maior bilheteria dos cinemas em tempos pós-pandemia.
Mas o que faz dele tão especial? Acima de tudo, Sem Volta para Casa é uma redenção da franquia e de todos os problemas apontados pelos fãs ao longo dos anos. Mesmo com a participação do Doutor Estranho, nós sempre estamos acompanhando a jornada pessoal de Peter Parker – e é muito honesto como o filme explora essa trajetória como uma história de origem, ou melhor, como a verdadeira história de origem desse personagem.
Se nos filmes anteriores, Peter está sempre duvidando de si mesmo e se escorando em outros heróis – precisamente, um certo Homem de Ferro -, aqui, ele tem a chance de trabalhar sua própria construção. E é até interessante ver que existem algumas mudanças consideráveis que dão a volta por cima em certos erros da franquia. Por exemplo, May Parker se torna uma “substituta” de Tio Ben na origem do herói, e isso rende cenas emocionantes e devastadoras.
Porém, o curioso é a forma como o filme consegue incorporar elementos das outras franquias. A princípio, temos os vilões dos Aranhas anteriores retornando para formar uma super-equipe – Duende Verde, Dr. Octopus, Electro, Lagarto e Homem-Areia, todos reunidos trazendo consigo vários elementos e referências da trilogia original e da saga Espetacular. E isso é só o aperitivo para a chegada deles, os Homens-Aranha originais.
O retorno de Tobey Maguire e Andrew Garfield é bem intrigante porque serve para fazer o choque de realidade entre essas versões e mostrar o quanto elas são diferentes, ao mesmo tempo em que suas trajetórias sempre foram pontuadas pelos mesmos elementos – a perda de um ente querido, os problemas de confiança e a necessidade de ter uma vida “normal”, mesmo que sejam super-heróis.
É aí que o filme nos pega de jeito e mostra, com todas as letras, como esses Homens-Aranha são produtos de seus tempos. Não há uma versão melhor que a outra – os três são facetas da mesma figura lendária e mitológica criada nas HQs há quase sessenta anos, com mudanças que se adequam ao tempo em que cada um de seus filmes foi lançados, às suas franquias e ao status quo dos filmes de super-heróis ao longo de duas décadas diferentes.
E é até bonito pensar que esse filme é lançado pouco antes do primeiro Homem-Aranha completar vinte anos de lançamento. É uma homenagem ao legado de Andrew Garfield e Tobey Maguire e serve até para fechar pontas soltas de cada franquia – sabemos que Peter/Tobey finalmente “fez funcionar” com Mary Jane Watson, da mesma forma que Peter/Andrew aprende a superar a morte trágica de Gwen Stacy.
Mas isso não tira o peso da jornada de Tom Holland como o herói. Agora, ele mais uma vez é um herói anônimo, o Amigão da Vizinhança que faz as coisas do jeito certo não só porque quer reconhecimento, fama ou um lugar entre os Vingadores, mas sim porque ele sabe que essa é sua responsabilidade e porque ele tem o dever moral de empregar seus poderes para salvar pessoas.
Desse jeito, a Sony e a Marvel Studios conseguem entregar um final de trilogia satisfatório, mas que na verdade é um “ponto de partida” para o herói clássico que já conhecemos e amamos, o herói que se sacrifica pelo bem dos outros e que está disposto a deixar que seus amigos se esqueçam completamente dele, se isso os deixar seguros. É o início de uma nova era para o Homem-Aranha.
Com isso, chegamos ao fim dessa série de artigos e dessa jornada pelo legado de Peter Parker nos cinemas (e vale lembrar que essa jornada não acabou, já que Kevin Feige já confirmou a produção de Homem-Aranha 4, que dará início a uma segunda trilogia com Tom Holland). Um herói desse porte merece ser lembrado por suas conquistas e, mais do que isso, merece ser celebrado por todo o impacto que ele já causou no mundo.
Homem-Aranha: Sem Volta para Casa está em cartaz nos cinemas
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