Como as séries se tornaram a melhor coisa do Universo Cinematográfico da Marvel
Como as séries se tornaram a melhor coisa do Universo Cinematográfico da Marvel
As novas produções do Disney+ são um verdadeiro passo à frente na franquia!
Em 2021, a Marvel Studios finalmente deu um novo passo após um ano sem lançamentos por conta da pandemia do COVID-19. Com o lançamento de WandaVision, em janeiro deste ano, finalmente pudemos descobrir novas ideias e possibilidades através das séries exclusivas do Disney+. As produções seguintes não deixaram barato, com Falcão e o Soldado Invernal sendo uma incrível exploração desses personagens em um contexto geopolítico e Loki nos oferecendo um começo muito sólido e empolgante.
E é verdade que as séries vieram para ficar – nós teremos inclusive produções focadas em apresentar novos heróis e heroínas para o Universo Cinematográfico da Marvel, a exemplo de Ms. Marvel, Mulher-Hulk e Cavaleiro da Lua, que já estão sendo produzidas. Com isso, podemos ver a importância desse movimento para a franquia, e me arrisco a dizer que essas produções logo estarão tendo tanta importância quanto os filmes. Aqui, venho defender a tese de que as séries do Disney+ foram a melhor adição ao MCU em anos!
- WandaVision: Uma análise do luto e do trauma
- A força do legado em Falcão e o Soldado Invernal
- Loki abre as porteiras do Multiverso
- O que ainda está por vir
WandaVision: Uma análise do luto e do trauma
Seguindo o cronograma original da Marvel Studios, WandaVision sequer seria a primeira série lançada, já que sua estreia estava programada para o final de 2020, após Falcão e o Soldado Invernal. Porém, após atrasos na produção e outras mudanças bruscas motivadas pelo Coronavírus, a série foi “passada na frente” e estreou em janeiro de 2021, com seus nove episódios e muita lenha no fogo para teorias e especulações de fãs.
É possível sim dizer que a produção foi vítima de uma expectativa muito diferente do que ela própria se propunha a fazer – basta lembrar das várias teorias envolvendo a aparição do demônio Mephisto e a quantidade de fãs que ela frustrou ao não seguir essa rota. Contudo, o que torna WandaVision única e essencial é a forma como conduz a sua protagonista em uma jornada verdadeiramente transformadora, abordando temas como luto e trauma.
Não há dúvidas de que Wanda Maximoff é uma personagem trágica que já comeu o pão que o diabo amassou no Universo Cinematográfico da Marvel. Sempre deixada de lado nos filmes de equipes, ela nunca teve muito espaço para se desenvolver até agora, e na série ela parte no caminho que a leva a se transformar na Feiticeira Escarlate, assumindo a alcunha dos quadrinhos (e um visual mais fiel) que muitos esperavam ver há anos.
Mas mais do que isso, a série se aprofunda mesmo nas tragédias de Wanda, desde a perda de seu irmão ao caos que ela causou na Guerra Civil e, principalmente, a recente morte do Visão. A série leva a personagem a confrontar os aspectos mais sombrios de seu passado – e com isso, usa uma brilhante antagonista como Agatha Harkness, que não seria tão fantástica caso não fosse interpretada por uma atriz tão competente quanto Kathryn Hahn.
Junte isso a uma estética baseada nas sitcoms através das eras, WandaVision certamente veio como um choque para quem esperava algo mais “convencional”. E por mais que os dois últimos episódios tenham voltado ao estilo tradicional que estamos acostumados do MCU, ainda é impressionante que uma série da Marvel, divulgada em um canal oficial da Disney, tenha se aprofundado em temas tão “maduros”.
Tudo isso faz com que, mesmo que não tenha sido de acordo com os planos, WandaVision foi um ótimo começo para essa iniciativa das séries no Disney+. É uma forma diferente de enxergar esse universo, dando espaço maior para uma personagem que sempre ficou no escanteio, além de apresentar conceitos que serão bem importantes para o futuro, como a magia de Wanda, a S.W.O.R.D. e a própria Monica Rambeau.
A força do legado em Falcão e o Soldado Invernal
O sucesso de WandaVision não nos preparou para o que viria em Falcão e o Soldado Invernal. Dando sequência aos eventos apresentados em Vingadores: Ultimato, a série nos mostra Sam Wilson e seu dilema em aceitar o seu novo papel como Capitão América, mesmo após ter recebido a benção (e o escudo) das mãos de Steve Rogers. E aqui, podemos ver como a Marvel não tem medo de ir fundo em algumas colocações e ideias.
Primeiro porque, mesmo sendo uma série norte-americana, vemos aqui uma discussão bem ampla sobre o papel do Capitão América como uma figura imperialista, melhor representado em John Walker, que acaba assumindo o posto do Sentinela da Liberdade com o aval do governo dos Estados Unidos. E a partir daí, nós voltamos ao clima de thriller político que foi apresentado pela primeira vez em Capitão América: O Soldado Invernal.
Sam inclusive é confrontado com a ideia de que já existiram supersoldados negros que foram ameaçados, esquecidos e menosprezados pela pátria que jurou protegê-los. A inclusão de Isaiah Bradley é algo muito importante para a franquia, principalmente porque é a primeira vez que a Marvel Studios discute o tema do racismo e do preconceito racial com tanta ênfase narrativa.
E é claro que o próprio Bucky Barnes também acaba ganhando sua própria trama – uma trama que, assim como a de Wanda em WandaVision, envolve o trauma deixado pelo passado. A diferença é que o trauma de Bucky é causado (em grande parte) por suas próprias ações, enquanto agia como Soldado Invernal. Tudo isso dá espaço para que ele possa encontrar sua redenção definitiva, tanto aos olhos do público quanto em sua própria consciência.
É interessante notar que a série também deixa claro como a Marvel sabe a importância de cultivar novas gerações de heróis – afinal de contas, “heróis eternos” podem funcionar nos quadrinhos, mas nos cinemas, os atores envelhecem e se aposentam. Por isso, é significativo que a primeira grande “passagem de manto” da franquia tenha sido justo com seu ícone de valentia, bravura e justiça, o Sentinela da Liberdade.
Loki abre as porteiras do Multiverso
Agora, finalmente temos uma produção solo focada em Loki, o Deus da Trapaça que durante anos serviu como o principal antagonista dos filmes e aventuras de Thor. Dessa vez, longe do irmão trovejante, o Príncipe das Mentiras precisa se confrontar com seu próprio papel na história, e como isso afeta o tempo e o espaço onde está inserido. A série continua dos eventos de Ultimato, seguindo uma versão mais antiga do Loki (direto de Os Vingadores).
E embora só tenhamos visto o começo dessa produção, podemos levar em conta que a série já chegou abrindo portas e adicionando mais camadas de mitologia ao Universo Cinematográfico da Marvel, conforme somos apresentados à Agência de Variação Temporal, uma organização “secreta” que supervisiona toda a burocracia e os trâmites que envolvem a linha temporal.
Isso por si só já é uma proposta bem interessante para se acompanhar, mas a série também dá indícios do que está por vir com a inclusão do Multiverso – um elemento bem importante para as próximas produções do MCU, como por exemplo Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. O que quer que Loki faça junto da agência, parece que não deixará consequências muito saudáveis para essa “linha temporal sagrada”. como é chamada.
Porém, não para por aí. A julgar pelo que já foi introduzido no primeiro episódio, a trama deve seguir Loki em uma verdadeira caçada temporal enquanto busca por suas próprias “variantes” – ou seja, versões do próprio Deus da Trapaça perdidas ao longo do tempo e do espaço, que ameaçam a criação de um Multiverso e a destruição da ordem pela qual o AVT prega.
E isso já começa a mostrar os efeitos psicológicos no próprio Loki, como na fantástica cena em que ele é forçado a ver todo o seu “futuro” a partir dali, com a morte de Frigga e Odin e o seu brutal assassinato pelas mãos de Thanos. É um momento fantástico de metalinguagem – algo que WandaVision já tinha feito em seu penúltimo episódio – onde o personagem é confrontado como aquilo que já sabemos, mas ele não.
Através disso, a série pretende se aprofundar em temas bem complexos e que não vemos sendo debatidos em filmes de super-heróis, como o mito do livre-arbítrio e determinismo. Loki está forçado a viver o mesmo ciclo e ser um vilão para sempre – então, ele precisa “quebrar as amarras” do destino para que possa finalmente viver como uma divindade – e dessa vez, o Deus das Histórias, e não da Trapaça…
O que ainda está por vir
E engana-se quem acredita que isso não deve aumentar ainda mais nos próximos anos. Já em desenvolvimento para o futuro, temos séries como Mulher-Hulk, Gavião Arqueiro, Ms. Marvel, Cavaleiro da Lua e Coração de Ferro, todas produções que devem apresentar novos personagens – tanto em papéis principais quanto secundários – dando origem a uma nova geração de heróis no Universo Cinematográfico da Marvel.
Com isso, as séries têm a chance de colocar o dedo na ferida e discutir temas ainda mais importantes, como toda a questão de intolerância religiosa e xenofobia nas histórias de Kamala Khan ou até mesmo problemas relacionados a transtornos psicológicos na aventura de Marc Spector. É a chance de se aprofundar mais nesses personagens e nos microcosmos onde eles habitam, de uma maneira que os filmes nunca conseguiram.
Afinal de contas, a lógica é simples: Essas séries possuem, geralmente, de seis a nove episódios. Cerca de cinco horas para contar uma história que, nos cinemas, seria limitada a duas. E para preencher o tempo entre as gloriosas cenas de ação ou os confrontos épicos, é preciso realmente desenvolver esses personagens: mostrar suas responsabilidades e seus anseios, trabalhar como eles se encaixam – e como são vistos – no mundo.
E isso porque nem estamos falando das séries que devem adaptar arcos e histórias mais amplas dos quadrinhos, que nem Invasão Secreta e Armor Wars. Essas duas prometem trazer a escala de crossover para o Disney+, o que certamente deve dar aos fãs uma dose mais cavalar de ação e aventura, ao mesmo tempo em que nos reunimos para discutir o medo do que está “escondido” na nossa sociedade e o uso inescrupuloso da tecnologia para fins nefastos.
Na mais singela opinião de quem vos escreve, acredito que os filmes vão precisar passar por uma mudança em seu próprio posicionamento para que possam “competir” com o trabalho feito nas séries. Felizmente, temos produções realmente promissoras a caminho, como Eternos, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura e Quarteto Fantástico. Resta saber como será a integração efetiva entre essas duas mídias.
Abaixo, veja todas as séries confirmadas da Marvel Studios a partir de Loki: