Review: Life is Strange True Colors Wavelengths erra ao se apegar demais ao passado
Review: Life is Strange True Colors Wavelengths erra ao se apegar demais ao passado
Capítulo extra de Life is Strange: True Colors decepciona com potencial desperdiçado
O universo de Life is Strange teve início em 2015, sob comando da Dontnod Entertainment, e conquistou muitos com a história de Chloe e Max. Diferente de muitas franquias dos videogames, a série não se agarrou apenas a sua protagonista original, e passou a apresentar tramas focadas em outros personagens, dando destaque para Sean e Daniel em LiS 2 e, agora, para Alex Chen em Life is Strange: True Colors.
Apesar disso, a DLC do jogo, Wavelengths, optou por explorar uma personagem secundária na trama principal mas já querida pelo público: Steph Gingrich. Inicialmente, a escolha parecia perfeita, dado o papel dela na trama e sua popularidade com os fãs. Ainda assim, o que o novo capítulo apresenta é uma história fraca que, embora tenha seus momentos, mais prejudica que acrescenta à personagem.
Ficha Técnica
Título: Life is Strange: True Colors – Wavelengths
Data de Lançamento: 30 de setembro de 2021
Desenvolvedora: Deck Nine
Distribuidora: Square Enix
Plataformas: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC
Gênero: Aventura gráfica
Modos: Single player
Um recomeço em Haven Springs?
True Colors começa com a chegada de Alex Chen em Haven Springs, no Colorado, onde a garota dará início a uma nova vida. Da mesma forma, Wavelengths mostra a chegada de Steph à cidadezinha, onde ela resolve permanecer após o fim de sua banda e de seu relacionamento com Izzie. A primeira parte do capítulo tem início aí, com a garota em seu primeiro dia como DJ na rádio local.
Como revelado na descrição do novo conteúdo antes de seu lançamento, toda a trama da DLC se passa dentro da rádio, dando ao jogador acesso a partes antes inexploradas do local, como a cabine de áudio e o depósito dos fundos. As adições ainda assim não são o suficiente para compensar pelo mundo que já se sabe existir do lado de fora, e é impossível não questionar o porquê dessa escolha. A todo o tempo, Steph permanece entre lidar com seus dilemas internos e seu novo trabalho, algo que deixa a desejar diante da promessa de vê-la do lado de fora, em contato com outros personagens apresentados em True Colors.
A maior perda, nesse sentido, é não desenvolver mais o relacionamento entre ela e Gabe Chen, irmão da protagonista do jogo base. O rapaz tem um destino trágico no título principal, mas em uma história que se passa anteriormente, esta seria uma ótima oportunidade de ver outros lados dele, assim como de Charlotte e Ryan. Todos são personagens importantes na jornada de Steph, mas suas interações com eles permanecem restritas às ocasionais mensagens de texto, bilhetes e, vez ou outra, uma ligação para a rádio.
Isso não é o bastante para estabelecer a relação deles com a protagonista de Wavelengths mais profundamente, ou sequer para mostrar mais do que já descobrimos jogando com Alex em True Colors. O problema se torna ainda mais grave diante do fato que, apesar de ser uma DLC do título mais recente da franquia, o novo capítulo parece mais interessado em revisitar o passado que desenvolver o que foi apresentado aqui.
O dilema central de Steph supostamente seria não enfrentar o passado e os problemas, escolhendo sempre deixar tudo para trás e seguir em frente sem lidar com o que aconteceu. Ao invés de utilizar seu relacionamento conturbado com Izzie e sua saída da banda, a história mal toca nesses pontos, dando destaque para a conexão da garota com Rachel Amber e Chloe Price, personagens do primeiro jogo da série que também protagonizam Before the Storm, derivado onde Steph apareceu pela primeira vez. A situação é um pouco melhor na versão de quem optou por deixar Arcadia Bay ser destruída, mas não deixa de parecer uma escolha ruim retornar ao passado ao invés de desenvolver tudo que foi apresentado sobre a protagonista da DLC em True Colors.
Este é o principal problema da DLC: apesar de sua premissa como recomeço em Haven Springs, a sombra de Arcadia Bay paira sobre toda a história. O novo capítulo parece incapaz de andar com as próprias pernas ou de desenvolver uma nova personagem sem depender completamente do que veio antes. E, embora seja interessante saber sobre o impacto que acontecimentos terríveis tiveram sobre outros personagens, é um desserviço a Steph que a história apresentada em sua DLC pareça tirar mais de suas camadas que aprofundar a personagem.
O problema de não seguir em frente
De certo modo, é irônico que o suposto problema da protagonista seja o maior problema do conteúdo extra. Tal como Steph na história, Wavelengths não consegue deixar o passado para trás, por mais que pareça tentar seguir em frente. Mesmo em uma nova cidade, com novos personagens e tramas, a DLC se recusa a explorar o novo, optando por permanecer presa ao que já é conhecido e querido pelo público.
As adições mecânicas são pequenas demais para sustentarem um capítulo que se passa sempre no mesmo local. Mudanças de estação servem para alterar o ambiente e deixá-lo menos cansativo, mas não é o suficiente para manter a loja e a rádio interessantes, e nesse aspecto o capítulo se beneficia de sua curta duração. Se True Colors é capaz de fazer o jogador querer explorar cada cantinho, Wavelengths falha nesse mesmo aspecto, fazendo apenas com que se queira cumprir os objetivos logo para seguir adiante.
Outra adição que destoa do restante da trama é o “Tinder” utilizado por Steph. Enquanto Alex possuía uma rede social e seu diário no menu, a protagonista da DLC tem um aplicativo de relacionamentos, que não só parece aleatório diante de sua jornada e dilema pessoais, como não acrescenta nada à história.
A DLC tem seus poucos acertos, discutindo temas importantes de modo coerente e delicado, como por exemplo ao lidar com a temática do Orgulho. A discussão de Steph na rádio com um ouvinte relatando sua reação quando o filho revelou ser gay foi um dos melhores diálogos apresentados. Ainda assim, os momentos realmente bons são poucos, e acabam perdidos no contexto de uma história que não se desenvolve.
Enquanto o grande acerto de True Colors foi abraçar o novo sem medo, Wavelengths é um passo para trás. A jornada de Steph merecia mais que fazer dela uma personagem que não progride nem aprende. Acima de tudo, a franquia parece precisar entender que a história de Chloe já foi contada — se apegar demais a ela só faz com que outras personagens incríveis não recebam o desenvolvimento que merecem.
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