Review: Forza Horizon 5 é feito sob medida para ser catártico
Review: Forza Horizon 5 é feito sob medida para ser catártico
Game de corrida de Xbox acerta em cheio entre acessibilidade, o desafio e a diversão
Forza Horizon tem um bom histórico de aberturas impressionantes, mas o título mais recente da franquia se destaca. Após mostrar alguns trechos de uma impressionante recriação virtual do México, as luzes se apagam e uma porta se abre.
A cena mostra carros sendo transportados para o país direto do Reino Unido, em enormes aviões cargueiros que sequer se dão ao trabalho de pousar. Ao invés disso, cabe ao jogador apertar um botão para lançar seu veículo aos ares, abrir um paraquedas e cair de cabeças na primeira corrida, em uma longa descida ao lado de um vulcão ativo.
Desde o início, Forza Horizon 5 deixa claro seus objetivos: criar uma aventura memorável que combina visuais ultrarrealistas e premissas meio absurdas em um verdadeiro playground de possibilidades para se divertir.
Ficha técnica
Título: Forza Horizon 5
Desenvolvedoras: Playground Games e Turn 10 Studios
Publicadora: Xbox Game Studios
Plataformas: Xbox One, PC, Xbox Series X | S e Xbox Cloud Gaming
Lançamento: 9 de novembro de 2021
Gênero: Corrida
Modo: Single-Player, Multiplayer Competitivo Online, Multiplayer Cooperativo Online
Em Ritmo de Festa
Forza Horizon conquistou seu espaço com lançamentos espaçados que usam as precisas mecânicas de simulação de Forza Motorsport em contextos mais leves. A série já passou pelos Estados Unidos, Itália, Austrália, Reino Unido, e agora chega ao México. O país latinoamericano é uma escolha tão acertada para a ambientação que é até curioso que não tenha ocorrido antes, visto que a imagem popular dos mexicanos – como um povo festivo e caloroso – casa perfeitamente com o espírito do Horizon Fest, o fictício festival de música e automobilismo que mais soa como um Lollapalooza com carros.
Localizados no interior da Inglaterra, os desenvolvedores da Playground Games não escondem seu fascínio pela flora e pela cultura do México. Nas mãos de (muitos) outros estúdios, isso poderia acabar soando meio preconceituoso, mas aqui apenas dá um gostinho de aventura exótica que beneficia demais o game.
Mais do que em qualquer um dos antecessores, Forza Horizon 5 é uma grande celebração da cultura automobilística, do país, e até mesmo da noção de ter um espaço seguro virtual em meio às desgraças que assolam o mundo real. Essa abordagem norteia todas as interações que o jogador encontra, como a locutora das rádios ou os NPCs que sempre parecem muito entusiasmados em conversar com você.
O game é, praticamente, uma máquina de felicidade. Não só há missões completamente absurdas, como correr contra um gigantesco avião de carga ou jogar um carro alegórico de cima de um penhasco, como também a excelente seleção de músicas sempre exaltam a adrenalina e a diversão. Vagar pelas estradas tentando quebrar recordes de velocidade ao som de Dua Lipa ou Lil Nas X ajuda a aliviar qualquer dia estressante.
Tudo é marcado por um otimismo que, sim, soa um pouco irreal, mas que caí deliciosamente bem no momento atual, e cria uma sensação de maravilhamento com as várias possibilidades que o vasto mundo aberto oferece. Talvez não seja impossível, mas com certeza é muito difícil ficar triste com Forza Horizon 5.
Carteira de Motorista
O game é feito sob medida para entreter e divertir, o que poderia ser um obstáculo para o desafio que as corridas oferecerem. Acontece que, em meio às incansáveis discussões sobre o tema, a Playground Games entendeu perfeitamente qual é o melhor jeito de criar uma curva de aprendizado que valoriza as particularidades e necessidades únicas de cada jogador.
Ainda que tenha um motor de simulação de realismo obsceno, não só visual como também de física e mecânicas, Forza Horizon 5 coloca todos no mesmo pé no início. As dificuldades são automaticamente ajustadas para os níveis médios, e há uma lista considerável de assistências de direção ativadas para que ninguém realmente precise se matricular em uma autoescola para poder curtir o game.
Os mais experientes, munidos de seus volantes e telas múltiplas, podem simplesmente optar por desativar tudo logo de cara, atingindo o status de simulação logo cedo, mas o estúdio não quer que essa seja a experiência do jogador médio ou casual. Passado esse ponto de partida justo, o jogo quer que cada player desenvolva suas habilidades e estilo a partir da tentativa e erro.
Isso fica bastante visível no botão de replay, que com um apertar do Y permite que você volte alguns segundos e refaça pequenos erros. Pode parecer uma solução fácil, mas é a partir disso que você gradualmente vai entendendo quando acelerar, frear ou fazer curvas mais abertas. Esses conceitos são assimilados sem o game te falar uma palavra, mas sim apenas incentivar a experimentação sem grandes penalidades, até que eventualmente o jogador não precise tanto da ferramenta.
Na prática, isso funciona ridiculamente bem. Forza Horizon 5 pode ser fácil para iniciantes, mas é bastante desafiador de se tornar verdadeiramente bom. Ainda assim, a progressão da dificuldade é notável e bastante agradável. Além de todas as assistências, e um louvável menu de opções de acessibilidade, o game constantemente avalia sua evolução, te sugerindo aumentar a habilidade dos rivais ao ritmo que você passa a ganhar mais e mais corridas. Na grande maioria dos casos, a única diferença entre as dificuldades iniciantes e veteranas são os bônus de pontuação.
Essa abordagem não-punitiva combina com a temática otimista, e encoraja a tomar decisões mais ousadas que podem render momentos memoráveis. Não é preciso ser nenhum entusiasta: a sensação de acertar um drift com precisão, uma ultrapassagem arriscada ou então vencer oponentes de alto nível é catártica até para quem não sabe identificar o modelo do Uber na rua.
Velozes, mas não tão furiosos
De primeira, Forza Horizon 5 pode soar intenso, mas na verdade é um jogo bastante terapêutico. Parte disso se dá, claro, pelos visuais de cair o queixo. A fidelidade gráfica é marca registrada da franquia, e a série sempre testou os limites do fotorrealismo ao combinar carros detalhes ao ponto da obscenidade em belíssimos cenários abertos.
Tudo isso brilha ainda mais na nova geração, já que o jogo é o primeiro a se aproveitar do poder dos Xbox Series X | S. Por lá, com reflexos autênticos por ray tracing e a fluidez dos 60fps, tudo se torna tão realista que o social media da Legião dos Heróis conseguiu até enganar uma galera ao criar um anúncio falso de venda de carros só com fotos do game. Mas se você ainda não fez um upgrade (ou joga no PC), fique tranquilo: a versão de Xbox One é bastante competente, salvo pela ausência dos carregamentos instânenos que só um SSD pode possibilitar.
O México novamente se prova a escolha certeira pela sua enorme variedade de ambientações, que vai de praias, cidades históricas, densas florestas e estradas que cortam desertos áridos. É especialmente divertido ver quantos ambientes únicos o mapa conta durante uma corrida conhecida como Goliath, que atravessa o país inteiro em uma prova de resistência. O game só fica levemente abaixo do altíssimo padrão estabelecido pela Austrália de Forza Horizon 3, mas é tão variado que dificilmente cairá no tédio.
Essa variedade também pode ser observada nos objetivos. Por mais que a ideia pareça um pouco imprecisa, não é só de corrida que vive um jogo de carros – pelo menos não um de mundo aberto. Sim, há muitas disputas a serem vencidas, tanto em circuitos e estradas, mas há uma enorme lista de atividades que ajudam a desenvolver seu progresso no Horizon Fest.
Para quem cansou de brigar pelo primeiro lugar, há a possibilidade de buscar carros abandonados, esmagar centenas de placas de trânsito com bônus, quebrar recordes de velocidade em radares, saltar de lugares altos, fazer fotos promocionais para o evento e muito mais. Corridas são parte fundamental da experiência, mas ao invés do prato principal, servem como mais uma opção em um enorme banquete.
Forza Horizon 5 surpreende por conseguir tirar sua enorme megalomania de letra. Seu humor absurdo funciona, suas mecânicas complexas não afastam iniciantes, e sua curva de aprendizado soa sempre desafiadora na medida certa. É um game de corrida que agrada tanto os entusiastas de carros – que podem colecionar e babar em cada detalhe das máquinas – quanto quem só quer algo leve e divertido.
A linha entre o acessível e o desafiador é extremamente tênue, mas os britânicos da Playground Games caminham (ou correm) por ela com enorme facilidade, em uma experiência blockbuster que acerta no visual, nas mecânicas, no ritmo e no tom despojado. Seja disputando uma estranha versão de battle royale com carros no modo online, ou então desbloqueando cada uma das etapas do festival durante a campanha, a aventura mexicana de Forza Horizon 5 vai te deixar com um enorme sorriso no rosto.
Aproveite e confira: