Review: Famicom Detective Club entrega boas histórias, mas falha em se atualizar
Review: Famicom Detective Club entrega boas histórias, mas falha em se atualizar
Falta um pouco de consequências em The Missing Heir e The Girl Who Stands Behind.
Lançados originalmente em 1988 e 1999 para o Disk System pela Nintendo, a duologia Famicom Detective Club ganhou uma nova versão para o Nintendo Switch, chegando no console no último mês. Na trama dos jogos, o jogador assume o papel de um jovem detetive, tentando resolver dois mistérios no Japão.
O remake da franquia, desenvolvido pelo estúdio Mages, contando com a supervisão da Nintendo, trouxe novos gráficos, trilha sonora e foi totalmente dublado em japonês, tendo legendas em inglês. Podendo ser jogados fora de ordem, Famicom Detective Club: The Missing Heir e Famicom Detective Club: The Girl Who Stands Behind são vendidos em um pacote fechado (e com desconto) ou separadamente.
Ficha técnica
Desenvolvedora: Nintendo
Publisher: Nintendo
Plataformas: Nintendo Switch
Lançamento: 14 de maio de 2021
Gêneros: Aventura, Simulação, Visual Novel
Número de jogadores: 1 jogador
Os jogos
Em The Missing Heir (O Herdeiro Desaparecido, em tradução livre), o primeiro game da franquia Famicom Detective Club, você está na pele do jovem investigador que perdeu sua memória após um acidente estranho. De volta ao trabalho, ele precisa se lembrar do seu próprio passado, ao mesmo tempo em que tenta desvendar um assassinato.
A misteriosa família Ayahiro, que vive no interior do Japão, sofreu um grande baque quando a matriarca morreu em decorrência de problemas cardíacos. O que parecia ser uma mera fatalidade, no entanto, levanta desconfianças quando descobrimos que isto aconteceu na noite em que ela finalizava seu testamento — um momento em que todos os herdeiros estavam presentes.
Para complicar a situação, logo ficamos sabendo de uma lenda terrível que cerca esta família, que afirma que, supostamente, os mortos voltarão à vida para assassinar aqueles que tentarem roubar o tesouro dos Ayahiro. Conforme sua investigação progride, fica claro que isto não é apenas uma lenda, mas a verdade é bem mais terrível do que parecia.
Já The Girl Who Stands Behind (A Garota que Fica Atrás, em tradução livre) sequência do game que, cronologicamente, se passa antes de The Missing Heir, também é focado na investigação, mas agora a história possui uma temática mais sobrenatural e com elementos de horror. Neste game o protagonista precisa descobrir quem foi o assassino de Yoko, uma jovem estudante, cuja morte abalou todo o colégio.
A situação fica ainda mais peculiar quando descobrimos que Yoko investigava uma história sobrenatural sobre o suposto fantasma de uma garota ensanguentada que assombra a escola e aparece vagando atrás dos alunos.
É seu papel investigar o que está acontecendo, decifrar esse mistério, ajudar os estudantes a lidarem com o caos e o luto que os cerca, além de encontrar o responsável pelas mortes. Tudo isso enquanto lida com o suspense crescente que assola o colégio, bem como o suposto espectro que vaga pelos corredores.
Ainda que os jogos contem histórias diferentes, a jogabilidade é a mesma para os dois games. Sendo parte do gênero Visual Novel — ou romance visual, como também costuma ser chamado — os jogos não permitem que você controle o personagem livremente, contando a história através de textos e do diálogo com os personagens, ou das eventuais cut scenes que aparecem. Cabe a você escolher dentre as opções apresentadas, sabendo o que perguntar e para onde viajar para conseguir novas pistas. Caso você não esteja familiarizado com este gênero, é como se você estivesse jogando um “livro animado”, desfrutando principalmente da história que é contada.
Por serem tão parecidos, esta review vai abordar os dois títulos, tanto Famicom Detective Club: The Missing Heir quanto Famicom Detective Club: The Girl Who Stands Behind.
As histórias
A história dos dois jogos consegue ser interessante e bem coesa, apostando em estilos diferentes para agradar o jogador.
The Missing Heir apresenta uma investigação de assassinato clássica — que provavelmente vai agradar os fãs de Agatha Christie e de filmes como Entre Facas e Segredos –, ao mesmo tempo em que obriga o protagonista a tentar descobrir sua própria identidade. O resultado é uma mecânica interessante para o jogo (a função de lembrar) que também serve para conectar informações e desvendar a identidade do protagonista sem memórias. Isso resulta em duas histórias que se misturam, criando uma narrativa que fica mais divertida (ainda que clichê) conforme você avança.
Já o título The Girl Who Stands Behind aumenta o nível de suspense e entrega uma história que me divertiu mais, justamente por brincar com esse elemento do terror. Quando a camada de horror entra em cena, a investigação parece mais urgente, criando uma dinâmica que fez a trama ser mais envolvente. Fugindo da clássica intriga familiar, o ambiente jovem deixou a aventura mais jovial.
Uma vez que os jogos se sustentam na história que é contada, este elemento não poderia ser ignorado ou diminuído. Por sorte, os dois games trabalham bem a narrativa, mesmo que não apresente algo muito ousado ou inovador. Conforme você se aproxima da reta final do jogo, existem poucas surpresas na trama — caso você realmente tenha prestado atenção na investigação, claro — mas isso combina com a proposta dos títulos, então não chega a ser um problema.
Talvez o principal incomodo quando falamos sobre a narrativa sejam os personagens pouco memoráveis, que por vezes acabam aparecendo sem algo marcante ou que os realce, tanto no seu visual quanto na trama. Fica a impressão de que muitos estão apenas preenchendo um espaço para dar volume ao que é contado, aumentando um pouco as horas do jogo.
A atualização
Os dois games de Famicon Detective Club entregam personagens bem desenhados e cenários belíssimos. Ainda que a animação seja um tanto estática, o que já era esperado de um jogo Visual Novel, é admirável como eles atualizaram os gráficos e a estética dessas histórias clássicas para o Nintendo Switch.
Outra novidade que adiciona uma camada muito boa nos jogos é a dublagem. Todos os diálogos são completamente dublados em japonês, assim em cada cena você consegue sentir todas as emoções dos diálogos. Este recurso confere um aprofundamento ainda maior nesta história, fazendo com que o jogador realmente se envolva no que está acontecendo.
A jogabilidade
O problema é que a atualização dos jogos parou nas partes visuais. O que tira o brilho do jogo é a sua gameplay que, por falta de um termo melhor, parece ultrapassada. Veja bem, os títulos são clássicos que entregam boas histórias, agora repaginadas com uma estética moderna, mas as mecânicas do jogo continuam engessadas. É claro que, sendo do gênero visual novel, o jogo foca exclusivamente nas escolhas do jogado. O problema é que isso não parece importar.
Não existem consequências drásticas caso você insista em conversar com uma testemunha que está agindo esquisito. Você pode ficar vasculhando a cena mesmo quando não deveria. Você pode insistir em uma pergunta diversas vezes. O máximo que acontece é um diálogo um tanto ríspido ou uma resposta vaga.
No fim, independente do que você fizer, o final dos jogos sempre serão os mesmos, assim como as histórias que está sendo contada. Na prática, isso meio que significa que basta você apertar todas as opções que você vai conseguir concluir o jogo.
Levando em conta o momento em que estamos, com jogos cujas escolhas afetam drasticamente o rumo das histórias, é um tanto decepcionante não ter isso no jogo. O pior que pode acontecer é você ficar muito tempo travado em uma cena, buscando uma forma de ativar uma opção que te leve para a nova parte da história. Você não perde nada por simplesmente apertar todas as opções do menu — na verdade, em alguns momentos é somente quando você vasculha tudo é que a nova opção surge.
Além disso, temos as dicas em amarelo, indicando o que você deve selecionar para que o jogo avance. Ainda que não sejam tão frequentes, é um tanto frustrante que o jogo fique mostrando o caminho que você tem que seguir, sem deixar que você cumpra seu papel de investigador e realmente tenha que prestar atenção no que está rolando.
Sendo jogos de 30 anos, a forma de lidar com algumas situações e resolver alguns enigmas são um tanto paradas, mais uma vez desperdiçando o potencial da história que poderia ser jogada de uma maneira mais dinâmica e complexa.
Depois de algum tempo jogando, parece que tudo que você está fazendo é pressionando botões para que a narrativa prossiga, sem que o seu papel seja de fato relevante. A investigação é uma parte legal, mas se você pode ficar apertando os botões aleatoriamente até que a opção correta apareça, você de fato está jogando? Por vezes, os jogos Famicon Detective Club parecem te colocar na cadeira de espectador e não de jogador que realmente tem algum papel nos games.
A Nota
Com histórias interessantes, uma dublagem excelente em japonês e visuais bonitos, Famicom Detective Club: The Missing Heir e Famicom Detective Club: The Girl Who Stands Behind entregam uma atualização gráfica muito bem-vinda para esses jogos clássicos.
Infelizmente, o mesmo não pode ser dito da gameplay, que continua travada no passado, o que faz com que os jogos não se destaquem entre os visual novels mais modernos.
Apresentando escolhas que, no fim das contas, não importam, o desafio do jogo se torna encontrar os gatilhos rapidamente para testemunhar as boas histórias que estão sendo contadas. Felizmente, as narrativas dos dois games conseguem fisgar os jogadores, fazendo com que valha a pena insistir nos jogos.
Levando isso em consideração, o jogo leva 3 estrelas da Legião dos Heróis.
Famicom Detective Club: The Missing Heir e Famicom Detective Club: The Girl Who Stands Behind já estão disponíveis para o Nintendo Switch.
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