Falcão e o Soldado Invernal 1×06: Um Mundo, Um Povo
Falcão e o Soldado Invernal 1×06: Um Mundo, Um Povo
“Um cara negro de estrelas e listras”.
Atenção: Alerta de Spoilers!
Com seis episódios, Falcão e o Soldado Invernal é uma minissérie que é mais um filme de seis horas. Isso não diminui ou melhora a trama, mas é evidente que ela é um grande momento de transição para o Universo Cinematográfico da Marvel que não poderia ser feito nos filmes.
Falcão e o Soldado Invernal é a breve trajetória de como Sam finalmente abraça o manto de Capitão América e decide o tomar para ele. A série lida muito bem com como o vácuo causado pela falta do Steve Rogers em um momento tão delicado como o “pós-blip” afeta diversas áreas, mas focando principalmente no governo americano, que precisa de um símbolo; e Sam e Bucky, os melhores amigos do herói.
Ao mesmo tempo em que a série cita bastante Steve Rogers e seu legado, ela é, na verdade, uma história muito intrínseca à experiência de um homem negro tendo que escolher se irá carregar um manto cheio de história e que ele sabe que terá que lutar todos os dias para manter.
Sim, temos os apátridas, toda a questão da repatriação daqueles que voltaram, Barão Zemo, John Walker, Valentina, Bucky e tantas outras coisas e elementos na história, temos Sharon Carter se tornando uma vilã e temos as Dora Milaje. Tudo isso, contudo, serve um propósito muito claro: Sam Wilson finalmente aceitar ser o Capitão América.
Cada uma das tramas adicionadas na série serve para mostrar, definitivamente, porque Sam Wilson merece carregar o manto e, principalmente, como ele pode honrar a memória de Steve com o traje e o escudo, mas diferente de Steve Rogers, fazendo decisões políticas e discutindo a importância de causas sociais que afetam o mundo.
Toda a cena final em que ele fala com os senadores e as câmeras sobre a questão dos Apátridas, deixando claro que algo precisa ser feito não para o bem de alguns mas para o bem de todos, e que eles possuem poder para tornar o mundo um lugar melhor é um dos momentos mais inspiradores dos filmes da Marvel e não fica atrás de qualquer discurso sobre verdade e justiça do Capitão América nos quadrinhos.
É também muito interessante notar que, mesmo a série se chamando Falcão e o Soldado Invernal, e Bucky tendo um bom desenvolvimento na série – principalmente com o encerramento de sua trama com o Zemo e toda a sua jornada por redenção – ele está ali muito mais em um papel de apoio à Sam do que qualquer outra coisa.
Ser o apoio de Sam também não diminui nem um pouco a jornada de Bucky na série. Finalmente vemos ele conseguindo superar seus fantasmas do passado. Isso não significa que ele finalmente terá paz completa, todas as coisas horríveis que ele fez em seu passado ainda estão lá, mas isso não precisa prendê-lo mais. Por mais que nessa final Bucky tenha ficado um pouco mais de lado, toda a cena dele finalmente conversando e contando a verdade para Yori sobre a morte do seu filho é um dos momentos mais esperados da série desde o primeiro episódio e não decepcionou.
A série deixa o destino do herói em aberto – as possibilidades para o futuro de Bucky são bem grandes e seria interessante vê-lo em outras tramas, junto de outros heróis mais diferentes no futuro; mas também voltando para uma possível série ou filme do “Capitão América e o Soldado Invernal”.
Uma das coisas que mais me deixou confuso no episódio, contudo, foi como Sam e Bucky estavam “tranquilos” em trabalhar com John Walker e em nenhum momento qualquer dúvida sobre a sanidade mental ou capacidade dele estar em combate foi levantada. Como se ele não tivesse já matado alguém violentamente na frente de várias câmeras e não tivesse tido seus “privilégios” como membro do exército removidos.
Outra coisa que não fez muito sentido foi como Walker, aparentemente, aceitou totalmente que Sam se tornasse o novo Capitão América, sem falar nada sobre ou, no mínimo, um pequeno confronto sendo que, literalmente, no episódio passado ele tentou matar o antigo Falcão com o escudo do Capitão América. A impressão que fica é que uma ou duas cenas entre Walker e Wilson acabaram ficando de fora do corte final do episódio, causando essa sensação estranha de que algo ficou faltando.
Ainda sobre John Walker, ele aceitou o título de Agente Americano de Valentina Allegra de la Fontaine. Se ela está formando os Thunderbolts ou os Vingadores Sombrios, ainda não sabemos, mas certamente não será a última vez que veremos o anti-herói e a agente misteriosa.
A “maior surpresa”, que não foi muito surpresa desde o último episódio, é que Sharon Carter é o Mercador do Poder. A mudança na personagem desde que a vimos em Capitão América: Guerra Civil é bem brusca e ela parece ser uma pessoa totalmente diferente – e os fãs certamente vão criar várias teorias sobre o que isso significa e o que fez com que ela mudasse tanto.
A ligação de Sharon por trás, de certa forma, de Karli e os Apátridas também é bem interessante. Mesmo com motivações diferentes, as duas trabalharam juntas (até Karli roubar o soro do supersoldado) e segundo a jovem ruiva, Sharon queria “dominar o mundo” – uma motivação bem de supervilã, não é mesmo?
Honestamente, o fim de Karli pode até ter parecido anticlimático, afinal, ela era considerada a grande vilã da série – e a cena em que ela chuta o escudo de John Walker nesse episódio é incrível – mas desde seu início, Falcão e o Soldado Invernal nunca se propôs a trazer uma gigantesca batalha com Helicarriers caindo dos céus. E a reviravolta dela sendo morta por Sharon parece muito mais o começo de uma boa história de espionagem do que qualquer outra coisa.
A parte mais perigosa de Karli era como ela conseguia usar os ideais dos Apátridas para ir além e realmente machucar outras pessoas. Ainda assim, como vimos durante toda a série, ela não estava completamente errada e diversas pessoas ao redor do mundo estavam a ajudando, não por ela impor medo, mas por ela estar lutando por eles. Até mesmo Sam Wilson acreditava nos ideais da moça, mas não em seus métodos.
A cena em que Sam, já como o Capitão América, chega com o corpo de Karli em seus braços e com as asas abertas é belíssima e provavelmente vai ser lembrada como um dos quadros mais bonitos do Universo Cinematográfico da Marvel.
Ainda sobre cenas belas e emocionantes, Sam levando Isaiah Bradley para o museu do Capitão América e revelando toda uma ala em homenagem a ele é de levar qualquer um às lágrimas. Carl Lumbly é um ator excelente que consegue fazer cenas dramáticas como ninguém, porém também foi muito bom poder ver ele em um momento um pouco mais leve e descontraído antes, mostrando outras facetas do personagem.
Um dos meus maiores medos para Falcão e o Soldado Invernal era que a minissérie não conseguisse finalizar todas as suas tramas de uma maneira satisfatória. Claro que é o Universo Marvel e esses personagens vão voltar a aparecer em várias outras produções, mas para a série, é importante que eles pelo menos tenham um final para as histórias que começaram a ser contadas ali. E no fim, tudo se encerrou de uma forma bem sólida.
Todos os personagens passaram por uma jornada que os transformou e afetou de uma forma ou de outra e, quando eles aparecerem novamente no Universo Marvel, estarão bastante diferentes – e isso é algo muito bom.
Falcão e o Soldado Invernal foi uma grande e épica jornada, que deu um desenvolvimento enorme para dois personagens interessantes e cheios de história que nunca realmente haviam estado sob os holofotes anteriormente e viviam sob a sombra de Steve Rogers. Agora, contudo, Sal Wilson pode voar sob o sol como o novo Capitão América, tendo a certeza de que fará bastante justiça ao título de Sentinela da Liberdade – e Bucky Barnes pode finalmente começar a viver fora da sombra de seus próprios demônios.
Confira também todos os easter eggs e referências do sexto e último episódio da série: