Review: Arcane Ato 2 combina narrativa e visual para desenvolver a história do melhor modo possível
Review: Arcane Ato 2 combina narrativa e visual para desenvolver a história do melhor modo possível
Segunda parte consegue manter a qualidade, ao mesmo tempo em que se aprofunda nos personagens e em seu desenvolvimento
No último sábado (13), o segundo ato de Arcane finalmente chegou à Netflix. Dessa vez, os três episódios se preocuparam com as consequências da grande parte inicial da série, além de rearranjar as peças e preparar o palco para o que vem aí no ato final da produção.
A consequência disso é que, antes de mais nada, é preciso olhar para o Ato 2 pelo que ele é: a parte intermediária de uma história que ainda será concluída. Aqui, temos desenvolvimento de personagens, bem como da trama focada em Piltover e Zaun. Respostas e conclusões, no entanto, são em geral deixadas para depois, algo que, nesse caso, não é um problema.
O quarto episódio começa nos reintroduzindo aos personagens que deixamos no Ato 1. Vemos Jayce em um estado bem diferente, tendo ido de fracassado expulso da Academia de Piltover a renomado inventor e queridinho da população. O contraste, além de interessante, acaba se mostrando mais profundo que inicialmente aparente, o construindo como alguém que, apesar de ter boas intenções, também tem seus defeitos.
Nesse ponto, a série faz um excelente trabalho em apresentar Viktor como a contraparte de Jayce. Enquanto este último aproveita os benefícios de seu sucesso, ao mesmo tempo em que se envolve cada vez mais nas tramas políticas que controlam Piltover, é Viktor quem permanece dedicado à pesquisa dos dois, ao ponto da exaustão. Se o brilhante garoto propaganda da Cidade do Progresso tem tempo para festas e discursos, o zaunita não se desvia de seus objetivos em favor de outras distrações.
Isso também é muito bem abordado na parte visual da animação. Cenas como o discurso de Jayce, onde ele sobe ao palco com todos os holofotes sobre si, enquanto Viktor está atrás das cortinas, cercado pelas sombras, mostram que embora tenham trabalhado juntos, só um deles recebeu o reconhecimento por seu sucesso.
Os fãs vindos do jogo devem ter ficado ainda mais empolgados com esses elementos, que deixam os personagens cada vez mais próximos de como existem no jogo e na lore atual de Runeterra. Viktor é um dos grandes exemplos, com elementos como a garra mecânica que ele possui em League of Legends já sendo mostrados na nova leva de episódios. Ainda assim, quem se parece mais com a personagem conhecida e amada pelos fãs antigos certamente é Jinx.
Se o Ato 1 apresenta Powder, uma garotinha doce com uma vida difícil que comete erros terríveis apesar de ter as melhores intenções, apenas uma sombra dela existe em Jinx. Não é por acaso que a personagem aparece inicialmente em combate, atirando em todos ao seu redor, sejam amigos ou inimigos. A todo momento, o Ato 2 mostra o quão perdida Jinx está, com um estado mental que se deteriora cada vez mais.
Isso também é representado visualmente, em momentos breves que assumem a perspectiva da personagem de modo bem interessante. A série utiliza rabiscos, cores e aparições sinistras para apresentar ao público o mundo caótico que a garota vê, bem como os fantasmas que continuam a assombrá-la anos após a perda de sua família. Arcane utiliza todos os recursos de ser uma animação não só para construir algo belo, como também para adicionar à narrativa apresentada.
Vi é quem poderia se apresentar como o apoio que Jinx precisa para começar a se recuperar. As coisas, é claro, não são tão fáceis, e inicialmente a personagem é impedida de modo bem literal, já que foi presa após o Ato 1, ficando separada de sua irmã por anos após a separação traumática das duas.
Quando Caitlyn a liberta, ela finalmente tem a oportunidade de retornar a Zaun. Apesar de seus anos fora, e de todas as mudanças que ocorreram no local, a personagem ainda demonstra conhecer as ruas e vielas de onde cresceu, navegando caminhos obscuros e conversando com pessoas que vemos apenas brevemente na primeira parte da série. A aliança das duas, ainda que frágil, também serve para colocar Vi em uma posição complexa e contraditória, uma vez que, ainda que fosse alguém que odiava Piltover, ela trabalha junto com uma policial piltovense e retorna para seu lar completamente modificado, a distanciando da Zaun do presente.
Caitlyn também tem seus momentos nos novos episódios, mas a maior parte de suas cenas se destaca apenas ao colocá-la ao lado de Vi. As duas não poderiam ser mais diferentes, e é exatamente em seguir o modelo de opostos se atraem que a série acerta, permitindo que elas se complementem e se tornem uma dupla bastante eficaz, ainda que não convencional dentro deste universo.
Apesar das ameaças que a dupla enfrenta em sua jornada, não são os antagonistas óbvios que se destacam no Ato 2, mesmo que Silco convença com seu jeito ameaçador em cenas propositalmente desconfortáveis. O grande destaque da parte 2 é, na verdade, Mel Medarda. A conselheira não teve tanto tempo de tela no Ato 1, mas dessa vez teve sua chance de brilhar devidamente. É incrível ver a maestria com a qual ela influencia tudo e todos ao seu redor, muito além de conquistar o voto de um conselheiro com um presente. Silco pode ser uma ameaça direta, mas se engana quem não acredita que Mel pode ser igualmente perigosa.
Fica claro que o ponto principal digno de elogios da segunda parte de Arcane é o desenvolvimento de seus personagens. É ver como eles mudaram no período de tempo entre um ato e outro que captura a atenção em um primeiro momento, mas é vê-los mudando cada vez mais nos novos episódios que solidifica isso. Jinx se aproxima cada vez mais de um ponto sem volta, Vi aceita trabalhar ao lado de uma piltovense parte da força policial, Caitlyn fica cara a cara com a corrupção e desigualdade nas cidades-irmãs, Viktor se mostra cada vez mais determinado a fazer qualquer coisa por seus objetivos. É impossível não querer ver aonde os rumos tomados por eles aqui acabarão os levando no fim.
Como fã, a série se mostrou um prato cheio ao ir além das referências e easter-eggs, dando a oportunidade de o público ver esses personagens tão conectados na lore finalmente interagindo. Há algo de muito especial em ver a dinâmica entre eles em tela, principalmente quando ela é construída de modo natural e bem feito como a obra consegue fazer.
E, diante desses acertos, é inevitável a empolgação para a resolução de todas essas tramas. Que venha o ato final — e que ele consiga dar uma conclusão digna para uma produção que, até o momento, faz por merecer elogios em todos os aspectos, do enredo à música e a arte.
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