Queen of The Universe: Grag Queen conta tudo sobre como é ser a primeira drag brasileira no reality de canto da RuPaul
Queen of The Universe: Grag Queen conta tudo sobre como é ser a primeira drag brasileira no reality de canto da RuPaul
Conversamos com a rainha gaúcha que mostrou todo o glamour do Brasil para o mundo
A cultura drag invadiu a cultura pop. Depois do sucesso estrondoso de RuPaul’s Drag Race, vencedor do Emmy em diversos anos consecutivos, ficou difícil escapar da ascensão das drag queens. Elas dominam todos os espaços, seja no topo das paradas musicais ou nas revistas dos X-Men, e agora se preparam para conquistar o universo no novo programa do Paramount+: Queen of the Universe.
Produzido pelo próprio RuPaul, esta é uma nova competição de canto, estilo X-Factor, em que drag queens de dez países diferentes lutam pela coroa de maior drag cantora do universo. E logo nesta primeira edição, temos uma representante brasileira: a glamurosa Grag Queen, que conversou com a Legião dos Heróis durante uma coletiva de imprensa.
Grag acompanhou o programa desde o início e sempre foi uma grande fã de RuPaul, mesmo que não imaginasse que algum dia se tornaria uma drag queen. Então encontrar na bancada de jurados, além de Vanessa Williams e Leona Lewis, a campeã Trixie Mattel e a lendária Michelle Visage foi uma experiência inimaginável, segundo a competidora.
“Não só encontrar essa galera, e sim ser julgada. E sim estar numa competição que eu estava ali vulnerável à opinião delas e também [saber] que elas iam me ajudar a crescer mais era uma honra, mas era tipo um grande abacaxi que eu tinha que descascar. Porque ao mesmo tempo eu pensava muito no Brasil, né? Eu tenho que representar o meu povo, a minha comunidade do Brasil. E representar o Brasil não é uma coisa, né, fácil,” confessa.
Além da pressão inerente de representar o seu país e toda uma subcultura que há muito vem sendo subestimada internacionalmente, havia o complicado sentimento de nacionalismo manchado pelo clima político atual. “Eu sabia que a gente tava num momento horrível, que a gente deveria sim resgatar o nosso patriotismo, resgatar o nosso amor pelo verde e amarelo que nos foi roubado por um certo tempo, certo?”, pondera Grag.
Considerando que a arte das drag queens surge como um ato político, nada mais apropriado que usar desta arma para tentar lutar pelo orgulho de ser brasileiro nesses tempos difíceis. É o que defende Grag Queen com sua performance: “Eu acho que [arte] é a maior arma que a gente pode usar contra todas as coisas que vieram nos oprimindo ultimamente.”.
E nesta linha de resgatar os símbolos nacionais que a rainha brasileira, da pequena cidade de Canelas, no Rio Grande do Sul, monta a sua estética no programa. Logo no primeiro desafio do programa, cujo tema foi “This is Me”, “Esta sou Eu”, a artista incorporou uma estética bem carioca na sua roupa. “No look, a gente veio ‘This is Carnival’, ‘This is Brazil’, ‘This is Joy’, ‘This is Love’,” comentou gesticulando cheia de energia.
“Me senti incrível. Uma performer naquele palco carregando penas do Brasil e cantando uma música de Londres, o que também é muito ‘This is Me’, porque eu sou muita coisa diferente junta, mas que não dá pra parar de olhar. Eu queria mostrar que o babado é uma bagunça gostosa,” complementa.
Mas, para Grag, também foi importante mostrar para o mundo o lado mais cético e realista do Brasil, longe dos estereótipos que costumam ser exportados. “É muito importante mostrar pra eles o que é ser brasileiro, também. Que não é só alegria, só futebol, samba e caipirinha. A gente também tá tendo dificuldades, a gente está resistindo no momento atual. Então isso que eu levei.” Afinal, os gringos costumam ver o close, mas não vêem o corre que é ser brasileiro, um país marcado por hipocrisias. “Foi muito legal mostrar pra eles não só como é ser drag, e sim como é ser drag no país que mais mata LGBTQs do mundo,” acrescenta.
Neste primeiro episódio, que estreia hoje (9), as queens de todos os cantos do mundo foram desafiadas a interpretar uma música que as definissem e a escolha de Grag Queen foi um tanto peculiar — “Rehab”, de Amy Winehouse. “Eu amo cantar Rehab. Em qualquer karaokê, em qualquer ocasião… ‘Grag dá uma palhinha’ ‘Dó maior’,”respondeu bem humorada quando lhe perguntei o motivo por trás de sua escolha.
“E é nada mais, musicalmente, da minha carreira, mais This is Me, do que Amy e as influências que ela me trouxe. E essa música é demais! Eu já cantei em todas as minhas idades, em todas as minhas eras… A minha carreira musical, essa é a música que a Grag tá sempre cantando,” acrescenta cheia de orgulho.
A carreira musical começou há muito tempo, mas sua incursão no mundo das drags é muito mais recente. Quando eu perguntei como foi esse começo, a resposta estava na ponta da língua: foi influência da própria RuPaul. Mas ela não foi a única: “Também culpo as manas aqui do Brasil, Pabllo [Vittar], Gloria [Groove], Lia [Clark], que mostraram que poderia ser levado não só como diversão, mas também como trabalho”.
Por ser relativamente nova no mundo drag, Grag precisou correr muito para alcançar o padrão internacional. Os desafios começaram antes mesmo das filmagens se iniciarem. Segundo a cantora, a preparação começou um mês antes do programa começar a ser gravado e todas as participantes precisaram levar o seu próprio figurino. “Nada que eu vesti, nenhuma peruca eles deram. Tudo a gente levou,” revela, “Pensa chegar em Londres com a Sapucaí inteira roxa atrás de mim.”
Mas houve um lado positivo de toda essa correria.“A Grag acabou evoluindo muito em um mês: aprendeu a botar padding (enchimento), aprendeu a botar corset… Fez outros penteados, lentes,” comemora,”Então foi uma delícia porque a gente acabou amadurecendo a drag e treinando para chegar lá e arrasar.”
Seu esforço deu resultados, já que logo em sua primeira apresentação, a drag arrancou elogios dos jurados, algo que surpreendeu até mesmo a própria Grag. “Eu fui a primeira, né? Então não deu pra sentir se os jurados estavam de mau humor,” lembra, “Eu fiquei muito nervosa, mas não esperava. Principalmente do Brasil, não esperava toda essa aclamação.”
“Tava muito feliz. Confesso que eu tava muito naquela vibe ‘Ai, já venci por estar aqui’, ‘O importante é competir.’ Mas quando eles começaram a aclamar e dizer ‘Você tem potencial’, eu apertei o cintos e disse ‘Então vamos arrasar nesse babado.’ Se você está dizendo, Michelle Visage, quem vai falar o contrário?”
E Grag não arrasou sozinha porque, além dela, mais nove participantes de diferentes países competem pela coroa. Reunir tanta gente de lugares diferentes é uma oportunidade única de conhecer novas culturas e, para Grag, o mais incrível foi conhecer a representante da Índia, Rani Ko-He-Nur.
“É uma conexão doida. Quando eu pensei que eu teria no WhatsApp uma mana que é da Índia, que já participou do BBB, sabe? Ela também é trans. Como é ser trans na Índia? Como é gostar de drag na Índia, que eles não podem nem ter? Essa troca é muito gostosa,” conta.
Além de aprender com novas culturas, Grag diz também ter aprendido bastante com os jurados. Quando perguntei qual foi o conselho mais importante que ela recebeu, a resposta que obtive foi: “Te diverte. Deixa rolar, vai que vai,” revela, “Me ajudou principalmente no primeiro episódio que eu estava muito nervosa. Então eu disse ‘Mona, a única coisa que me disseram é seja você mesma’ e foi o que aconteceu.”
O resultado da evolução desta nossa guerreira brasileira você confere no Paramount+. Queen of the Universe chega ao streaming no dia 9 de dezembro, com novos episódios disponíveis toda quinta.
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