Ping Pong e Drama: Fabricio Pereira fala sobre a produção de mangá brasileiro
Ping Pong e Drama: Fabricio Pereira fala sobre a produção de mangá brasileiro
Sucesso estrondoso no Catarse surpreendeu até os editores!
O leitor brasileiro adora quadrinhos! Consome as graphic novels americanas de seus heróis favoritos e os mangás japoneses mais mirabolantes, mas quando chega na produção nacional, muitos nem sabem que ela existe. Mas os quadrinhos nacionais não só existem, como são de uma criatividade e qualidade fora do comum, como prova Ping Pong e Drama.
Escrito e desenhado por Fabricio Pereira, que você pode conhecer pelo nome artístico de Hataoh, este mangá nada tradicional conquistou o público com sua estreia em plataformas digitais e agora se prepara para fazer um lançamento físico de peso. Para conseguir publicar junto à editora IndieVisivel Press, o autor começou um financiamento coletivo no Catarse mirando na meta de R$4.500. Ele só não esperava conquistar essa grana em apenas 10 minutos!
Conversamos com o Fabricio para entender um pouco melhor como surgiu esse sucesso e o que podemos esperar de Ping Pong e Drama, um mangá inusitado sobre a vida de criança.
- O que é Ping Pong e Drama?
- Como é o mangá?
- O que esperar do futuro de Ping Pong e Drama?
- Novidades da versão física
- Como foi bater a meta em 10 minutos?
O que é Ping Pong e Drama?
“Crianças, pirulitos, ping pong… E um pouquinho de drama, só para finalizar.” É assim que Fabricio define o seu mangá. A trama se passa em uma escola tediosa, como qualquer outra, mas que no intervalo é dominada pela febre das tensas partidas de tênis de mesa.
Segundo o autor, este universo foi inspirado em suas próprias experiências no final do Fundamental. “O pessoal ia para a Educação Física, mas ninguém jogava bola. Todo mundo ficava só na mesa de ping pong,” relembra com certa empolgação, “No intervalo, fazia uma roda. Todo mundo ficava em volta da mesa para poder jogar. Era um negócio doido. Eu queria colocar esta sensação no meu quadrinho.”
E logo no primeiro capítulo, já somos introduzidos a esta euforia esportiva pelos olhos do protagonista da história, Lucas Kano, de apenas 8 anos, que está determinado a enfrentar um verdadeiro monstro nas mesas, o João Grande.
Como é o mangá?
Para entregar quadros dinâmicos que representassem bem o lado esportivo, Fabricio revela que buscou inspiração nas quadras de Haikyuu!!, o mangá de vôlei que é sucesso no mundo todo. Mas ele sabia que precisaria de um ingrediente especial para representar bem a experiência de ser uma criança que acha que tudo é o fim do mundo. E para esta pitada de drama, ele olhou para Kaguya-Sama: Love is War.
“Toda a base dramática deste mangá é muito legal. Ao mesmo tempo que é algo besta, banal… É amor, é um personagem gostando do outro. Só que é tratado de uma forma tão séria que fica ridículo! E por ser ridículo fica legal,” explica.
Ele viu certa semelhança com o jeito exagerado que crianças encaram situações cotidianas e aproveitou a oportunidade para dramatizar a comédia por meio do ping pong: “Toda parte dramática seria das crianças passando por esses dilemas.”
Retratar o cotidiano infantil foi uma escolha consciente para tornar sua história mais leve e divertida de se ler. “Eu gosto de mexer com essas referenciazinhas de criança porque eu acho um negócio muito louco,” discorre, lembrando que que em sua história, crianças usam pirulitos como se fossem fichas em um cassino.
Inclusive, esta visão extravagante das crianças da escola resulta em um dos visuais mais icônicos entre os personagens, o de João Grande, um favorito de Fabrício por ser muito divertido de desenhar suas feições exageradas. “Aquela sobrancelha do João Grande que vai do olho até a parte de trás da cabeça… A unha do pé, toda feia,” comenta o autor entre risos, “Inclusive eu acho que ele é um dos personagens mais queridos do pessoal.”
O que esperar do futuro de Ping Pong e Drama?
Apesar de se permitir ser mais cartunesco nos designs, Fabricio não pretende levar seu mangá de esportes para terras fantasiosas, com poderes especiais como é em Super Onze. A ideia é ser mais pé no chão para não tirar o foco das relações e histórias de cada personagem. “O que eu gosto muito é de ver metáforas visuais nos quadrinhos,” refletiu.
Esse foco em trabalhar relações sinceras vai ficar ainda mais evidente na próxima fase do mangá. “Mais adiante eu quero fazer com que os dramas pessoais das crianças sejam tratadas de uma forma um pouquinho mais séria,” revela com exclusividade, “Por exemplo, o João Grande é um pouco um vilão no começo. Eu quero mostrar como as crianças vão lidar com ele.”
Outra relação chave será entre Lucas, o protagonista, e Rafael, um personagem que apareceu brevemente em um flashback indo para outra escola. “Eu quero focar um pouquinho nisso e mostrar como o Lucas quer ser um pouquinho do Rafael.”
E para os fãs que anseiam por mais partidas iradas de ping pong, as coisas também prometem ficar mais emocionantes. “Eu quero adicionar uma trupezinha de vilãozinhos,” contou com um tom enigmático.
Novidades da versão física
Quem ficou curioso, pode conferir os três capítulos que já foram divulgados gratuitamente no Tapas. E a história continua na versão impressa, que contará com um total de cinco capítulos e muito conteúdo extra.
“Eu estou fazendo novas páginas. Estou mexendo com páginas que foram feitas antes. Vai ter um personagem novo que vai ser introduzido na versão impressa. Fora isso, uma galeria de convidados com artistas conhecidos,” adianta com muita empolgação.
Para o autor, ainda está caindo a ficha que a versão física será uma realidade. Quando lançou o projeto de financiamento, ele não esperava bater a meta antes do primeiro mês. Então, nos dez primeiros minutos, quando a meta foi alcançada, ele foi pego completamente desprevenido.
Como foi bater a meta em 10 minutos?
“Eu estava em live neste momento, com o editor da editora. E quando bateu a meta, o Leo, que é o editor, estava fazendo mistério,” lembra contente, “Ele abriu e falou assim: ‘Atualiza aí a página do Catarse.’ Eu fui atualizar, de boa, pensando: ‘Deve ter batido uns R$500, sei lá’ e estava em R$4.600,” comemora, “Eu entrei em choque.”
Ele ainda custa para acreditar em tamanho sucesso e prefere deixar para surtar quando a campanha acabar. “Esse negócio de ter batido em 10 minutos, foi a coisa mais improvável que eu podia imaginar,” confessa eufórico, “Se bater em uma semana era lucro… Caso batesse!” Agora, ele está dedicado em terminar os novos capítulos que farão sua estreia diretamente na versão impressa.
“Normalmente, eu terminou uma página em um dia,” revela, “Não dá para focar 100% no projeto ainda, então eu termino um capítulo em um ou dois meses.” Com a garantia de alguma segurança financeira, a ideia é aumentar o ritmo de produção para tornar as versões físicas um lançamento frequente. “Agora com o projeto, vou conseguir focar para entregar um capítulo por mês.”
Ainda falta mais de um mês de campanha e o autor já arrecadou o triplo do inicialmente esperado. Com o financiamento extra, Hataoh vai conseguir gerar mais conteúdo e já prevê novas metas para seus leitores e apoiadores.
No futuro, ele continua se vendo trabalhando em quadrinhos, mas caso surja uma oportunidade, ele diz que aceitaria trabalhar com storyboards de projetos de animação. “Inclusive, o pessoal da IndieVisivel está produzindo uma animação para divulgar a campanha. E eu fiz o storyboarding, com a ajuda do Leo. Eu me imaginaria fazendo algo do tipo,” acrescenta.
Por fim, após agradecer o apoio dos fãs, Hataoh deixou uma mensagem para quem sonha em lançar seus próprios quadrinhos: “Uma dica que eu daria é ‘Começa’, porque se você não começar, você não vai fazer. Sempre vai surgir alguma coisa e seu quadrinho não vai sair,” dispara, lembrando que isso aconteceu muito com ele antes de Ping Pong Drama emplacar, “E criem uma fanbase antes para não dar ruim depois.”
Ping Pong e Drama está previsto para lançar em versão física em dezembro deste ano. Apoiadores podem adquirir o mangá por R$48 na campanha do Catarse.
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