A Noite Nos Persegue, da Netflix, é o filme que Mortal Kombat deveria ter sido

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A Noite Nos Persegue, da Netflix, é o filme que Mortal Kombat deveria ter sido

Por Arthur Eloi

Querendo ou não, Hollywood está prestes a entrar na era das adaptações de games. De The Last of Us à Halo e Metal Gear Solid, muitas franquias estão com projetos de filmes e séries em desenvolvimento, e os fãs já ficam ansiosos com a qualidade dessas obras, visto que produções do tipo têm uma reputação bastante questionável. A expectativa era de que o novo filme de Mortal Kombat iniciasse essa era de ouro, prometendo uma adaptação adulta, fiel aos jogos e bastante sangrenta. O resultado foi, no mínimo, morno e decepcionante.

O longa é desconjuntado, com trama fraca, efeitos medíocres e personagens mal desenvolvidos. Ainda que os cenários e figurinos surpreendam, nem os Fatalities são memoráveis, e as cenas de luta são mal coreografadas e mal filmadas, algo especialmente triste considerando o quão talentoso o elenco é, repleto de artistas marciais de verdade.

É possível se divertir, claro, mas definitivamente não é um filme que fique a par do que foi prometido. Os fãs ficaram sonhando no quão bom Mortal Kombat seria se tivesse dado certo. Felizmente é possível sentir um gostinho disso, só que em uma produção da Netflix de 2018, feita na Indonésia.

O que A Noite Nos Persegue tem a ver com Mortal Kombat? De cara, ambos são estrelados por Joe Taslim, o ator que interpretou Sub-Zero – um dos poucos destaques da adaptação. Indo um pouco além, é perceptível que o filme indonésio entrega tudo que o blockbuster não conseguiu acertar: porradaria emocionante, bem coreografada e com litros de sangue sendo derramados.

Ator do Sub-Zero em Mortal Kombat (2021), talento de Joe Taslim não é desperdiçado em A Noite nos Persegue

A trama acompanha Ito (Taslim), um soldado da organização criminosa asiática conhecida como Tríade que, após um massacre em uma pequena vila, decide se voltar contra os demais mafiosos para proteger uma garotinha, a única sobrevivente da carnificina. Como retaliação, os líderes da Tríade mandam seus principais assassinos para caçar o soldado rebelde. O longa é escrito e dirigido por Timo Tjahjanto, diretor com reputação cult entre os fãs de sangrentas produções de gênero, por trabalhos como a antologia de terror V/H/S 2 (2013) e Headshot (2016).

Desde o ápice das produções de Hong Kong nas décadas de 1970 e 1980, há uma tradição na Ásia de filmes de ação de baixo orçamento, que compensam a falta de sofisticados efeitos especiais com atores treinados, direção criativa, e lutas ousadas e muito bem coreografadas. A Noite Nos Persegue se enquadra perfeitamente nisso. Enquanto o roteiro é morno, o filme dificilmente se torna tedioso, sempre jogando tretas viscerais e inventivas na cara do espectador.

Para quem gostou de Sub-Zero em Mortal Kombat mas achou que o personagem poderia ter sido melhor aproveitado, aqui fica claro como o potencial de Joe Taslim sequer foi explorado. O ator já havia feito seu nome ao coestrelar Operação Invasão, intenso clássico cult de ação indonésio de Gareth Evans. Dessa vez ele assume o protagonismo como um impiedoso assassino, enfrentando hordas de criminosos com doses iguais de brutalidade e esforço. A direção de Tjahjanto casa perfeitamente com as habilidades físicas do ator, e o resultado é um verdadeiro banho de sangue.

Em um momento, Ito invade um açougue que é usado de fachada para lavagem de dinheiro. Quando a briga esquenta entre ele e os guarda-costas de um dos chefões da Tríade, o protagonista cai na mão com tudo que tem direito: punhos, pistolas, facas, serras, ganchos e até mesmo pedaços de carne e osso. A ação é dirigida sem abusar de cortes, o que significa que os participantes realmente tiveram que se entregar para as cenas de porradaria. Para o espectador, isso significa momentos muito mais divertidos e imersivos, que demonstram bom uso do espaço, dos objetos e entregam violência de embrulhar o estômago.

Fatality: A Noite nos Persegue não é para os fracos de coração

Se as lutas e os Fatalities de Mortal Kombat foram fracos demais para você, A Noite Nos Persegue compensa demais. O filme já valeria a pena só para conferir Joe Taslim e Iko Uwais (Operação Invasão, Assassinos Wu), dois mestres do cinema de ação, saindo na mão. É ainda melhor quando essa briga é rodada em plano aberto, sem cortes para esconder socos falsos e atores despreparados, e com direito à armas, facas, correntes e serras circulares.

O longa foi a primeira produção da Netflix na Indonésia, e deixa uma lição muito valiosa para outras produções: quando se trata de ação bem feita, é preciso olhar para as obras asiáticas e seus cineastas. Esse ensinamento, inclusive, já deu as caras em Hollywood. É só observar, por exemplo, a franquia John Wick, dirigida por uma dupla de dublês inspirados por obras da Ásia.

A direção medíocre de Mortal Kombat é uma das grandes culpadas pelo filme sem sal que foi entregue, desperdiçando talentos genuínos como Joe Taslim, Hiroyuki Sanada (Scorpion), Ludi Lin (Liu Kang) e até mesmo Max Huang (Kung Lao), discípulo de Jackie Chan que sequer conseguiu mostrar suas habilidades na adaptação.

A sequência em desenvolvimento é a hora perfeita para a Warner Bros. trazer um diretor que realmente entenda como entregar porradaria honesta e bem feita. Com Timo Tjahjanto em Hollywood para comandar o remake norte-americano de Invasão Zumbi, ele com certeza é um dos nomes que saberia como aproveitar todo o potencial dos lutadores. Caso isso não aconteça, pelo menos A Noite Nos Persegue serve bem para afogar as mágoas dos fãs decepcionados, e satisfazer a sede por sangue e boas lutas que Mortal Kombat não conseguiu saciar.

https://www.youtube.com/watch?v=qqafiZ-7GPI

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