Review: Multiplayer de Halo Infinite resgata a era de ouro da franquia
Review: Multiplayer de Halo Infinite resgata a era de ouro da franquia
Modo online gratuito é uma das melhores experiências do ano com shooter simples mas muito robusto!
Jogos de tiro não seriam nada se não fosse por Halo. A franquia da Bungie abriu as portas para um gênero nichado de PC chegar aos consoles, e além de uma campanha que definiu muitas das tendências dos anos 2000, o multiplayer online também se tornou referência para todo tipo de jogo. Tanto no sistema de playlists, nos modos de jogo ou na sua cena competitiva precursora dos eSports, a série moldou a experiência online como ninguém.
Ao mesmo tempo, a franquia já atingiu a casa dos 20 anos, e tudo muda depois tanto tempo assim: o desenvolvimento passou de mãos para a 343 Industries, e as intensas disputas online passaram a receber cada vez mais funções e mecânicas, para tentar ficar a par do gênero que ajudou a evoluir no passado. No meio disso tudo, a identidade da série começou a se perder, mas agora Halo Infinite quer dar um passo para trás para encontrá-la novamente.
Ficha técnica
Título: Halo Infinite (Multiplayer)
Desenvolvedora: 343 Industries
Publicadora: Xbox Game Studios
Plataformas: Xbox One, PC, Xbox Series X | S e Xbox Cloud Gaming
Lançamento: 15 de novembro de 2021
Gênero: Tiro em Primeira Pessoa, Free-to-Play
Modo: Multiplayer Competitivo Online
Memórias de dias mais simples
Assim como na campanha, o propósito do multiplayer de Halo Infinite é resgatar as raízes da franquia. A 343 Industries levou o online da saga em direções ousadas com Halo 5: Guardians, que introduziu diversas opções de movimentação e tiroteios tão precisos que tudo soava altamente competitivo e intenso – talvez até demais, ao ponto de afastar novatos e jogadores casuais.
Aqui, o estúdio pega a sólida base mecânica de Guardians e corta toda a gordura para entregar algo pensado para ser mais parecido com o passado glorioso da franquia. Em especial, tudo parece moldado à imagem de Halo 3 (2007), discutivelmente o capítulo mais popular de toda a saga. Essa inspiração é visível na estética e design dos mapas, que transitam entre pequenas arenas e campos mais abertos, e também no ritmo mais cadenciado das partidas. Não que Halo 3 seja um jogo simples, mas é fato que o gênero de FPS ganhou tantas outras camadas ao longo de 14 anos que o game agora parece deliciosamente retrô.
Não é possível segurar um game online só com saudosismo (títulos como Quake Champions sabem muito bem disso), mas há um certo charme nessa experiência mais simplificada. Na era da obsessão por eSports e otimização de equipamentos (o famoso meta dos jogos), Halo Infinite conquista justamente por não ter nada de criação de classes, customização de armas para deixá-las mais poderosas, ou então vantagens especiais que alteram o seu jogo.
Diferente de um Call of Duty da vida, não existe algo como ficar morrendo porque alguém selecionou a arma desbalanceada do momento. Todos começam em pé de igualdade com os mesmos equipamentos, e armas mais poderosas são adquiridas apenas pelo mapa, logo conflitos são resolvidos unicamente por quem é mais habilidoso nos tiroteios.
Os modos de jogo também apostam no que já se consagrou na franquia, ao invés de tentar reinventar a roda com algo que será esquecido, como acontece com todo shooter atual — vide a tentativa de battle royale de Battlefield V ou a Batalha dos Campeões de Call of Duty: Vanguard.
Ainda que a lista de opções seja curta demais — ainda mais comparada com a ótima seleção de Halo 5: Guardians –, há o retorno de Team Slayer (tradicional mata-mata), Rouba a Bandeira, Bola Maluca, Dominação e também do Big Team Battle, com 24 jogadores em mapas amplos. Atravessar as paisagens naturais com um Warthog para tentar se infiltrar na base rival e capturar a bandeira inimiga é uma das sensações que provam como a excelência de Halo continua atemporal.
Ganchos e martelos
Mas não é só a nostalgia que torna Halo Infinite tão marcante. O game sabe o que resgatar do passado, e como combinar esses elementos com novidades mais modernas. Assim como as armas poderosas, como bazucas ou o martelo de gravidade, é possível encontrar habilidades especiais pelo mapa, seja um escudo temporário, proteção extra, ou um gancho que serve para se movimentar, puxar equipamentos e inimigos.
Há uma chance justa de todo jogador encontrar esses equipamentos pelo mapa, e uma boa utilização dessas habilidades pode criar momentos memoráveis, como roubar um veículo no ar ao se prender em sua traseira com o gancho. Mesmo assim, nada atrapalha o ritmo natural das partidas ou é apelão, como as tão criticadas habilidades de armadura de Halo: Reach (2010).
A introdução dessas mecânicas é bem dosada, e novamente dependem apenas de boas mãos para mostrarem seu potencial destrutivo. Repelir um tiro de canhão, ou então puxar uma bandeira com o gancho, podem ser diferenciais para vencer uma partida, mas é preciso se esforçar e aprender para realmente conseguir acertar algo assim.
A 343 Industries também mostra sua força ao trazer de volta o excelente combate de Halo 5. Seja trocando headshots de pistola, ou então tirando escudos com um rifle de batalha, todas as armas são bastante satisfatórias de usar, com padrões de recuo variados que tornam a sensação de domá-las desafiadora na medida certa.
Alguns elementos da movimentação, como deslizar ou escalar superfícies, também retornam, e ajudam a dar um ar mais moderno para a pegada clássica de Halo. Há muita coisa para se criticar na forma que o atual estúdio conduz a franquia, mas as suas excelentes mecânicas não se enquadram nisso.
Progressão truncada
Em termos de design, Halo Infinite é robusto em sua junção de sensibilidades do passado e ideias do presente, que ajudam a ressaltar que o enorme sucesso da franquia não é mero acidente. Mas a 343 Industries deixou um pouco a desejar na forma que mantém o componente online do jogo.
Todo o lançamento do jogo foi um pouco apressado, fruto de uma cultura de exploração e metas irrealistas que assola o estúdio. Por mais que a base seja bastante robusta, no momento dessa review a experiência online é marcada por servidores fracos que resultam em frequentes problemas de conexão, uma lista enxuta de modos de jogo, a ausência do Modo Fornalha (ferramenta de criação de mapas), e a impossibilidade de separar jogadores de controle dos de teclado e mouse, como Halo: The Master Chief Collection permite há alguns anos.
O grande elefante na sala, porém, é o passe de batalha. Halo Infinite é um game gratuito, e boa parte de sua monetização se baseia nesse passe de 100 níveis, que custa cerca de R$39 e oferece itens cosméticos como recompensas. É uma prática comum em shooters free-to-play, com Fortnite ou Call of Duty: Warzone, mas aqui subir de nível se torna um pouco frustrante pela progressão não estar atrelada à pontuação do jogador nas partidas, mas sim na realização de desafios específicos.
Sem o passe de batalha, as opções de customização estética de armadura e equipamentos é bastante precária, mas para resolver isso é preciso ficar completando tarefas tediosas e repetitivas todos os dias. O estúdio, por sua vez, reconheceu que esse é o maior problema do game, e já lançou uma modificação para aumentar os pontos de experiência dados por cada desafio concluído, mas é um sistema que pede por mudanças mais significativas – especialmente se for o grande responsável por pagar as contas do jogo online pelos próximos anos.
Mesmo assim, o multiplayer de Halo Infinite é essencial para todo fã que sente que a franquia se perdeu pelo caminho, ou para os jogadores de shooters que buscam algo mais baseado em habilidade do que obsessão pelo meta-jogo do momento.
Salvo os problemas técnicos e o passe de batalha decepcionante, a 343 Industries entrega uma experiência moderna com gostinho de passado em um dos melhores shooters do ano, e demonstra o primeiro passado do estúdio em resgatar a importância e a diversão da franquia. Não importa quanto outros FPS surjam e conquistem grandes grupos de jogadores: não há nada como uma partida bem jogada de Halo.
NOTA: 8.5/10
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