Maya e os 3 Guerreiros: Criadores falam sobre animação de mitologia latina que você precisa conhecer
Maya e os 3 Guerreiros: Criadores falam sobre animação de mitologia latina que você precisa conhecer
Animação latina da Netflix não perde em nada para épicos da mitologia grega ou nórdica!
Mitologia antiga é um assunto que cativa o imaginário popular, com suas divindades poderosas e aventuras épicas. E seus contos vem influenciando histórias há gerações, dando origem a sucessos como Percy Jackson, da mitologia grega; e God of War, da mitologia nórdica. Mas poucas produções ousam sair desse eixo europeu, ainda mais de um jeito tão espetacular como Maya e os 3 Guerreiros, a próxima animação da Netflix que estreia em 22 de outubro.
Trazendo um orçamento digno de filme, esta série transforma os Deuses das mitologias latino-americanas em adversários super poderosos na jornada de uma jovem guerreira para impedir o fim do mundo mesoamericano. Parece incrível, não?
Para entender melhor essa história, conversamos diretamente com seus criadores: Jorge R. Gutierrez, o diretor de Festa no Céu, e sua esposa e consultora criativa Sandra Equihua.
- Conheça Maya e os 3 Guerreiros
- Proporções épicas
- Um panteão latino, mas familiar
- Ação sem limites
- Sangue latino
Conheça Maya e os 3 Guerreiros
A história da série acompanha a vida de Maya (Zoe Saldaña), uma jovem princesa de um reino levemente asteca determinada a se tornar uma guerreira. Ela estava destinada a viver uma vidinha tediosa como diplomata de seu povo, até ouvir o chamado de uma misteriosa profecia que pode salvar todos os reinos da fúria dos Deuses.
Equipada com uma espada mágica, ela parte em uma missão junto de sua pantera medrosa para recrutar os guerreiros mais poderosos de cada reino: o mago patife Rico (Allen Maldonado), a arqueira fantasma Chimi (Stephanie Beatriz) e o bárbaro guerreiro Picchu (Gabriel Iglesias). Juntos eles precisam invadir o Reino dos Mortos e derrotar o Lorde do Submundo, Mitclan, e sua temível esposa, Lady Micte: a Deusa da Morte.
Proporções épicas
Claro que sua jornada não é nada fácil, cheia de obstáculos e inimigos que tornam o enredo bem mais interessante. Além disso, cada novo reino visitado exala uma energia única, com sua própria cultura e costumes, mostrando influência de diversos povos e culturas das Américas do passado.
O cuidado e atenção aos detalhes para tornar este híbrido de mitologia maia e asteca tão interessante é o maior acerto de Maya e os 3 Guerreiros, mas foi um grande desafio para Jorge R. Gutierrez, o produtor executivo da série. “O elenco é gigante! E tem exércitos, tem dragões e gigantes… Então quanto mais eu escrevia, mais as pessoas [da produção] ficavam preocupadas,” conta com um sorriso no rosto.
“E mesmo que Maya seja muito grande, épico e gigante como está agora, ia ser ainda maior [no planejamento],” brinca o produtor. Muito conteúdo precisou ser cortado para entregar a produção a tempo. Foi como se produzissem três filmes inteiros no tempo que levaria para construir apenas um. “Tinham mais Deuses, mais Reinos,” ele avisa. “Sem falar nos atores que ficaram ‘Por que você não chamou a gente?’ e a gente ficou ‘Desculpa! Me desculpa!’,” se diverte Sandra, complementando o marido.
O elenco de Maya traz muitos grandes nomes de Hollywood, como Danny Trejo, Queen Latifah e Alfred Molina. Não bastasse as dificuldades normais de uma produção deste tamanho, a equipe ainda precisou se adaptar ao período de pandemia. “Bem quando as coisas estavam começando a dar certo, veio a pandemia,” lembra Jorge, “A gente se sentiu como se estivesse no filme e era a gente que estava tentando lutar contra os Deuses para fazer [a série].”
Um panteão latino, mas familiar
Essa luta contra os Deuses, presente em todos os episódios da série, é um dos pontos altos da aventura. A fúria das divindades é um tema comum em diferentes mitologias e Jorge procurou inspiração em outros mitos para construir a personalidade marcante de seu panteão.
“Em muitas histórias que eu li, os Deuses costumam representar os pais e os humanos são basicamente seus filhos. E nas minhas mitologias favoritas, os Deuses são mais humanos que os próprios humanos, sabe? Nós demos para eles falhas: eles são ciumentos, eles são infantis… Eles são igual a nós! E isso para mim é o que humaniza este mundo,” declara com empolgação, “E nas melhores histórias, os humanos ensinam uma lição aos deuses, que é uma metáfora para as crianças ensinando a seus pais uma lição.”
Para este projeto, Jorge e Sandra contam que precisaram mergulhar bem fundo na mitologia maia, inca e asteca. E em suas pesquisas, acabaram percebendo um elemento em comum que ligava os mitos desses povos que acabou se tornando um grande tema em Maya e os Três Guerreiros: “guerreiros indo ao mundo inferior lutar com os Deuses”.
“E depois eu me dei conta que isso existe na mitologia grega, e literalmente [em mitologias] ao redor do mundo: mitologia africana…,” comenta Jorge. “Esse tema se tornou algo que unia os povos. Aquelas pessoas da antiguidade, todas tinham uma história em comum, então isso se tornou uma grande inspiração,” acrescenta. Além de ser um grande motivador para unir os protagonistas na série, a luta contra os Deuses também movimenta os momentos de ação.
Ação sem limites
Quando a ação começa, é um belíssimo espetáculo visual. Cada personagem tem o seu próprio estilo de lutar, com magia, flechas e uma ajudinha do lado místico. É tanto poder que algumas batalhas nem cabem na tela… no sentido mais literal possível. “Tem momentos na história que os personagens são tão poderosos que eles literalmente empurram o limite da tela,” explica sobre os momentos que as listras pretas horizontais nos extremos da tela da TV são invadidos pelos personagens.
“Eu sou muito nerd por filmes,” revela o produtor, “Então eu lembro quando eles faziam comerciais para os filmes e eles tentavam pensar em um jeito de como mostrar para as pessoas que ‘Neste filme você tem que usar óculos para ver em 3D’. E eles usavam um truque que atravessava a proporção de tela. Então eu pensei ‘É isso! Nós vamos fazer isso em Maya, mas vamos usar para a história. Para momentos em que queremos mostrar para o público ‘Ei, preste atenção! Isso é muito importante.’ Ou armas saindo nas lutas [pelo impacto].”
Em alguns momentos, as lutas parecem tão dinâmicas quanto as melhoras batalhas de animes, como Demon Slayer e One Piece. O que não é uma coincidência, afinal a própria Sandra lembrou que somos constantemente expostos a esses tipos de história. “Estamos tão acostumados a ver,” pontua, “conteúdo europeu, conteúdo japonês e coisas assim… E é lindo, inspirou a gente também, mas por que não combinar as coisas com o que é nosso e realmente mandar para o mundo?”
Sangue latino
“Eu estou torcendo para que essa nova geração se apegue [à Maya e os 3 Guerreiros],” continua. A cultura latina é muito rica, mas com o avanço da globalização, ela acabou sendo cada vez mais esquecida em prol da influência de países como o Japão e os Estados Unidos. Essas produções são incríveis, claro, mas precisamos lembrar que também existe espaço para as nossas histórias. “Se orgulhem de sua herança, para que assim seja conhecida mundialmente. Tipo, por que não compartilhar nossa cultura e nossa herança?”, questiona.
Por fim, Sandra diz que espera que Maya e os 3 Guerreiros seja como uma fagulha que dê origem a muito mais produções sobre as mitologias latino-americanas e a nossa cultura.
“Eu espero que as pessoas comecem a perceber que somos uma comunidade tão exuberante, temos tanto a oferecer… A gente deveria celebrar isso. A gente não deve esconder. Precisamos por pra jogo e celebrar com o mundo, porque agora é a nossa chance,” declara a consultora, “Esperamos que, com Maya, a gente seja contagiante e que as pessoas percebam que a gente pode explodir de orgulho por nossa herança.”
Quem é fã de Percy Jackson, Fúria dos Titãs, Mulher-Maravilha e histórias inspiradas em mitologia em um geral, não pode perder a estreia de Maya e os 3 Guerreiros, que chega na Netflix nesta sexta-feira, 22 de outubro. Foi uma das minhas maiores surpresas este ano e é uma experiência que você definitivamente não vai querer perder!
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