Lovecraft Country: O que poderíamos ver numa segunda temporada
Lovecraft Country: O que poderíamos ver numa segunda temporada
Indicada a Emmys e cancelada, Lovecraft Country teria muito potencial para uma segunda temporada na HBO!
Baseada no livro homônimo de 2016 escrito por Matt Ruff, Lovecraft Country foi uma das gratas surpresas do ano passado. Inspirada nos conceitos de horror cósmico – mas tomando um rumo próprio – a série se passa nos EUA nos anos 50, quando as leis de Jim Crow vigoram no país e as pessoas negras são relegadas a um ambiente de tensão racial e segregação.
Embora tivesse sido originalmente encomendada como uma minissérie, a produção teria uma segunda temporada, o que já foi confirmado pela criadora e showrunner Misha Green, onde veríamos uma expansão desse universo e um país fragmentado, após os eventos chocantes do último episódio. Infelizmente, a HBO decidiu não continuar com a obra por motivos não revelados, mas aqui reunimos tudo que poderíamos ver em uma segunda temporada de Lovecraft Country!
Recapitulando…
Produzida por Jordan Peele e J.J. Abrams e desenvolvida por Misha Green para a HBO, Lovecraft Country foi uma série de terror, ficção científica e fantasia lançada entre agosto e outubro de 2020. A história se baseava no livro homônimo de Matt Ruff, que aborda a vida de um grupo de pessoas negras nos EUA segregacionistas dos anos 50, ressignificando o horror cósmico presente em obras de autores como H.P. Lovecraft e Robert W. Chambers.
A série teve, em sua primeira temporada, 10 episódios e seguiu uma estrutura bem diferente, com cada capítulo se focando na história de um personagem e abordando uma história “fechada”, enquanto o enredo da temporada se desenvolvia lentamente. Essa decisão foi tomada de acordo com a separação de capítulos do livro, como um tipo de homenagem à literatura pulp que ficou tão famosa nos Estados Unidos.
No começo da trama, Atticus Freeman (Jonathan Majors) viaja de volta para sua casa de infância, após retornar da Guerra da Coréia. Ele então precisa se unir ao seu tio, George Freeman (Courtney B. Vance) e Letitia Lewis (Jurnee Smollett) para resgatar seu pai, Montrose (Michael K. Williams), que desapareceu em um evento sombrio envolvendo um culto de magos e pessoas com conhecimentos esotéricos.
Contudo, a viagem não é tão fácil quanto parece. Enquanto precisam enfrentar monstros e ameaças sobrenaturais, Atticus e sua caravana também têm que lidar com um país racista, onde negros são mortos diariamente por conta da intolerância estrutural. No caminho, ele descobre que é descendente de um poderoso mago que pertencia aos Filhos de Adão, mas é impossibilitado de dar continuidade a esse legado pela cor da sua pele.
Ao longo dos episódios, vários eventos são traçados. George morre e sua esposa é presa em um nexo de realidades, enquanto sua filha é amaldiçoada, Leti se muda para uma casa assombrada e Atticus precisa “trabalhar junto do inimigo”, ao aceitar a ajuda de Christina Braithwhite (Abbey Lee), uma mulher de princípios questionáveis e planos maquiavélicos.
Ao fim da temporada, os heróis conseguem resolver um grande mistério e derrotar Christina, que se volta contra eles. No processo, eles fazem com que pessoas brancas não tenham mais acesso à magia e isso fique na mão apenas de pessoas negras. Esse foi um dos ganchos da temporada, já que também veríamos novos tempos e realidades, ao mesmo tempo em que o sacrifício de Atticus poderia ganhar um novo significado.
Uma nação fragmentada
Após a notícia de que a HBO não daria continuidade à produção da segunda temporada da série, Misha Green foi ao Twitter mostrar um pouco do que ela estava preparando para o segundo ano. Há quem acredite que ela estava mostrando isso ao mundo para saber se não haveria uma emissora ou plataforma de streaming interessada em dar continuidade ao projeto.
Um dos detalhes mais interessantes divulgados pela showrunner é o fato de que a segunda temporada iria mostrar os Estados Unidos como um país ainda mais fragmentado, provavelmente em decorrência do que aconteceu nos últimos episódios do primeiro ano. Ao todo, seriam quatro territórios no país, conforme identificados na imagem acima e divididos nas cores preto, branco, verde e amarelo.
O país agora se chamaria “Estados Soberanos da América” e se divide na seguinte classificação: As áreas verdes são as Nações Tribais do Oeste, a parte pintada de amarelo é a Sociedade Jefferson, a parte preta é a Nova República Negra e a parte branca é descrita como “Whitelands”, ou os “Territórios Brancos“, em tradução livre – e aparentemente, esses quatro territórios teriam algumas rixas entre si.
Pouco se sabe sobre o que seriam as Nações Tribais do Oeste, mas a Sociedade Jefferson muito provavelmente seria onde estaria localizada a elite norte-americana, levando em conta a situação econômica dos lugares demarcados ali (como Nova York e Washington D.C.). A Nova República Negra provavelmente é onde estaria localizada a maior parte das pessoas negras e afro-americanas, o que é bem impactante levando em conta que os locais marcados têm um passado escravagista.
No meio, fica a parte mais curiosa do mapa, as Whitelands. Segundo Misha Green, esse local seria completamente dominado por zumbis – uma das consequências do feitiço mostrado no final da primeira temporada. A maior parte desses zumbis é lenta, mas existem alguns zumbis que correm rápido. Nas notas da showrunner, esse grupo de mortos-vivos foi colocado ali para “dividir” as populações do Norte, Oeste e Sul.
Os personagens
Quanto à evolução dos personagens, a produtora não revelou muitos detalhes, mas deixou em seu Twitter uma das páginas da “bíblia” da segunda temporada, o livro que mostra todo seu projeto para esse segundo ano. Pelo visto, nós teríamos o retorno de alguns personagens bem importantes da temporada original, além de novas figuras que teriam mais desenvolvimento no segundo ano.
Na página, vemos que os personagens são divididos entre a “Velha Geração” e a “Nova Geração“, e isso não tem nada a ver com idade. No lado da “Velha Geração”, temos Letitia Lewis e Atticus Freeman, os dois protagonistas da primeira temporada, mostrando que eles teriam um destaque grande. Letitia terminou a série viva e grávida de Atticus, enquanto ele morreu no último episódio.
É bem provável que a segunda temporada mostrasse uma viagem pelas diferentes realidades e futuros alternativos, de modo que Atticus pudesse retornar. Aliás, essa é uma das maiores pontas soltas do último episódio, já que sua morte tem um gosto agridoce e indícios de um possível retorno. É bem provável que o astro Jonathan Majors inclusive retornasse para reprisar seu papel.
Do lado da “Nova Geração”, temos alguns personagens já conhecidos, como Hippolyta Freeman (Aunjanue Ellis) e sua filha, Diana (Jada Harris). No primeiro ano, Hippolyta fica presa em um limbo temporal, onde acaba tendo contato com vários futuros e realidades alternativos. Ela volta transformada, usando seus conhecimentos futuristas para salvar seus aliados. Já Diana é amaldiçoada e, após ser salva, se torna mais rebelde, sendo a responsável pela morte de Christina Braithwhite.
Outros personagens incluem George Freeman (que pode muito bem ser o tio de Atticus e esposo de Hippolyta, tendo em vista que uma versão alternativa dele foi mostrada na primeira temporada), Billie Baptiste (que pode ter algo a ver com Ruby Baptiste, a irmã de Leti que também morre no último episódio da primeira temporada). Outros nomes que chamam atenção são Wi Sapa e Xochimitl (descritos como “Lua Negra” e “Flecha Florida“).
Ambos os nomes e seus “apelidos” possuem origens nativo-americanas, e isso nos remete ao quarto episódio da série – onde conhecemos uma entidade dois-espíritos, Yahima – que morre pelas mãos de Montrose. É possível que a presença desses dois personagens novos tenha algo a ver com essa figura, abrindo a discussão para outros grupos marginalizados (como os indígenas e povos nativos), que também sofrem com o racismo nos EUA e no mundo.
Elementos sobrenaturais
Nos post compartilhados por Misha Green, também temos a descrição de vários dos elementos sobrenaturais que estariam presentes nessa segunda temporada, ajudando a expandir o conceito do “Território Lovecraft”. É válido lembrar que, apesar de fazer referências a H.P. Lovecraft e algumas de suas criações, a série tenta subverter a lógica do horror cósmico, mostrando como o racismo tem um peso similar a essas divindades ancestrais para quem sofre com isso diariamente.
As “Whitelands” é onde reside o maior mistério da trama. Pelo nome, Misha deixou a entender que esses zumbis são pessoas brancas – uma subversão bem inteligente do tropo do zumbi, uma vez que originalmente esse arquétipo do horror era quase sempre composto por pessoas negras, enquanto o zumbi em si era criado através de feitiçaria e de rituais da religião vodu.
Ela também apresenta dois conceitos que seriam desenvolvidos na temporada, chamados “A Origem” e “A Fonte” – e infelizmente, há pouquíssimos detalhes sobre eles. Pelos tweets da autora, “A Origem” foi um feitiço – que pode ter sido o responsável por criar esse país fragmentado. Já “A Fonte” é algo que apareceria bem no meio do país, no território das Whitelands e que provavelmente teria um importante papel na história da segunda temporada.
Por enquanto, isso é tudo que sabemos. A série foi cancelada sem cerimônias pela HBO e não há uma explicação dada pela emissora quanto a essa decisão. De muitas formas, a primeira temporada de Lovecraft Country já funciona bem por si só, mas víamos ali alguns ganchos e ideias que poderiam ser explorados em temporadas futuras – tanto que a própria Misha Green confirma que estava planejando até mesmo um terceiro ano da série.
Agora, só podemos esperar que alguma outra emissora ou plataforma digital invista na ideia e decida dar seguimento a esse projeto sensacional. Com sorte, poderíamos ver ainda mais mistérios, mais elementos sobrenaturais e mágicos e uma subversão ainda maior do horror cósmico que já conhecemos (e amamos). Mas enquanto isso não acontece, não custa revisitar Lovecraft Country, cuja primeira temporada está disponível no HBO Max.
Lovecraft Country está disponível no HBO Max.