Por que Andrew Garfield deixou o papel do Homem-Aranha?
Por que Andrew Garfield deixou o papel do Homem-Aranha?
O motivo por trás do encerramento da franquia do Espetacular Homem-Aranha com Andrew Garfield
A expectativa para Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é gigantesca. Curiosamente, essa ansiedade toda não tem nada a ver com algum tipo de conclusão ou novo capítulo para o Teioso de Tom Holland, mas com a possibilidade do retorno de Tobey Maguire e Andrew Garfield, antigos intérpretes do herói.
A razão pelo qual Maguire deixou o papel é bem conhecida, vinda do fracasso de crítica de Homem-Aranha 3 (2007) e do desentendimento do diretor Sam Raimi com o estúdio. Mas a saída de Andrew Garfield do papel ainda levanta algumas dúvidas, visto que não demorou muito para Tom Holland ocupar o seu lugar. Com menos de dois anos entre atores, os fãs dos filmes de O Espetacular Homem-Aranha ainda se questionam o que motivou a troca.
Os filmes de O Espetacular Homem-Aranha são um fracasso?
Não! Na verdade, ambos tiveram um excelente desempenho na bilheteria. O primeiro filme, lançado em 2012, fez impressionantes US$757,9 milhões de arrecadação mundial. Já a sequência, de 2014, reuniu US$708,9 milhões na bilheteria mundial. São números sólidos o bastante para qualquer estúdio seguir desenvolvendo novas obras.
O problema, na verdade, foi a concorrência. Em 2012, a Marvel Studios redefiniu o sucesso de adaptações de HQs de heróis com Os Vingadores, filme que reuniu os heróis da casa e conquistou US$1,5 bilhão no mundo todo. O ano também foi marcado por vários outros sucessos colossais: Skyfall, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge e O Hobbit também conquistaram mais de US$1 bilhão no mundo todo. Assim, O Espetacular Homem-Aranha foi a sétima maior arrecadação mundial daquele ano, e o terceiro filme de herói no Top 10.
Quando chegou a vez de O Espetacular Homem-Aranha 2 chegar aos cinemas em 2014, o ambiente já era muito mais disputado. O filme ficou em nono lugar na lista das maiores arrecadações do ano, atrás de outras obras de heróis como Guardiões da Galáxia, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido e Capitão América: Soldado Invernal. Isso, claro, sem nem citar outros blockbusters que passaram na frente do Teioso, como Transformers: A Era da Extinção, O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, Malévola, Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1, e Planeta dos Macacos: A Origem.
Na disputa pelo prestígio entre os grandes lançamentos, todo erro era imperdoável. Não ajudou que os dois filmes tiveram críticas mornas: o primeiro Espetacular Homem-Aranha tem modestos 72% de aprovação no Rotten Tomatoes, enquanto o segundo caiu para 52%. Para a Sony Pictures, angustiada em perder para a Marvel Studios nas telonas, isso foi o suficiente para bolar uma estratégia de se aliar com o vencedor, ao invés de seguir disputando.
Por que Andrew Garfield deixou o papel do Homem-Aranha?
Para a Sony conseguir se aliar com a Marvel Studios, seria preciso alinhar o Homem-Aranha aos padrões do Universo Cinematográfico da Marvel, afinando o humor e desenvolvendo conexões com os demais heróis. Nesse processo, surgiu um problema: Andrew Garfield.
O ator estadunidense, criado no Reino Unido, chamou a atenção de Amy Pascal, presidente da Sony Pictures na época, por conta da série policial Red Riding, e do filme A Outra (2008). Pascal então fez a ponta para que Andrew Garfield brilhasse em A Rede Social, de David Fincher, e depois o introduziu para o papel de Homem-Aranha. Acontece que o rapaz sempre teve uma preferência por papéis mais artísticos, com personagens intensos. Isso criou várias intrigas entre Garfield e o estúdio.
Não há dúvidas que Andrew Garfield ama o Homem-Aranha, e que sempre foi muito grato pelo papel, mas ele queria levar sua versão de Peter Parker para lados mais emotivos e sensíveis, enquanto o estúdio queria um filme mais focado em ação e porradaria, para competir com outros blockbusters da época. O ator já afirmou diversas vezes que rodou momentos mais intensos para o personagem, apenas para descobrir que as cenas ficaram pela mesa de edição mesmo, sem nunca ver a luz do dia.
Isso criou um descontentamento que o próprio Andrew Garfield já descreveu como inocência, já que era bem jovem na época: “Eu só tinha 25 anos e era ingênuo ao processo de produção de filmes de grande orçamento”, como explicou ao The Guardian em 2016. Essa quebra de expectativas, de ver que a sua visão para o Homem-Aranha nunca seria concretizada, fez com que o ator passasse a ficar mais frio e distante do estúdio.
O ponto de ruptura parece ter sido ainda em 2014. O estúdio ia dar mais uma chance para concluir a trilogia, com um filme que seria anunciado em solo brasileiro, durante um grande evento da empresa no Rio de Janeiro para celebrar o fim da Copa do Mundo. A ideia era que Andrew Garfield estivesse presente para revelar O Espetacular Homem-Aranha 3 ao mundo, que seria lançado em 2016, mas o ator cancelou de última hora, alegando mal estar.
A ação foi vista como indisposição pela Sony. Quando a empresa foi alvo de um ataque hacker em 2015, que vazou toneladas de e-mails secretos, foi possível encontrar mensagens do presidente Kaz Hirai reclamando da ausência de Andrew Garfield, e ali veio a noção de cortar relações.
O ator seria demitido, e consequentemente o filme seria cancelado. A Sony Pictures então faria um acordo com a Marvel Studios para criar um Homem-Aranha que fosse compartilhado pelas duas empresas, e um ator mais novo – menos artistão, com humor mais alinhado ao MCU – seria contratado no lugar.
Após cogitar Asa Butterfield (Sex Education) por um tempo, as empresas eventualmente chegaria em Tom Holland. Sua versão foi apresentada em Capitão América: Guerra Civil, que chegou aos cinemas em 2016 – justo o ano em que O Espetacular Homem-Aranha 3 estava previsto para estrear. O novo Teioso não só participou de dois dos maiores e mais rentáveis filmes do MCU (Vingadores: Guerra Infinitae Ultimato), como também teve duas aventuras solo – uma delas que, inclusive, passou da tão sonhada arrecadação de US$1 bilhão na bilheteria mundial.
Há uma enorme legião de fãs que sonha com o retorno de Andrew Garfield como o Homem-Aranha até hoje, mas é certo que ele se encontrou profissionalmente fora da Marvel. O ator pegou papéis mais artísticos e complicados, em filmes como Silêncio (2016), de Martin Scorsese, e O Mistério de Silver Lake (2018).
Atualmente, ele levanta certo burburinho de premiações por protagonizar o drama Os Olhos de Tammy Faye, e o musical Tick, Tick… BOOM!, filme de Lin Manuel-Miranda (Hamilton) sobre a trágica história de Jonathan Larson, o criador de Rent. Se ganhar uma indicação ao Oscar, essa não será a primeira vez: no mesmo ano em que Tom Holland assumiu o traje de Homem-Aranha, Andrew Garfield estrelava Até O Último Homem, que lhe rendeu indicação na categoria de Melhor Ator na grande noite do cinema.
Tudo acabou bem? Nem tanto. Em 2021, falando ao The Guardian, o ator explicou que a experiência de aprender como Hollywood funciona através das decepções que viveu em O Espetacular Homem-Aranha foram praticamente traumáticas, por ver em primeira mão um personagem tão querido tendo sido destratado por um grande estúdio:
“Fui de um garoto inocente para um adulto. Como eu pude acreditar que isso seria uma experiência pura? Há milhões de dólares em jogo, e é isso que guia o navio. Foi um despertar doloroso. A Comic-Con de San Diego é cheia de homens e mulheres adultos que ainda estão conectados com a inocência que o Homem-Aranha simboliza para eles. Quando se adiciona as forças do mercado e das sessões de teste, de repente o foco deixa de ser a alma do personagem, e se torna sobre o máximo de lucro que pode ser obtido.
Acho isso de partir o coração quando se trata de cultura. Dinheiro é a força que nos corrompe e que nos trouxe até o colapso ecológico que matará todos nós.”
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa chegará exclusivamente aos cinemas dia 16 de dezembro.
Aproveite e confira: