Encounter: Riz Ahmed e Octavia Spencer conversaram sobre o filme mais promissor da Prime Video em 2021
Encounter: Riz Ahmed e Octavia Spencer conversaram sobre o filme mais promissor da Prime Video em 2021
A Legião dos Heróis conversou com esta dupla de atores famosos reunida em um projeto intenso e surpreendente.
Há muitos anos, a sociedade debate a possível existência de alienígenas e a horripilante possibilidade deles viverem entre nós. Encounter, o novo filme da Prime Video, usa esta dúvida inquieta incubada em todos nós como um ponto de partida para explorar a complexidade da mente humana. E somos guiados nesta agoniante jornada pelo talento inquestionável de Riz Ahmed e Octavia Spencer.
A dupla de atores cedeu uma entrevista à Legião dos Heróis para explicar como foi participar deste viciante suspense, junto do diretor Michael Pearce e dos atores mirins Lucian-River Chauhan e Aditya Geddada. Cheio de reviravoltas que deixam Shyamalan no chinelo, explicamos porque Encounter tem tudo para ser o melhor filme do Prime Video este ano.
A trama acompanha um pai, Malik (Riz Ahmed), com treinamento militar tentando proteger seus filhos de uma invasão alienígena que ninguém mais consegue ver. Os alienígenas são microscópicos e invadem a mente de seus hospedeiros, como nos piores filmes de terror. A história se desenvolve nesta jornada de carro entre um pai se reconectando com seus filhos enquanto tentam sobreviver.
Desde a primeira cena, fica muito claro a influência de Michael Pearce no projeto. O diretor é conhecido por brincar com os gêneros dos filmes e, neste longa, usa as expectativas de uma ficção científica para manipular o público, mantendo em segredo a reviravolta no enredo até o momento certo. Nem mesmo os trailers ou pôsteres explicam direito a verdadeira proposta do filme, o que foi uma decisão absolutamente proposital, segundo o diretor.
“O melhor jeito de começar [a assistir o filme] é sem saber muito,” reflete, “Quando a gente criou os trailers, a gente queria mostrar as grandes sequências [de ação] do filme, mas tentamos segurar muita informação, sabe? Para garantir que a ameaça do filme continuasse ambígua.”
No início do filme, parte desta ambiguidade surge organicamente da relação entre Malik e seu filho mais velho Jay (Lucian-River). Eles passaram algum tempo separados e Malik está determinado a proteger ao máximo seu filho de todo este tormento, mesmo que precise esconder algumas informações do garoto.
Para o ator Riz Ahmed — que, diferente de seu personagem, ainda não tem filhos — esta relação paternal surgiu naturalmente no set de gravação. Durante a entrevista, ele estava muito confortável com seus colegas mirins, brincando e tranquilizando a dupla como se fosse seu verdadeiro pai, mas diante das câmeras, a situação era outra. “Eu não tinha ideia do que estava fazendo e isso também é verdade para Malik,”confessa.
“Como um personagem que não sabe como ser um pai… Ele esteve longe dos filhos por muito tempo. Então quando ele está aprendendo, eu tô aprendendo. Eu tô aprendendo enquanto o personagem também está e, de certo modo, esta é uma boa situação. Mas também é assustadora, porque eu ficava pensando como ator ‘Essas crianças estão acreditando que eu poderia ser o pai deles?’ e o Malik pensava ‘Essas crianças querem que eu seja o pai delas?’. Então é útil para o personagem, mas pode ser bem assustador,” desabafa Riz.
A conexão foi tão genuína que, mesmo nas cenas em que Malik precisa ser mais duro ou agressivo com os garotos, os atores juram que não sentiram medo, raiva ou nenhum ressentimento por Riz, porque eles sabiam que por trás das câmeras, ele era um cara super tranquilo.
A situação chegou a um ponto que, segundo Lucian-River, Riz precisou de um plano elaborado para despertar a fúria de Aditya em uma cena que exigia uma reação mais intensa do menino. Depois de comprar Beyblades repetidas para o garoto, “durante a cena, ele jogou elas para fora da janela do carro,” afirma River. “E ele na verdade não teve uma reação do Aditya. Mas ele olhou para o Riz como se quisesse matá-lo,” lembra, abrindo um sorriso no rosto do trio com as memórias da situação.
Esta dinâmica sincera e complexa é a grande âncora emocional que carrega o filme do início ao fim, sobrevivendo às reviravoltas e ganhando novas camadas de significado. “Acho que como ele mesmo [Malik] passa por uma jornada, como a própria audiência, então ele meio que passa por esses altos e baixos emocionais,” explica o ator.
Ao ser perguntado sobre como ele fez para manter Malik consistente ao longo de cada mudança do filme, Riz deu todo o crédito ao diretor, Michael Pearce. “Eu acho que acontece [de forma] um tanto orgânica. Eu só tive que ser verdadeiro com o que quer que estivesse acontecendo em toda cena. Foi mais o Michael Pearce que conseguiu costurar incrivelmente todas essas diferentes emoções juntas em uma história só,” elogiou. O diretor chegou a explicar uma das técnicas utilizadas para alcançar esta proeza durante a entrevista.
“Nós tentamos não mudar muito a pegada estética, porque não queríamos que o filme parecesse um Frankenstein de diferentes gêneros,” revela Pearce, “Nós fizemos isso com a cinematografia. Tentamos ter uma pegada muito íntima, observacional e uma vigorosa pegada de gênero do início ao fim do filme. A gente se adaptou às circunstâncias, mantendo o tom consistente.”
O resultado agradou não só a crítica, como o próprio elenco. Tanto Riz, quanto River e Aditya fizeram questão de deixar bem claro o quanto respeitam o trabalho do diretor. “Ele é um expert nisso,” frisou Ahmed. Rolou até uma brincadeira nos bastidores que quando o diretor entrava no set, eles aplaudiam, introduzindo o lendário Michael Pearce como se fosse o início de um talk show descolado.
Esta energia contagiante, inclusive, foi o que trouxe Octavia Spencer para o projeto. “Eu estava empolgada que o Riz estava participando, sou uma grande fã” conta a atriz. Como sua personagem aparece apenas a partir do segundo ato, ela não teve a chance de contracenar tanto com o núcleo de Riz, mas eles acabaram se aproximando nos ensaios.
“A gente ensaiou bastante, porque muitas das nossas interações são pelo telefone. E como a gente não podia se ver [fora do set] por causa dos protocolos de covid, passamos muito tempo praticando por vídeo-chamada, então a gente se viu e interagiu desse jeito,” revela.
Mas a conexão com o elenco foi apenas um dos fatores que levou Octavia a aceitar o papel em Encounter. “Eu escolho os projetos em que participo por causa do projeto como um todo,” explica. O ponto decisivo também acabou sendo o trabalho único do diretor Michael Pearce, para o qual não poupou elogios.
“Quando eu li o roteiro, eu amei que mesclava vários gêneros. Eu amei que era um suspense psicológico com elementos de ficção científica, mas era absurdamente dramático,” conta Octavia. Esta habilidade de dobrar gêneros a bel-prazer, que é algo muito marcante da carreira do diretor, é uma das grandes responsáveis pela genialidade de Encounter.
De acordo com o diretor, sempre que um novo gênero é introduzido, existe um propósito. “Gênero é uma ótima ferramenta se você usa para mergulhar a fundo em um personagem,” explica Michael Pearce. Diferente do que alguns podem pensar, as mudanças não vinham com a mera intenção de chocar. “Seja por iluminação, ângulos de câmera, edição, design de som ou música, a gente se perguntava ‘O que o personagem estava sentindo?’ ‘O que eles estão passando?’. Não como a gente poderia manipular o público. E esse foi o nosso norte, de certo modo,” explica.
“Nós realmente queríamos garantir que todos os gêneros que usamos estavam servindo o propósito de explorar profundamente o personagem do Riz [Ahmed]. E se não estava, então não estávamos fazendo a escolha criativa certa,” declara.
Assim, Michael evitou cair na armadilha de muitos cineastas que acabam se vendo refém de limites que surgem quando um projeto se atém a um único gênero. “Se é apenas um exercício de gênero, eu meio que me desligo do filme na metade. Se eu sinto que [o filme] não está genuinamente interessado em seus personagens, não importa o quão bem está sendo executado. Só não é pra mim.”
Com esta perspectiva em mente que o papel de Octavia Spencer, mesmo que contido, se revela crucial para elucidar o interesse nos personagens. “Eu amo sua compaixão. Amo sua empatia,” conta a atriz. Hettie está profundamente preocupada com o bem estar de Malik e seus filhos, em sua essência, e está disposta a fazer de tudo em seu alcance para que eles tenham o final feliz que merecem.
E através dela, o filme consegue tecer leves comentários sociais sobre assuntos bem pesados que tangenciam um tema recorrente na ficção científica: o medo do desconhecido. Assim, o longa traz críticas ao ódio a minorias, à perfilização racial, expõe a hipocrisia do conservadorismo americano e põe em xeque o conceito de armar a população civil.
Para Octavia Spencer, estas questões são consequência de uma desconexão com a nossa própria humanidade. “Acho que quando esquecemos nossa humanidade, quando esquecemos que as pessoas que encontramos todos os dias estão vivendo experiências diferentes que precisamos levar em consideração, então a gente para de ser humano.” afirma.
Apesar disso, o diretor afirma que não gosta de imaginar que o filme passa uma mensagem muito específica. “O que eu estou procurando é conexão. É que você se conecte com os personagens, que invista em sua jornada. Através desta conexão que o filme ganha sentido, porque reflete algumas de suas próprias experiências.”
Essa conexão com suas próprias experiências foi essencial para que Octavia entendesse melhor Hattie. A atriz também procura buscar em todos algo com que possa simpatizar. No fundo, todos temos o potencial para sermos bons e é nisso que vale a pena acreditar.
“Eles não precisam pensar igual, só precisam ser pessoas boas. E foi assim que eu aprendi, sabe, a ser amiga de pessoas de diferentes culturas, pessoas que seguiram por um caminho diferente, mas no final do dia eles são boas pessoas e me inspiram a ser a melhor pessoa que eu posso ser,” conclui.
Encounter está disponível para todos os assinantes do Amazon Prime Video.