Crítica: O Último Duelo é uma aula de história com um elenco espetacular
Crítica: O Último Duelo é uma aula de história com um elenco espetacular
O filme é um dos melhores de 2021.
O Último Duelo marca o retorno do renomado diretor Ridley Scott (Gladiador, Perdido em Marte) às grandes telas. Contando com o apoio de um elenco de peso, com nomes como Matt Damon, Adam Driver, Ben Affleck e Jodie Comer, Scott encontra sua forma magistral de contar um dos marcos da história francesa: o último duelo entre Jean de Carrouges e Jacques Le Gris.
O filme transporta o público para um período marcado pela intolerância religiosa, pela desvalorização da mulher em relação aos homens e pela falta de justiça por parte dos reis, geralmente interessados em grandes espetáculos e em suas riquezas. Situado nos anos de 1300, na região francesa da Normandia, o filme não apenas dá uma aula de história ao espectador, como conta com grandes narradores, aqui interpretados pelos membros do elenco.
Ficha Técnica
Título: O Último Duelo (The Last Duel)
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Nicole Holofcener, Matt Damon
Data de lançamento: 14 de outubro de 2021 (Brasil)
País de origem: Estados Unidos
Duração: 2h 33 min
Sinopse: O Último Duelo é uma história sobre o duelo entre o cavaleiro Jean de Carrouges e o escudeiro Jaques Le Gris, acusado de ter violado a esposa do cavaleiro. A luta, estabelecida pelo próprio rei da França, Carlos VI, marca o grande drama de vingança e crime do século XIV, que tem a esperança de ser resolvido somente após o combate. Baseado no romance homônimo de Eric Jager.
O Último Duelo, um dos melhores lançamentos de 2021
Sofrendo com a falta de uma boa campanha de marketing e de divulgação, O Último Duelo vem passando despercebido diante de grandes lançamentos do cinema no momento. O elenco composto por grandes nomes de Hollywood é o grande chamariz inicial mas Ridley Scott também traz um roteiro muito bem estruturado e desenvolvido de acordo com eventos históricos de sua narrativa.
A trama inspirada em fatos reais é voltada para o histórico embate entre Carrouges (Matt Damon) e Le Gris (Adam Driver), dois escudeiros inspirados pela ganância e pelo poder, cuja amizade foi completamente destruída pelas ambições de cada um. Quando Le Gris é acusado de estuprar a esposa de Carrouges, Marguerite (Jodie Comer), uma mistura de orgulho e honra os leva diretamente para um duelo, onde apenas um sairá vivo.
Logo nos primeiros minutos de filme, o principal objetivo do diretor é evidenciado, uma vez que somos apresentados à última cena do longa. De forma brutal e sanguinária, o duelo entre os dois homens é visto por uma multidão alegre, torcendo pela morte mais cruel possível.
Scott optou por dividir seu filme a partir de três perspectivas diferentes, cada qual narrando a visão dos mesmos eventos sob o olhar de Carrouges, Le Gris e Marguerite. Embora relatem cenas repetidas, o diretor usa de recursos como jogo de câmera e detalhes escondidos para diferenciar o olhar de cada personagem. O resultado é um filme bem estruturado e dinâmico, mas acima de tudo, claro sob o ponto de vista do público.
Uma das cenas de maior destaque deixa claro o jogo de câmeras e a forma como Le Gris observou o comportamento de Marguerite, com olhares sensuais e provocadores. Já no ponto de vista dela, descobrimos que tais olhares nunca aconteceram e que existiram apenas na interpretação do cavaleiro. Ao longo de todo o filme, momentos como esse se repetem, revelando ao público gradativamente o que realmente aconteceu e a verdade por trás da história.
Os grandes narradores da história
Não há uma atuação que possa ser criticada em O Último Duelo, com cada ator e atriz entregando uma interpretação perfeita de seus personagens. Ben Affleck vive Pierre d’Alençon, a escória da nobreza francesa, um senhor de terras corrupto, carrasco e adúltero, disposto a tudo para ter sua cama repleta de mulheres e seu copo sempre cheio do melhor vinho.
Adam Driver e Matt Damon dividem o protagonismo dos cavaleiros, cada qual com sua singularidade e charme. A mudança nos pontos de vista mostra ao público o caráter verdadeiro de cada um e nos obriga a tentar escolher um lado, algo que é praticamente impossível. Como defender um homem que acusa outro de estupro, sendo que ele mesmo trata sua esposa de forma cruel e violenta?
A grande estrela de O Último Duelo é Jodie Comer, atriz que já vinha se destacando por sua atuação brilhante na série Killing Eve. Enquanto os homens lutam pela honra e por cargos hierárquicos, ela encontra a força para relatar um estupro em uma sociedade machista, onde nem mesmo as mulheres ficam ao seu lado, temendo retaliação.
Nos pontos de vista de Carrouges e Le Gris, Marguerite está sempre em segundo plano, como uma esposa perfeita e subordinada ao seu marido, ou como a sociedade lhe obriga a chamar, seu senhor. Quando o plano muda e descobrimos a verdade por trás do que aconteceu com ela, o filme nos apresenta ao protagonismo de uma mulher machucada, violentada e disposta a lutar por seus direitos. Palmas e mais palmas para a atuação de Jodie Comer!
Após assistirmos às mesmas cenas três vezes diferentes, Ridley Scott encerra com sua jogada de mestre. Aguardamos 152 minutos para vermos a batalha final e quando ela finalmente acontece, o embate vale a pena a espera. Por mais que o destaque pareça nos levar para o campo, é Marguerite que a câmera busca a todo tempo, dando ao público a visão de quem mais sairá perdendo caso Carrouges seja derrotado.
O Último Duelo é um filme sobre uma batalha, o estupro de uma mulher e uma sociedade machista e intolerante. Escrito por dois homens, o longa chama a atenção por apresentar pontos de vista diferentes, mas acima de tudo, por ter os cuidados em destacar os sofrimentos femininos vivenciados por Marguerite. Com um roteiro incrível e atuações fenomenais, é uma ótima pedida para os fãs do cinema.