Crítica: Passageiro Acidental se perde na vastidão do cosmos
Crítica: Passageiro Acidental se perde na vastidão do cosmos
Filme não consegue encontrar sua própria identidade.
O mais novo lançamento da Netflix, Passageiro Acidental veio com um gostinho de ficção científica, mas na verdade é um drama que explora a vida de três pessoas que estão em uma missão pelo espaço, quando tudo começa a desmoronar depois que descobrem um quarto passageiro. O filme foi dirigido por Joe Penna e coescrito por ele e Ryan Morrison.
Com uma premissa interessante e toques minuciosos de brilhantismo aqui e acolá, o maior problema do longa é sua incapacidade em encontrar uma voz original e uma identidade que não soe derivativa. Quer entender mais? Então leia a nossa crítica do filme aqui!
Ficha Técnica
Título: Passageiro Acidental (Stowaway)
Direção: Joe Penna
Roteiro: Joe Penna e Ryan Morrison
Ano: 2021
Data de lançamento: 22 de abril (Netflix Brasil)
Duração: 116 minutos
Sinopse: Uma tripulação de três pessoas em uma missão para Marte precisa lidar com uma decisão impossível quando um passageiro inesperado coloca a vida de todos na nave em risco.
Passageiro Acidental se perde na vastidão do cosmos!
O espaço é um cenário recorrente em centenas de obras de ficção científica, fantasia e até mesmo cinebiografias. Ao longo dos últimos anos, os dramas também têm tomado conta dessa vastidão estelar, através de obras grandiosas como Interestelar, Gravidade, O Primeiro Homem e até mesmo o subestimado Ad Astra. A Netflix também parece estar investindo nisso, tendo lançado recentemente o morno O Céu da Meia-Noite.
Agora, a mesmíssima plataforma de streaming retorna com Passageiro Acidental, um filme que mira na ficção científica e no thriller de isolamento, mas cujo alicerce principal é o drama. Na trama, três tripulantes embarcam em uma missão para Marte, acoplando-se em uma nave maior à deriva no espaço. Lá, eles descobrem o tal “passageiro acidental” citado no título, um homem que pode pôr em risco a sobrevivência deles e a continuidade da missão.
O que chama atenção, logo de cara, é o peso do elenco. Toni Collette interpreta a comandante Marina Barnett, e ela é auxiliada por Daniel Dae Kim como o biólogo David Kim e a pesquisadora médica Zoe Levenson, interpretada por Anna Kendrick. Os três compartilham de uma dinâmica muito boa, criando um vínculo que vai além das necessidades da missão.
A figura que se junta a eles é o engenheiro de suporte Michael Adams, interpretado por Shamier Anderson. Ele era parte da tripulação anterior, mas acabou sendo deixado para trás. Quando o encontramos, ele está inconsciente, ferido e com memórias confusas e espaçadas. Juntos, os quatro atores formam toda a base do filme e mandam bem, apesar de não terem muito o que fazer por conta do roteiro.
Em vez de seguir a tendência clássica dos filmes de naves espaciais cheios de ação e momentos magnânimos, o filme dirigido por Joe Penna preza por um minimalismo curioso, que vai desde o visual à interação de seus personagens. Toda vez que ouvimos eles falando em comunicadores, nunca conseguimos ouvir as pessoas com quem eles falam. É uma decisão interessante, que ajuda a manter o foco nos protagonistas e seus sentimentos.
O grande problema aqui é a falta de uma identidade consolidada. Passageiro Acidental soa como um filme sobre uma tripulação espacial que poderia acontecer em qualquer outro cenário. Fosse uma casa, um navio ou um bunker secreto, daria na mesma coisa. E isso acaba fazendo com que todo o esmero técnico de seu diretor soe incoerente, já que a obra nunca se permite explorar o vazio existencial que surge da premissa.
Quando Michael é encontrado, os três tripulantes “originais” começam a discutir a respeito da falta de suprimentos, seja comida ou oxigênio – e isso certamente é colocado à prova. Porém, o filme poderia ir além nessa “síndrome da cabana” – tão bem explorada em filmes como Alien: O Oitavo Passageiro, Vida e até mesmo O Iluminado – e trazer mais confronto entre seus personagens. Mas muito pouco disso acontece.
A cena onde isso mais se destaca é quando o biólogo, David Kim, sugere que Michael “faça um sacrifício” pelo bem da missão e da tripulação. A cena é bem impactante e conta com uma ótima atuação por parte de Shamier Anderson, mas é contornada pouco depois e o assunto mal volta a ser tocado, o que faz com que os personagens nunca tenham que confrontar o peso de suas próprias decisões.
Para não dizer que o filme é de todo ruim, devo confessar que o visual é encantador. Não apenas a nave funciona de uma maneira muito minimalista e “operante”, esbanjando um realismo sufocante, como o próprio espaço serve para colocar a sanidade do quarteto à prova. Toda vez que olhamos por uma janela, as estrelas se movem rapidamente e sem muita cerimônia, como se a própria nave estivesse rodopiando a todo momento.
Isso não apenas cria um senso de desorientação nos personagens como também no próprio espectador. A cada vez que temos um vislumbre do espaço, é diferente do que ver o cenário estático e pacífico de obras mais fantásticas que nem Star Wars e até mesmo Interestelar. É como se o universo estivesse sempre se movimentando para “jogar” esses personagens em situações cada vez mais estarrecedoras.
O problema é que o próprio roteiro não segue essa escolha estilística e opta sempre pelo seguro. Até mesmo o final, que poderia ser um clímax emocionante e maduro, acaba sendo um tanto frustrante. É como se ele estivesse ali para verbalizar tudo o que o filme queria dizer até o momento e não encontrasse as palavras certas para empregar. É uma pena, pois tenho certeza que Joe Penna conseguiria fazer algo mais deslumbrante se não fosse coautor do roteiro.
Passageiro Acidental não é o tipo de filme que vai te fazer pensar que o “fim do cinema está próximo” e que os filmes devam parar de ser produzidos. Nem mesmo se compara à leva mais tóxica de conteúdos despejados pela Netflix todas as semanas. Mas é um longa muito bonito e cheio de estilo, que acaba entregando uma trama e um desenvolvimento bem aquém de seu potencial.
Passageiro Acidental está disponível na Netflix.
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