Crítica: Palavras que Borbulham como Refrigerante é um romance quentinho para dias tediosos

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Crítica: Palavras que Borbulham como Refrigerante é um romance quentinho para dias tediosos

Por Gabriel Mattos

Enquanto os longas animados ocidentais ficam mais artificiais, filmes de animes continuam a oferecer um sopro de vida e tranquilidade. Há uma serenidade difícil de se replicar, presente não apenas nos projetos do estúdio Ghibli, mas em sucessos recentes como Your Name. Palavras que Borbulham como Refrigerante segue essa tradição na tela da Netflix com um romance bobinho que reflete a essência da geração Z.

Entretanto, se você ficou intrigado por seu título chamativo e cores vibrantes, é melhor ajustar suas expectativas. Essa roupagem ousada e moderna esconde uma narrativa simplória e molenga, que apenas recicla clichês para uma realidade moldada pelas redes sociais.

Toda a trama orbita ao redor das inseguranças adolescentes de Cerejinha e Sorrisinho. Ele prefere se comunicar com haikus, curtos poemas japoneses, que publica em sua conta no Twitter. Ela é uma influencer do Instagram com vergonha do seu sorriso protuberante. O romance começa a se desenvolver quando seus celulares são trocados após uma cena caótica no shopping.

A sequência inicial é uma grande confusão de cores e formas — um efeito colateral do estilo de arte marcante do filme. O estúdio optou por uma paleta de cores vibrante, hipersaturada, que combina com a iluminação quase inexistente dos cenários e personagens. É um banquete visual que contrasta com os momentos de calmaria que dominam o longa, mas se mostra uma distração nas poucas cenas que exigem muita ação.

Cores vibrantes tem seus pontos altos e baixos

Logo no começo, por exemplo, enquanto os personagens estão sendo introduzidos, temos uma cena com cortes rápidos entre os protagonistas e manobras empolgantes de um skatista. Entender o que exatamente está acontecendo na tela é menos simples do que deveria, destruindo a imersão por um momento. Mas quando a situação enfim se aquieta, podemos contemplar a beleza de uma direção de arte ousada em um filme sereno.

Contemplação define bem o primeiro ato, que segue a fórmula clássica de um slice of life: a maneira perfeita para cozinhar com calma a apresentação de seus personagens. Conhecer a rotina de trabalho e de lazer da dupla conquista empatia ao expor a sensibilidade e vulnerabilidade de cada um. A integração da tecnologia é essencial neste momento, marcando os conflitos internos que serão desenvolvidos. É uma exposição leve e gostosa de se ver. O problema é que o diretor não sabe a hora de parar.

Cerejinha e Sorrisinho tem uma dinâmica divertida de um casal de introvertidos

A casualidade estendida evoca um estado de anestesia que dificulta a transição na virada de tom da narrativa. O segundo ato quebra bruscamente o ritmo: o que era um relato descompromissado e intimista dos dias de verão de dois jovens tímidos se transforma em uma divertida caçada ao tesouro recheada de mistérios e romance. Empolga, mas deixa a sensação de que toda aquela exposição foi em vão.

O romance água com açúcar é desses que você encontra em qualquer filme da Sessão da Tarde, mas acaba funcionando muito graças ao plano de fundo aventuresco da busca por um vinil perdido. Tudo fica mais urgente devido a corrida contra o tempo e os sentimentos precipitados acabam se justificando, mesmo com um curtíssimo terceiro ato.

A busca pelo vinil movimenta a segunda metade da aventura

Nem os problemas gritantes de estrutura do roteiro são capazes de ofuscar a delicada história de amor de Cerejinha e Sorrisinho. No fim, Palavras que Borbulham como Refrigerante mostra como conquistar o público explorando os pontos fortes de protagonistas introvertidos. Não entrará para a história como um filme marcante, mas cumpre com eficiência a promessa de entregar um romance suave para alegrar dias tediosos.

Nota: 3.5/5

Palavras que Borbulham como Refrigerante está sendo exibido na Netflix.

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