Crítica: Maligno é o retorno triunfal de James Wan aos filmes de terror
Crítica: Maligno é o retorno triunfal de James Wan aos filmes de terror
Excessivo mas nunca inconsistente, filme mistura um pouco de cada subgênero e deixa claro que foi pensado para divertir
Dentro do horror blockbuster, não há figura mais interessante que James Wan. O diretor australiano é praticamente o Midas do terror já que tudo que toca vira ouro, como foi o caso de Jogos Mortais, Sobrenatural e Invocação do Mal. Nos últimos anos, ele levou esse talento para outros gêneros, comandando Velozes e Furiosos 7 (2015) e Aquaman (2018).
Agora, cinco anos após seu último projeto macabro, ele retorna ao terror com Maligno (2021), um filme que surpreendentemente consegue ser um blockbuster grandioso e projeto experimental ao mesmo tempo.
Ficha técnica
Título: Maligno (Malignant)
Direção: James Wan
Roteiro: James Wan, Ingrid Bisu e Akela Cooper
Data de lançamento: 9 de setembro de 2021 (Brasil)
País de origem: Estados Unidos
Duração: 1h 51 min
Sinopse: Madison se vê paralisada por visões chocantes de assassinatos brutais, e seu tormento só piora quando descobre que esses pesadelos vívidos são, na verdade, realidades aterrorizantes.
Pesadelos vívidos
Maligno acompanha Madison Mitchell (Annabelle Wallis), uma mulher que se vê presa em um relacionamento abusivo, que espera que o vindouro nascimento de sua filha seja a página em branco que precisa para recomeçar. Seus sonhos são arruinados quando sua casa é invadida durante a noite, seu marido é assassinado, e ela perde o bebê. Logo, Madison descobre que seu pesadelo está apenas começando quando percebe ter criado uma conexão com o assassino, sendo forçada a assistir aos crimes brutais do invasor como se estivesse na cena do crime, imobilizada.
O primeiro ato do filme traz todas as marcas registradas de James Wan, como o foco na casa que servirá como cenário, a introdução de um núcleo familiar e, claro, seus clássicos sustos que brincam com a antecipação e atenção do público. Pelos minutos iniciais, é possível se enganar de que o diretor está se repetindo, mas logo ele deixa algo muito claro: seu propósito em Maligno é se divertir, e ele quer levar o público junto nessa jornada bizarra. Quando o filme engata a segunda marcha, não há nada que o desacelere.
O longa transita entre vários subgêneros do horror. O slasher, categoria dos maníacos assassinos, serve como estrutura para a obra. Mas em quase duas horas de duração, o cineasta brinca com elementos sobrenaturais, com invasão domiciliar, paralisia do sono, conduz uma investigação policial, adiciona uma pitadinha de ficção científica, entrega cenas de ação intensas, e ainda mostra momentos de terror corpóreo bastante gráficos – tudo muito bem embalado com uma estética pulsante e estilosa inspirada nos giallo, os filmes italianos de crime e morte, popularizado por nomes como Dario Argento e Mario Bava.
O mais surpreendente é como Maligno se mantém consistente em meio à essa jornada absurda. De assassinos de luva de couro e facas douradas, à porradaria honesta rodada em planos abertos, o estilo de James Wan é constante, e demonstra a confiança de um cineasta envolvido com o gênero há décadas. Aqui, o diretor quer explorar o quão longe consegue ir sem perder a sua essência, e seu carinho pelas várias vertentes do horror transparecem através de homenagens que soam autênticas e inventivas.
Para garantir que a trama fique a par de todas essas mudanças, o roteiro abraça momentos de breguice sem medo, que incrivelmente conversam com as viradas mais dramáticas, graças à atuações sólidas do elenco, em especial de Annabelle Wallis. A atriz, que se redime por ter estrelado o primeiro Annabelle (2014), aqui acerta nas reações caricatas que dão charme aos momentos mais intensos, mas também na sensibilidade de uma mulher verdadeiramente confusa e assustada ao presenciar sua vida desmoronando, mesmo que sem entender o motivo.
Os avanços da investigação policial e as reviravoltas são apresentadas de formas tão exageradas, realçadas pela trilha sonora de Joseph Bishara, que é impossível não abrir um sorriso, ainda que isso não diminua o impacto. É um filme que não esconde ser excessivo, e isso é parte de seu apelo.
Talvez Maligno não parece tão ousado para a parcela mais veterana do público de horror, dos críticos especializados e daqueles que frequentam festivais de gênero. Afinal, esses são grupos que lidam regularmente com o bizarro em obras muito mais experimentais. Por mais que James Wan receba esses fãs de braços abertos, o diretor sempre mirou no espectador comum, que consome apenas o que chega às salas dos grandes circuitos. Aqui não é diferente, e o cineasta entrega algo completamente único e altamente estranho para o horror mainstream.
Com homenagens honestas à variedade do gênero, e boas doses de espetáculo e ação intensa, Maligno tem potencial de alcançar o efeito conciliatório de algo como Mad Max: Estrada da Fúria (2015), por ser uma obra de gênero tão bem construída e ambiciosa que consegue reunir tanto cinéfilos quanto o espectador casual para se divertir por um estiloso pesadelo, e com um argumento que todos podem concordar: James Wan fazia falta no terror.
NOTA: 4/5
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