Crítica: Love, Death and Robots, Temporada 2
Crítica: Love, Death and Robots, Temporada 2
Antologia de animações futuristas da Netflix retorna com grande estilo
Love, Death and Robots é diferente de outros programas que a Netflix costuma produzir. Ao invés de uma série em que a história de cada episódio se completa em uma elaborada narrativa principal, esta é uma antologia de animações bastante únicas onde cada episódio é dedicado a explorar um de seus temas centrais: amor, morte e robôs.
Com uma duração reduzida, a segunda temporada amadurece ainda mais o conceito da obra. A nova leva apresenta episódios mais longos para um público mais adulto, imbuindo significado e reflexão à nudez e violência antes gratuitas. Mesmo que nem todos os curtas impressionem, a elevação na qualidade em geral é notável.
Ficha técnica:
Título: Love, Death and Robots (Temporada 2)
Criação: Tim Miller
Direção: Meat Dept, Robert Valley, Jennifer Yuh Nelson, Dominique Boidin, Léon Bérelle, Rémi Kozyra, Maxime Luère, Simon Otto, Elliot Dear, Alex Beaty e Tim Miller
Ano: 2021
Data de lançamento: 14 de maio (Netflix Brasil)
Número de episódios: 8
Sinopse: Uma coletânea de curtas animados sobre amor, morte ou robôs.
Amor
A maior consequência da duração prolongada dos episódios individuais é um espaço maior para desenvolver a premissa de cada curta ao extremo. Histórias como “Snow no Deserto” aproveitam o tempo extra para construir um cenário mais vivo habitado por personagens complexos que interagem de maneira orgânica na trama sem que tudo pareça corrido.
Outro exemplo excelente é o episódio “Esquadrão de extermínio” que consegue construir relações poderosas entre o protagonista e um grupo diverso de personagens para acrescentar diferentes perspectivas a uma história cheia de nuances. Assim, o curta consegue abrir espaço para discutir um tema intrigante ao mesmo tempo que emociona.
Por incrível que pareça, a quantidade limitada de episódios acabou refletindo positivamente na diversidade de estilos artísticos.
Nesta temporada, a presença do fotorrealismo é bem menos dominante. A curadoria conseguiu trazer curtas mostrando influência de estilos de animação marcantes, como o stop motion, e até mesmo movimentos artísticos tradicionais, como o expressionismo. Estamos bem longe do que visto em festivais, mas é um progresso notável comparado à primeira temporada.
Além de trazer um grau de novidade muito bem-vindo, estilos de arte mais experimentais ajudam a realçar os temas de seus episódios, transformando o que poderia ser uma experiência fraca em algo mais empolgante. É o caso de “Atendimento Automático ao Cliente”, que consegue ser muito mais engraçado graças a sua animação caricaturista.
Mesmo quando os estúdios decidem apostar na apenas semelhança com a realidade, um estilo visual que poderia acabar sendo menos interessante, eles também dão um espetáculo à parte. É gritante a atenção aos mínimos detalhes, como a complexidade das imperfeições do dente humano. A qualidade estonteante é invejável, algo que deveria ser almejado pelos principais jogos da nova geração de videogames.
Morte
Outro ponto espetacular que precisa ser mencionado é a atuação, que transcende a dublagem em alguns episódios. A série se provou tão relevante que temos a escalação de atores consagrados como Nolan North e Michael B. Jordan. O problema é que o talento inegável de Michael B. Jordan acabou se tornando desculpa para um episódio mais preguiçoso, que recicla conceitos da temporada interior.
Mesmo que de modo geral a qualidade dos episódios tenha aumentado, não dá para negar que nem todos souberam fazer bom uso da duração estendida desta temporada.
Um exemplo é o curta “O Gigante Afogado” que, apesar da premissa interessante como uma reflexão objetiva sobre a morte de um ponto de vista social, acaba perdendo muito do impacto ao insistir em uma única ideia por muito tempo, sem apresentar desdobramentos interessantes de seu conceito. Acaba sendo um tiro no pé que atrapalha um programa que tinha tudo para ser melhor.
Algumas dessas ideias, como a explorada pelo episódio “A Grama Alta”, não funcionam tão bem no formato de curta. A impressão que fica é que esse episódio foi planejado como a introdução de um longa metragem que foi tirada fora de contexto, porque esse conceito não se sustenta por si só. A reviravolta é dedutível, algo que se repete em outras histórias.
Essa falta de foco pode ser um desdobramento do desapego da maioria desses curtas em discutir exatamente sobre os temas propostos pela antologia. Poucas histórias mostram uma verdadeira influência de ficção científica e fantasia tem um papel cada vez mais relevante.
O que não seria um problema em outra produção, acaba resultando em conceitos menos relevantes com pouco a oferecer para a discussão geral da antologia: a tênue relação entre amor, morte e robôs.
Robôs
A segunda temporada de Love, Death and Robots evolui a promessa da série de entregar histórias curtas para adultos ocupados sobre o que há de mais assustador na vida moderna, mas tropeça na armadilha de explorar ideias sem muito potencial.
Entretanto, quando seus tópicos de fato se entrelaçam, temos os episódios mais marcantes da franquia. Talvez inconscientemente, essas sejam preocupações que afligem a todos. Com a tecnologia avançando a um ritmo estonteante, tememos por nossas relações. Com relações cada vez mais frágeis, tememos a solidão na morte. Com a ameaça constante da morte, tememos que a tecnologia não baste.
Alimentar esse ciclo de pensamentos é inevitável, assim Love, Death and Robots apresenta o potencial de se manter relevante por muito tempo. A única questão é se a série conseguirá aprender a aproveitar ao máximo seu formato para entregar na prática uma experiência tão forte quanto seu conceito.
Relembre os melhores episódios da primeira temporada: