Crítica: Invocação do Mal 3, A Ordem do Demônio surpreende por ser um bom filme
Crítica: Invocação do Mal 3, A Ordem do Demônio surpreende por ser um bom filme
Novo capítulo do universo de Invocação do Mal é o feijão com arroz bem feito!
Uma das franquias de horror mais populares da última década, Invocação do Mal está retornando aos cinemas no terceiro capítulo de sua franquia “principal”, com o subtítulo A Ordem do Demônio. O filme traz de volta a dupla de investigadores sobrenaturais Ed e Lorraine Warren, interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga, e dessa vez, investigando o caso mais insólito de suas carreiras, quando Arne Cheyenne Johnson decidiu se declarar inocente alegando que o “diabo o mandou” cometer um assassinato.
James Wan deixa a direção para seu mais novo pupilo, Michael Chaves (A Maldição da Chorona), e o resultado não poderia ser mais surpreendente – afinal de contas, depois de tantos derivados ruins e genéricos, o terceiro filme da saga consegue ser minimamente respeitável… não que isso signifique muita coisa. A seguir, você pode conferir a nossa crítica do longa!
Ficha Técnica
Título: Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (The Conjuring: The Devil Made Me Do It)
Direção: Michael Chaves
Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick
Ano: 2021
Data de lançamento: 3 de junho
Duração: 112 minutos
Sinopse: Ed e Lorraine Warren investigam um assassino que pode estar ligado a um caso de possessão demoníaca.
Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio surpreende por ser um bom filme
Quando Invocação do Mal chegou aos cinemas, lá em 2013, espectadores e fãs de horror do mundo todo puderam se deleitar com uma nova experiência “baseada em fatos reais”. As aventuras de Ed e Lorraine Warren passaram para os cinemas transformando-os em verdadeiros heróis mitológicos, enquanto a verdade é muito mais sombria, já que os dois nunca foram nada além de oportunistas que se alimentaram de pessoas em necessidade para criar fama e fortuna.
Agora, em pleno 2021, a saga eclodiu de uma maneira que jamais poderíamos prever, tornando-se a “contraparte do terror” de grandes franquias como o Universo Cinematográfico da Marvel e o Universo Estendido da DC, só por ter um universo compartilhado com seus vários spin-offs, derivados e até mesmo quadrinhos. E com essa fama absurda, veio também uma considerável queda de qualidade em longas como Annabelle e A Freira.
Por esse motivo, tínhamos motivos de sobra para não colocar nenhuma fé em Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio – ainda mais levando em conta que a direção fica a cargo de Michael Chaves, que havia nos presenteado com o temível A Maldição da Chorona. Talvez seja essa baixa expectativa ou o fato de que estamos dependentes de um bom filme de terror pipoca, mas o novo capítulo dessa saga até que é bom – ainda que não chegue aos pés do que foi feito nos seus dois antecessores diretos.
E para falar deste filme, é importante explicar um pouco do caso real (e por que devemos ignorá-lo logo em seguida). No começo da década de 80, Ed e Lorraine Warren “auxiliaram” no exorcismo de David Glatzel, um menino que supostamente estava possuído por algum demônio (mas que na verdade, tinha severos transtornos psicológicos). Só que meses depois, o namorado da irmã de David, Arne Cheyenne Johnson, acabou se tornando o alvo de um circo midiático, depois que assassinou o proprietário de sua casa após uma grande discussão.
Arne foi detido ainda com sangue em suas mãos, e durante o julgamento, tentou se safar admitindo que tinha agido por estar possuído por um demônio. Foi a primeira vez na história dos Estados Unidos que esse argumento surgiu na defesa em um tribunal. E no centro de tudo isso, estavam Ed e Lorraine Warren, que não apenas ficaram ainda mais famosos na mídia como também lucraram dando novas palestras e entrevistas explicando o caso.
Se essa história por si só já não é moralmente questionável, o filme dá um passo além ao tratar toda a versão de Arne como a realidade única e irresoluta, o que chega a ser um desrespeito à memória da vítima. E tudo bem que a saga, no geral, sempre “mascarou” a realidade em prol de algo mais fantástico e cinematográfico, mas dessa vez estamos falando de uma morte real. E pior que isso: não satisfeito em adaptar essa história sensacionalista, o filme ainda dá uma volta de 360 e a ignora quase que completamente a partir de seu segundo ato.
É claro que Arne Cheyenne Johnson ainda é um ponto central (e aqui, ele é interpretado por Ruairi O’Connor), mas A Ordem do Demônio não perde tempo em partir para uma história completamente original, que envolve uma maldição e uma adoradora do diabo por trás de tudo o que está acontecendo. Talvez, o maior problema aqui seja a falta da coesão narrativa de incorporar esses elementos ao caso “real” e é por isso que qualquer outra história poderia ser encaixada aqui.
Ademais, se os derivados e spin-offs, independente de sua qualidade questionável, já partiram para um reino mais fictício e sem nenhuma conexão com a realidade, a necessidade que Invocação do Mal 3 tem em manter a saga “baseada em fatos reais” é o que mais limita o filme como um todo. Já sabemos que essas versões de Ed e Lorraine Warren não são fiéis às pessoas reais, então porque não criar uma premissa totalmente nova e expandi-la, sem que seja necessário enjaular o filme em uma teia de mentiras apenas para que, nos créditos, possamos ouvir supostas gravações de pessoas encapetadas?
E apesar desses apesares, o filme não chega a ser um desastre completo e funciona bem como um “feijão com arroz” do terror, quase como Annabelle 2: A Criação do Mal. Se as habilidades de Michael Chaves já haviam sido questionadas anteriormente, aqui ele mostra que é um diretor com visão, personalidade e talento, ainda que peque nos jumpscares mais formulaicos. Mais do que emular o estilo de James Wan, ele consegue dar vida a algo novo, levando essa história mais para o lado da investigação sobrenatural que para as casas mal-assombradas e espíritos.
De longe, é o mais fraco da trilogia, mas para quem esperava uma nova bomba no nível de A Freira e A Maldição da Chorona, é uma surpresa positiva. E por mais que a ausência do clima de urgência e tensão seja bem palatável, nós podemos ver que existem momentos de brilhantismos escondidos em uma camada genérica de sustos e demônios. Por exemplo, há uma cena na metade do filme que envolve um necrotério, e é um momento glorioso de como a saga sabe incutir um verdadeiro pavor até em coisas banais.
Por outro lado, outro acerto significativo está na “vilã”, uma bruxa ocultista que já apareceu em vários trailers. Por mais que a personagem não tenha lá um visual muito impactante, há uma centelha de backstory aqui e o filme nunca tenta fazer dela o centro das atenções apenas para vender a ideia de outro spin-off desnecessário, como é o caso de Annabelle 3: De Volta Para Casa que foi uma verdadeira Carreta Furacão de demônios e assombrações.
E é por isso que, apesar de frágil e moralmente questionável, eu ainda vejo algum potencial em Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio. Claro que, a essa altura do campeonato, já está na hora da franquia partir de vez para o mundo dos espíritos e não se alongar mais sobre a terra. Mas talvez, com esse terceiro filme, a Warner ainda tenha a chance de fazer essa despedida em um tom positivo, antes que tudo seja contaminado por mais derivados ruins ou um quarto filme verdadeiramente medonho – e não no bom sentido.
Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio está em cartaz nos cinemas brasileiros.
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