Crítica: Ghostbusters Mais Além parece um derivado de Stranger Things com orçamento de cinema

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Crítica: Ghostbusters Mais Além parece um derivado de Stranger Things com orçamento de cinema

Por Gabriel Mattos

Se um problema surge na sua vizinhança, quem você vai chamar? Quem cresceu nos anos 80, vai ter a resposta na ponta da língua — Os Caça-Fantasmas, é óbvio! A franquia que mistura comédia e ficção científica com monstros sobrenaturais fez um sucesso estrondoso no passado, liderada por Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis e Ernie Hudson. Mas desde então, ao tentar explorar novos horizontes, os produtores têm sofrido para atualizar este conceito para uma nova geração.

Em 2016, a tentativa ousada de reimaginar a franquia com um elenco feminino dividiu opiniões, o que obrigou a Sony Pictures a encarar os filmes com novos olhos, procurando um modo de evoluir sem perder sua essência. O resultado desta abordagem amadurecida é Ghostbusters: Mais Além, que encontrou no fenômeno de Stranger Things a fórmula perfeita para transformar nostalgia em um filme empolgante.

Ficha Técnica

Título: Ghostbusters: Mais Além (Ghostbusters Afterlife)

 

Direção: Jason Reitman

 

Roteiro: Gil Kenan e Jason Reitman

 

Data de lançamento: 18 de novembro de 2021

 

País de origem: Estados Unidos

 

Duração: 2h 1 min

 

Sinopse: Uma família herda um casa mal-assombrada e precisando enfrentar uma profecia paranormal que pode trazer o fim dos tempos.

Ghostbusters Mais Além – Pôster Nacional

Ghostbusters Mais Além é um especial de Stranger Things que deu muito certo

A trama acompanha a desestruturada família Spengler, ressentida pela reclusão do Caça-Fantasmas Egon por quase 40 anos após os incidentes de Nova Iorque. Quando sua filha recebe a notícia de sua morte, ela leva os filhos para conhecer a cidade onde seu pai havia passado seus últimos anos. Mas ao chegar lá, a família acaba envolvida em uma trama milenar para reviver uma deusa suméria determinada a destruir o mundo.

Ancorar os novos protagonistas tão profundamente na mitologia existente dos Caça-Fantasmas fez toda diferença para construir uma coesão neste universo. Apesar de trazer rostos completamente novos, a sensação de continuidade na história fica aparente desde as primeiras cenas, mesmo que o filme esteja determinado a assumir um tom bem diferente.

Longe das galhofas que funcionavam bem nos anos 80, Mais Além se aproxima mais dos sucessos recentes do cinema que encaram fantasia de um jeito mais sério, enquanto flerta com a ficção científica e um leve toque de terror. Pode parecer uma mistura arriscada, mas incorporar técnicas do terror ajuda a destacar o longa do resto da franquia, seja com os esparsos jump scares ou do jeito esquivo de apresentar seus monstros e mistérios.

Sequência abusa do mistério para construir a narrativa

O grande motor da narrativa é como Jason Reitman usa o suspense para construir mistério, espalhando peças do quebra-cabeças de Mais Além entre os diferentes núcleos do longa. Assim, enquanto o público começa a entender melhor para onde o enredo está se encaminhando, os personagens continuam alheios ao perigo. Se por um lado isto torna o primeiro ato muito arrastado, quando a história engata é como uma montanha-russa que nunca desce.

Assim, a comparação com Stranger Things é praticamente inevitável, especialmente considerando a escalação de Finn Wolfhart, como Trevor, para liderar o núcleo adolescente da trama. Mas enquanto a série da Netflix conseguiu balancear bem cada segmento de seu elenco, Mais Além assume uma postura mais segura, consciente de que o único núcleo que realmente empolga é o infantil, e decide apostar todas as suas fichas (e o tempo de tela) nas crianças da trama, uma decisão que não poderia ser mais acertada.

Mckenna Grace, como a jovem e peculiar Phoebe, rouba a cena desde os primeiros minutos da trama, provando ser a escolha certa para assumir o manto de Caça-Fantasmas da nova geração. E por ser um dos elementos mais intensos do longa, houve um cuidado em selecionar personagens mais leves e bem-humorados para contracenar com ela: o incrível Paul Rudd e o encantador Logan Kin, que conquista com o carisma do Podcast.

Podcast, Phoebe e o professor de Paul Rudd são os destaques no elenco

A sintonia deste trio é absurdamente orgânica, especialmente quando eles estão seguindo os passos dos Caça-Fantasmas originais para entender melhor o inimigo que eles precisam enfrentar. E felizmente, essa injeção inevitável de nostalgia é feita de um modo que não ofusca a história original que este filme se propõe a contar.

Nenhum elemento aparece com o único intuito de agradar os fãs, tudo é incorporado na história de forma natural. É visível que a repercussão fervorosa do reboot de 2016 despertou nos produtores uma consciência maior de como trabalhar uma franquia mergulhada em nostalgia, mas por sorte eles não se rebaixaram ao artifício barato de usar fanservice como substituto para um bom roteiro. Pelo contrário, tudo em Mais Além é muito bem amarrado.

Enquanto o filme anterior tentou demolir o imaginário dos Caça-Fantasmas para criar algo novo, Mais Além optou por uma reforma que sabe exatamente como aproveitar a estrutura que já existe para construir sua própria narrativa. Deste modo, agrada os fãs mais apegados ao passado sem deixar de apresentar bastante inovação.

Homenagem emociona sem competir com a narrativa

O jeito que o filme olha para o passado, inclusive, é com tamanho respeito que decisões técnicas que seriam arriscadas em outros títulos, como recriar atores que já morreram usando efeitos especiais, acabam funcionando como uma emocionante homenagem. É o desfecho mais honroso possível a narrativa que começou em 1984, deixando o caminho livre para uma nova geração de fãs se apaixonar por este universo.

Antes de assistir Ghostbusters: Mais Além, eu tinha um enorme receio que o filme acabasse se perdendo em uma obsessão de reviver tempos de outrora. No fim, fui surpreendido com uma obra contida, fortalecida por seu legado e consciente de que não vale a pena tentar repetir o passado, apenas aprender com ele. Assim, este filme constrói sua própria identidade que deve guiar o futuro da franquia para um destino empolgante.

Nota: 4.5/5

Ghostbusters: Mais Além estreia exclusivamente nos cinemas em 18 de novembro.

Enquanto o filme não chega, que tal se aquecer para o Halloween com filmes de terror da Netflix?