Crítica: O Esquadrão Suicida é a prova de que a DC Comics está corrigindo seus erros
Crítica: O Esquadrão Suicida é a prova de que a DC Comics está corrigindo seus erros
Filme ignora seu antecessor – ou melhor, o recria do jeito certo!
Chegando aos cinemas brasileiros nesta semana, O Esquadrão Suicida é o mais novo filme agregado ao Universo Estendido da DC, marcado como a estreia de James Gunn na popular franquia. Dessa vez, os piores entre os piores são selecionados em uma missão sanguinária em um país latino-americano, enquanto a pilha de corpos cresce cada vez mais em um confronto hilário e sangrento.
O filme traz de volta alguns personagens já estabelecidos, como Arlequina, Rick Flagg e Amanda Waller – mas ao mesmo tempo, apresenta vários personagens originais que compõem esse colossal elenco. Dando continuidade às loucas desventuras dessa equipe (ao mesmo tempo em que renega seu antecessor de 2016), o filme finalmente está entre nós – e agora, você pode ler a nossa crítica!
Ficha técnica
Título: O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad)
Direção: James Gunn
Roteiro: James Gunn
Data de lançamento: 05 de agosto de 2021
País de origem: Estados Unidos
Duração: 2h 12min
Sinopse: Os supervilões Arlequina, Sanguinário, Pacificador e uma coletânea de reclusos malucos na prisão Belle Reve juntam-se à Força-Tarefa X para uma missão secreta e super sombria. Ao serem deixados na remota ilha de Corto Maltese, eles precisam enfrentar um inimigo assombroso.
O Esquadrão Suicida corrige erros do passado e prova seu valor no Universo DC
Há cinco anos, chegava aos cinemas Esquadrão Suicida, filme amplamente difundido pela (excelente) campanha de marketing da Warner Bros., e que prometia mudar todos os rumos do universo compartilhado da DC Comics nos cinemas. Contudo, quando o longa saiu, apesar de seu estrondoso sucesso comercial, vimos um estúdio empenhado em produzir sua própria versão dos Guardiões da Galáxia de uma forma medíocre, para dizer o mínimo.
Servindo como um dos últimos pregos no caixão do Universo Estendido da DC, o longa se provava um desperdício de tempo, dinheiro e talento. Na tentativa de corrigir o erro, a franquia foi deixada de lado, apesar de ter dado início a outros projetos bem cativantes, como Aves de Rapina. E agora, cinco anos depois, a Warner decidiu contratar o diretor de Guardiões da Galáxia para trabalhar a equipe novamente, do jeito certo.
O Esquadrão Suicida é uma sacada genial – não só o filme, mas também seu título. Não é qualquer Esquadrão Suicida (como aquele filme de 2016). É “O” Esquadrão Suicida. E finalmente, feito do jeito certo, como deveria ter sido desde o começo. E o mais curioso de tudo isso? Mesmo sendo dirigido por James Gunn, é um filme que em momento algum tenta ser Guardiões da Galáxia requentado. É algo original e independente. E eu amei.
Poucos diretores conseguem trabalhar a podridão humana de uma forma tão cínica e divertida, ao mesmo tempo em que conseguem dar peso a isso e explorar uma vasta camada de nuances, e James Gunn a cada dia que passa, tem se provado parte dessa patota seleta. Aqui, ele não só traz os “piores entre os piores” para formar a novíssima Força-Tarefa X – mas também prova que existem pessoas ainda piores que eles.
E talvez, esse tenha sido o maior deslize do original de David Ayer. Um filme sobre uma equipe de vilões precisa mostrar eles sendo… bem, vilões. Precisa mostrar como eles são detestáveis e odiosos, e como seu senso de justiça é deturpado. E isso não acontece lá – em vez disso, temos “heróis desgarrados” que, a todo tempo, precisam provar o seu valor e mostrar como eles são legais por salvar o mundo. E aqui, não é bem assim.
Nos quadrinhos da DC Comics, o Esquadrão Suicida (sobretudo nas histórias originais de John Ostrander) era uma equipe polêmica. Seus membros não eram chamados para essas missões apenas porque eles tinham o que era preciso para concluir as missões. Na verdade, eles eram obrigados a fazer isso justamente por serem descartáveis e sujos, os desgarrados e desajustados que o mundo renegava.
E aqui, Gunn consegue trazer nuances em um nível absoluto. Existem personagens maus, personagens odiosos, ao mesmo tempo em que temos figuras incompreendidas e injustiçadas. Não é preto no branco – e isso se reflete até na missão principal da Força-Tarefa X, que precisa ir até Corto Maltese para dar fim ao tal “Projeto Estrela-do-Mar”. Eles chegam bem no meio de uma crise política fortíssima, e aí o papel da equipe vai ficando cada vez mais borrado.
É até impressionante ver um filme, de grande estúdio, lidando tão bem com temas como o imperialismo dos EUA e sua mania de interferir nos negócios de outras nações – nesse caso, países em desenvolvimento da América Latina. Nessa pegada, o longa acerta muito bem o tom de sua sátira, até indo de encontro com obras bem críticas, como por exemplo Nascido Para Matar e Apocalypse Now.
Contudo, nada disso seria possível se o filme não fizesse um mínimo esforço para te apresentar e desenvolver bem seus personagens. Já no começo, temos uma bela introdução de várias figuras em núcleos diferentes – e apesar do escopo ser quase que o dobro do longa de 2016, Gunn faz isso com uma facilidade impressionante. E não se engane: os novatos tem tanta participação quanto nomes já conhecidos, como Arlequina, Bumerangue e Rick Flag.
Mesmo os personagens que são apresentados apenas como carne para o abate – não vamos dar spoilers – possuem algum apelo para o público, seja em seu visual ou em cenas memoráveis. Em alguns casos, a própria morte dessas figuras vai marcar a mente de muitos e fazer os fãs se lembrarem de seus nomes. E nesse sentido, temos o tom ideal, já que o filme realmente aproveita cada segundo disponível de sangue e violência.
Porém, como um todo, o que mais impressiona em O Esquadrão Suicida é sua versatilidade narrativa. O filme vai de cenas extremamente divertidas e “idiotas” (no melhor sentido da palavra) para momentos de tensão ou drama, e tudo isso é feito de uma forma tão natural que nunca sentimos um “peso” entre essas transições. O ritmo e o tom são muito bem conduzidos, de uma forma fluida e fazendo você se animar a cada nova reviravolta.
As atuações são ótimas, tanto quando pendem mais para o lado da comédia e o humor (no caso de Margot Robbie e John Cena), quanto quando exigem algo mais dramático (e nesse sentido, tanto Idris Elba quanto Daniela Melchior dão um verdadeiro show). Porém, as melhores interpretações são extraídas quando os personagens nos revelam algo mais sobre o contexto do filme – o caso de Viola Davis, que faz uma Amanda Waller assustadora.
E a estética é outra coisa que vale menção. De muitas formas, Gunn parece estar seguindo os passos que Cathy Yan deu em Aves de Rapina, tanto na construção de sua história e subversão desses personagens quanto no apelo visual. Porém, dá pra ver nitidamente a assinatura do diretor – e devo dizer que o cuidado com efeitos visuais é algo bem impressionante, ainda mais vindo do estúdio que teve a pachorra de fazer aquele final de Mulher-Maravilha ou todo o Liga da Justiça de Joss Whedon.
No geral, é o filme que marca todas as caixinhas e que mostra como não existem ideias idiotas quando o assunto são super-heróis – mas é necessário um grande esforço para adaptar esses conceitos mais “controversos” para o cinema, mesmo que você tente fazer tudo o mais “quadrinesco” o possível. Não fosse a linguagem, a sagacidade e o estilo de Gunn (e provavelmente a liberdade criativa concedida pela Warner), o longa não seria metade do que é agora.
Enfim, tudo isso para dizer: esqueça o Esquadrão Suicida de 2016 e conheça O Esquadrão Suicida, a versão 2.0 e reformulada dessa equipe, que finalmente disse a que veio no Universo Estendido da DC e marcou todo o seu território com louvor. Se essa mesma formação (ou esses personagens, individualmente) serão revisitados na saga, ainda não sabemos. Mas é a prova concreta de que a Warner está disposta a corrigir seus erros, enquanto segue em frente sem olhar para trás.
O Esquadrão Suicida está em cartaz nos cinemas.
Abaixo, conheça todos os personagens de O Esquadrão Suicida: