Crítica: Castlevania, Temporada 4

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Crítica: Castlevania, Temporada 4

Por Melissa de Viveiros

Castlevania estreou em 2017, com apenas quatro episódios e uma premissa simples: três protagonistas se unindo para combater o poderoso Conde Drácula. Desde então, a produção recebeu mais episódios, introduziu mais personagens e apresentou tramas bem mais complexas que acabar com um inimigo ameaçador. Embora muitos tenham sido conquistados pela qualidade da animação ou pelas cenas de ação altamente violentas, a série sempre teve muito mais a oferecer. Agora, com o fim desta jornada, a obra baseada nos jogos da Konami se consolida como uma das melhores que a Netflix já produziu.

A quarta e última temporada estreou nesta quinta-feira (13). Com a expansão de seus núcleos na segunda e terceira temporadas, os novos episódios precisam retomar tramas bastante divergentes antes de encaminhá-las para o grande final. Há alguns tropeços pelo caminho que impedem a parte final da grande saga de ser considerada perfeita. Ainda assim, a série se mostra capaz de superar estes problemas e apresentar uma conclusão bem satisfatória para uma série excelente.

Ficha Técnica

Título: Castlevania

Criação: Warren Ellis

Direção: Sam Deats e Amanda Sitareh B.

Ano: 2021

Data de lançamento: 13 de maio

Número de episódios: 10

Sinopse: A influência de Drácula cresce à medida que Belmont e Sypha investigam os planos para ressuscitar o famoso vampiro. Alucard tem dificuldades para abraçar seu lado humano.

Uma jornada com altos e baixos

Quando a terceira temporada de Castlevania foi concluída, muitos de seus personagens terminaram em pontos baixos. Após meses de solidão, Alucard se abriu para Taka e Sumi, mas a dupla o deixa traumatizado e desiludido, parecendo desejar seguir o mesmo caminho de seu pai. Trevor e Sypha precisam lidar com a derrota e a realidade de que muitas vezes os piores monstros são humanos, seguindo sua jornada consideravelmente abatidos. Hector deposita sua confiança em Lenore, mas acaba preso às vampiras e tendo que trabalhar para seus objetivos. Só quem se sai bem é o quarteto que governa a Styria e Isaac, que tem tudo que precisa para dar continuidade a seus planos de vingança.

Algumas dessas histórias são continuadas de modo bem direto na quarta temporada. Começando com Belmont e Sypha, a série nos mostra as repercussões que toda a situação que viveram continua a ter conforme a dupla tenta seguir adiante. Mesmo o relacionamento dos dois não fica imune, e o que se inicia aqui é uma jornada que dura toda a temporada, na qual os dois precisam não somente lidar com o que acontece e impedir o retorno de Drácula, como também encontrar direcionamento para seu futuro.

Ao mesmo tempo, ambos precisam resgatar um pouco de suas raízes. Trevor se mostra apto e determinado a assumir seu lugar como um Belmont, concluindo sua trajetória ao longo de toda a série de maneira muito satisfatória. Entre novas armas e referências aos jogos, quem se destaca é o próprio personagem, mostrando os resultados de toda sua caminhada até aqui.

Sypha, por outro lado, retoma a sabedoria e valores de seu povo. Ainda que as aventuras que viveu a tenham distanciado um pouco desse caminho, um de seus melhores momentos é esse resgate, quando ela percebe que há muito a se fazer para consertar as coisas além de combater monstros.

De modo semelhante, é notável o quanto Alucard retorna ainda impactado por tudo que viveu. Apesar disso, sua natureza não deixa de ser diferente de seu pai, e por mais que tente, o meio-vampiro não consegue ignorar a dor dos outros. Decidindo entre o que ele deseja ser para se poupar de mais dor e o que é correto, bem como seu próprio desejo por contato e proximidade em oposição ao distanciamento para se proteger, o dilema interno do personagem é muito bem trabalhado, concluindo o arco excelente de um personagem que é muito mais que a sombra de Drácula.

O trio recebe o destaque que merece, tanto juntos quanto separadamente. Tudo que acontece com cada um deles tem propósito e consequências que nunca são ignoradas. Os protagonistas já passaram por muito, mudando no decorrer de todos estes eventos. Aqui, eles enfrentam ainda mais, continuando a crescer e atingindo conclusões muito significativas.

Saindo do trio principal é que a trama começa a se complicar. Carmilla continua planejando tomar cada vez mais do mundo para si, mesmo enquanto o plano das quatro irmãs começa a ser colocado em prática. Lenore é a única outra das governantes que permanece no castelo, tentando encontrar seu lugar em um meio onde a diplomacia não é mais necessária. Enquanto isso, Striga e Morana estão em campo, avançando as batalhas e estratégias das quais sua líder as convenceu anteriormente.

Logo fica claro que o quarteto não está tão unido assim em seu propósito. A ambição de Carmilla coloca em risco a estabilidade que as outras desejam, algo que tem certa influência no fim de cada uma delas. Ainda assim, a sede de poder nunca reduz a vampira a um personagem genérico. Mesmo aqui, ela é caracterizada de modo interessante e recebe uma finalização bastante digna. As outras três também ganham mais profundidade, com cada uma terminando em um ponto coerente com suas experiências e desejos, nunca sendo reduzidas simplesmente a parte da história de outro personagem.

Isaac decide pausar sua marcha por vingança, permanecendo na vila onde o vemos pela última vez. Lá, o forjador parece encontrar mais propósito em reconstruir do que na destruição, tema que ecoa ao longo de sua jornada. Depois de tudo que ele vive na terceira temporada, seu início aqui surpreende, mas é construído de maneira bem feita, e mostra ter grande importância no destino do personagem.

Em certo ponto, a série parece querer confundir o público propositalmente, para que o fim do personagem seja visto como algo inesperado ou surpreendente, o que acaba pesando negativamente para o arco. Ainda assim, o momento é breve, e a história não sofre grandemente com isso. O personagem cresce de maneira interessante e muito bem apresentada, fechando sua participação de modo impactante e até emocionante.

Em determinado momento, Saint Germain também volta à cena. Mais sobre seu passado é revelado, além de a série mostrar o que ele fez após suas aventuras com Trevor e Sypha. Tudo ao redor dele se torna mais complicado e um tanto sombrio. Ainda assim, seu grande objetivo permanece relacionado ao Corredor Infinito e a tentativa de reencontrar sua amada, o que o torna menos interessante em comparação a outros personagens. É seu dilema moral, mais que seu crescimento, que tornam sua participação boa.

Último rosto conhecido entre aqueles que têm maior impacto na trama, Hector é quem mais se distancia de como é visto pela última vez. Na nova temporada, não há qualquer hesitação, medo ou desespero no personagem. Pelo contrário, ele se mostra muito mais confiante que antes, já tendo planos próprios e usando da boa vontade de Lenore para colocá-los em prática.

É esta a mudança mais destoante, pois o tempo de um mês e meio em que não o vemos parece pouco para o desenvolvimento que ele tem, tanto por si só quanto em sua relação com a vampira. Apesar do que sofreu, ele demonstra sentimentos genuínos por ela, sem que os eventos do fim da terceira temporada tenham qualquer peso nisso. Tudo em relação a ele parece ser decorrência de um salto que vai além do temporal, e mesmo que bons momentos ocorram por causa dessa mudança, não há a sensação de que ela é merecida, sendo apenas abrupta. Ainda que encontre um fim coerente e simples, o caminho até lá deixa a desejar em decorrência disso.

Os personagens novos são variados, mas poucos deles tem real impacto ou carisma. Entre eles, quem mais se destaca é Greta, a líder de uma vila que sofre com ataques das criaturas noturnas. O vampiro Varney também possui momentos bons, ainda que sua trajetória pareça um tanto corrida. Ratko e Dragan, outros vampiros novos, sequer são trabalhados ao longo da série. Por fim, Zamfir possui uma história triste, mas que não é suficiente para compensar por sua caracterização ou torná-la relevante para a trama.

Os tropeços

Como fica claro pelo resumo de onde os personagens começam e suas trajetórias, a quarta temporada tem a difícil tarefa de lidar com múltiplos núcleos de uma vez. Trevor, Sypha e Alucard podem ter começado como protagonistas, mas outras partes da trama se tornaram igualmente importantes, e equilibrar tudo se mostra complicado demais. Por causa disso, a primeira metade da temporada sofre com problemas de ritmo, se esforçando para direcionar todos para sua posição final na história.

O problema em Castlevania nunca é falta de coerência, mas em determinados momentos falta desenvolvimento para se chegar a determinado ponto. É o caso já mencionado de Hector, que aparece de modo muito destoante de onde se encontrava anteriormente. É plausível que ele chegasse até onde o vemos, mas para isso seria necessário tempo. De modo semelhante, Lenore se mostra muito disposta a confiar nele, o que parece ingênuo demais para alguém tão manipuladora.

A escrita da série também peca em alguns momentos. Há diálogos extremamente expositivos, enquanto outros são simplesmente desnecessários. A produção por si só faz um bom trabalho de nos mostrar como os personagens estão através de suas ações, aparência e estado geral. É redundante fazer com que isso seja explicitamente falado, principalmente quando isso não acrescenta nada ao contexto. Além disso, certos temas trabalhados ao longo da temporada, como a necessidade de agir ao invés de apenas reagir aos acontecimentos, sofrem com a repetição. Não é preciso incluir isso em diversos diálogos quando a trama já seria capaz de apresentar e desenvolver o tema muito bem.

Os grandes acertos

Em aspectos técnicos, há muito a se elogiar. Na maior parte do tempo, a animação mantém a qualidade das temporadas anteriores, proporcionando cenas muito belas e impactantes. São poucos os momentos em que algo não se mostra extremamente bem feito nesse quesito. Não há falhas quando se trata da trilha sonora e as atuações, ambas influenciando as emoções proporcionadas pela conclusão da história com maestria.

A narrativa, embora não seja perfeita, também faz um bom trabalho. Raramente séries conseguem finalizar todos os seus arcos individuais de maneira tão bem fechada como Castlevania conseguiu. Cada personagem recebe um fim para sua jornada, todos condizentes com o que é proposto pelo que vivenciam tanto nesta temporada quanto nas anteriores. A maioria dos arcos são muito satisfatórios, apresentando excelentes desenvolvimentos e finais bastante dignos e bem construídos.

Saindo do individual e partindo para o geral, a resolução de tudo consegue emocionar e surpreender de modo positivo. Se ao longo da produção o público é apresentado a questionamentos relacionados ao propósito das pessoas no mundo e os ciclos de violência que parecem ininterruptos, aqui encontramos uma excelente tentativa de resposta. A série propõe não somente um caminho para o futuro, bem como estabelece a necessidade de que esse trajeto seja escolhido com consciência para ser possível.

Nota

A temporada final de Castlevania começa com problemas para organizar todos os seus núcleos, por vezes errando ao longo do caminho. Apesar disso, há muito mais a ser elogiado que criticado. Quando a produção está em seu melhor, trabalhando os personagens e tramas com a habilidade que a equipe já demonstrou anteriormente, a série é fantástica. Ainda que não seja possível ignorar completamente as falhas da temporada, há grande mérito em finalizar tudo de maneira coerente, conseguindo equilibrar a narrativa com grandes momentos de ação e lutas incríveis.

Os sentimentos causados pelo fim são muitos, e é inegável que há grande satisfação em ver uma boa resolução para uma excelente história. O grande final é muito bem produzido, e mesmo as conclusões que talvez não agradem tanto tem seu motivo e propósito dentro da trama. Quem acompanhou a jornada até aqui certamente não pode perder o capítulo final.

Nota: 4/5

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