Chucky 1×03: Eu gosto que me abracem
Chucky 1×03: Eu gosto que me abracem
Fogo no parquinho!
Mais uma semana, mais um episódio de Chucky. A série exibida no Star+ traz de volta o Brinquedo Assassino em grande estilo, dessa vez em um novo frenesi assassino enquanto tenta fazer a cabeça de um jovem adolescente gay e revoltado para se tornar um assassino como ele. E o terceiro episódio já se configura como o ponto alto da série, nos mostrando um crescendo de qualidade capítulo a capítulo.
Depois do Halloween apavorante mostrado no segundo episódio, vemos como Jake Wheeler está cada vez mais influenciado pelo seu novo “companheiro”. No mais novo episódio, o menino está à beira de um colapso nervoso depois da festa na qual Lexy Cross aparece fantasiada como seu pai sendo eletrocutado. Isso faz aflorar o pior lado de Jake e ele vê em Chucky uma esperança para finalmente se livrar do bullying.
No entanto, o que é mais interessante aqui é a forma como a série não faz pinta seus personagens de forma simples e unidimensional – na verdade, é interessante analisar como mesmo os “antagonistas” humanos possuem lados mais humanizados. Esse é o caso de Lexy – muito bem interpretada por Alyvia Alyn Lind, diga-se de passagem -, que pode até ser uma bully revoltante, mas também possui um carinho especial por sua irmã autista, Caroline Cross.
É por isso mesmo que, durante uma das crises da irmã, Lexy acaba indo fazer as pazes com Jake e tenta emprestar o boneco Chucky – já que parece ser a única forma de acalmar Caroline. Esse acaba rendendo um dos momentos mais interessantes da série (até agora), por mostrar um pouco da complexidade da relação entre um bully e sua vítima. No fundo, Lexy também tem seus problemas mas “desconta” em Jake.
E isso, é claro, não a exime da culpa. Mas por outro lado, Jake acaba vendo como pode se transformar em um ser tão desprezível e violento caso não lide bem com seus sentimentos. No fim, a série não poupa Lexy das críticas – mesmo mostrando seu lado humano – e também não “passa a mão na cabeça” de Jake. Os dois estão errados, mas de formas bem diferentes.
Tanto que é bem compreensível a virada que Jake dá no final, decidindo resgatar o boneco para que ele não cause um estrago. Em parte, isso vem de uma motivação egoísta, já que ele sabe que seu crush, Devon Evans, está em uma festa na casa de Lexy. Mas quando ele finalmente chega, já é tarde demais: Chucky ateou fogo na casa e matou um adolescente, o que certamente causará mais problemas no futuro.
Aqui, mais uma vez é interessante notar como Don Mancini consegue conciliar a história presente de Chucky, os vários ganchos deixados pela franquia de filmes e ainda inserir elementos que nos fazem conhecer um pouco mais das origens de Charles Lee Ray, com flashbacks que são muito bem inseridos e servem como pausas na narrativa enquanto vemos as raízes de um criminoso.
Não fossem essas cenas, seria até fácil imaginar que Jake teria uma “construção paralela” com Chucky e, no final, se tornaria um assassino visceral como ele. Mas na verdade, isso ajuda a acentuar as diferenças entre os dois. Jake é um garoto atormentado e que sofre em várias esferas na sua vida, mas ainda tem um coração bom e é guiado pelo impulso de ajudar as pessoas, ainda que por motivações egoístas.
Já nesse episódio, o flashback do pequeno Lee Ray mostra como ele foi o responsável pela morte de sua mãe, depois que um serial killer entrou em sua casa e matou seu pai. Podemos ver claramente a “semente do mal” plantada desde o primeiro episódio, mas é nesse que Charles mostra seu lado Chucky, pronto para causar muita matança no futuro que viria depois.
Desse jeito, Chucky consolida não apenas seu protagonista humano – que agora terá que lutar contra o monstro que ele mesmo “cuidou” – mas também traz de volta o boneco em seu lado mais maníaco e glorioso. Se, até então, Chucky estava contente em matar sigilosamente e sempre sem atrair atenção para si próprio, no terceiro episódio ele já está de volta aos holofotes, sem medo de se revelar.
Porém, uma das jogadas mais interessantes de Chucky é a forma como ele se mostra apenas para adolescentes que não terão nenhum poder para impedi-lo. É o clássico assassino do slasher, mas com a diferença de que ele reconhece que os pais jamais vão acreditar em histórias sobre “brinquedos maníacos” e usa isso a seu favor para torturar suas vítimas, tanto física quanto psicologicamente.
Chucky continua melhorando episódio a episódio e tem tudo para ser uma das séries mais memoráveis de 2021, ao menos entre os fãs de horror. O que está sendo feito aqui é digno de aplausos, não só pela construção de uma trama ágil e inteligente, mas também pelos personagens complexos e multifacetados e, é claro, por toda a declaração de amor à franquia original e seus fãs.
Chucky está sendo exibida semanalmente no Star+.
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