Charisma Carpenter, de Buffy, acusa Joss Whedon de abuso de poder em carta aberta
Charisma Carpenter, de Buffy, acusa Joss Whedon de abuso de poder em carta aberta
A atriz declarou apoio a Ray Fisher!
A atriz Charisma Carpenter, intérprete de Cordelia Chase em Buffy, a Caça-Vampiros, publicou uma carta aberta em sua conta no Twitter, onde declarou apoio à Ray Fisher e se manifestou contra Joss Whedon. A atriz relatou ter sofrido ameaças e xingamentos enquanto trabalhava com o diretor em Buffy e no spin-off, Angel, além de afirmar que Whedon abusou psicologicamente dela enquanto estava fragilizada, durante e após sua gravidez.
No tuíte onde compartilha seu depoimento, a atriz escreveu apenas “Minha verdade.”, com a hashtag #IStandWithRayFisher logo abaixo, em solidariedade ao ator. A carta de Carpenter também alega que o comportamento do diretor era recorrente no período em que trabalhou com ele, quando ela ainda era nova no meio artístico. Carpenter afirma que Whedon “achava seu desvio de conduta divertido”, embora as atitudes dele causassem ansiedade e fizessem com que a atriz se sentisse alienada de seus colegas de elenco:
“Enquanto ele achava seu desvio de conduta divertido, isso servia apenas para intensificar minha ansiedade em relação à performance, me desempoderar, e me alienar dos meus colegas. Os incidentes perturbadores geraram uma condição física crônica com a qual ainda sofro. É com o coração batendo e pesado que digo que lidei com isso em isolamento e, por vezes, de maneira destrutiva.”
Carpenter continua, mencionando Ray Fisher e indicando que o posicionamento do ator teve parte em motivá-la a contar sobre o que sofreu, décadas após os ocorridos. A atriz diz que os relatos do ator a deixaram devastada, uma vez que ela conhece o histórico de crueldade de Whedon. Ela afirmou ainda que o diretor “tem criado ambientes de trabalho hostis e tóxicos desde o começo de sua carreira”, e diz poder fazer esta afirmação por ter experienciado a situação em primeira mão, repetidas vezes:
“No último verão, quando Ray Fisher acusou Joss publicamente de comportamento abusivo e não-profissional em relação ao elenco e equipe durante as refilmagens no set de Liga da Justiça em 2017, isso me destruiu. Joss tem um histórico de ser cruel casualmente. Ele criou ambientes de trabalho hostis e tóxicos desde o começo de sua carreira. Eu sei porque experienciei em primeira mão. Repetidamente.”
A carta, então, passa a apresentar os exemplos de Carpenter do abuso que sofreu por causa de Whedon, desde ofenças até ameaças:
“Como as contínuas ameaças passivo-agressivas de me demitir, algo que acaba com a autoestima de uma atriz novata. E continuamente me chamar de gorda ao falar com meus colegas, quando eu estava grávida de 4 meses, pesando 126 libras. Ele era malvado e irônico, depreciando os outros abertamente, e muitas vezes mantendo favoritos, jogando as pessoas umas contra as outras para competir e desejar sua atenção e aprovação.”
A espiritualidade de Carpenter também a tornou um alvo, de acordo com o relato. O diretor a interrogou e censurou quanto a uma tatuagem de rosário que a atriz havia feito por conta de sua crenças, além de utilizar a fé de Charisma Carpenter para atacá-la em relação à sua gravidez:
“Joss intencionalmente recusou múltiplas ligações dos meus agentes, tornando impossível contactá-lo para informá-lo que eu estava grávida. Finalmente, quando Joss ficou a par da situação, ele pediu uma reunião comigo. Nessa reunião de portas fechadas, ele me perguntou se eu “ia ficar com ele [o bebê]” e de maneira manipulativa usou minha feminilidade e minha fé como armas contra mim. Ele continuou, atacando minha personagem, zombando das minhas crenças religiosas, me acusando de sabotar a série, e então me demitiu sem cerimônias na temporada depois que dei à luz.”
A gravidez de Carpenter parece ter sido quando a atriz mais sofreu com as atitudes do diretor, uma vez que além de ignorá-la, tentar manipulá-la e até mesmo zombar dela, Whedon teria agido propositalmente para prejudicá-la, afetando até mesmo sua saúde:
“Aos seis meses de gravidez, me pediram para ir ao trabalho à 1 da manhã depois de meu médico ter recomendado diminuir meu tempo de trabalho. Devido a dias longos e muito exigentes fisicamente e ao estresse emocional de ter que defender minhas necessidades como uma mulher grávida trabalhando, eu comecei a ter contrações Braxton Hicks. Ficou claro para mim que a chamada à 1 da manhã foi em retaliação.”
Na segunda parte de sua carta, a atriz fala sobre as circunstâncias que a mantiveram em silêncio todos esses anos, dizendo ter se sentido sozinha e impotente, além de ter que se preocupar com seu bebê, sendo a principal provedora da família. O posicionamento de Carpenter é comum a muitas vítimas de abuso, que não se sentem seguras o suficiente para fazer uma denúncia, principalmente devido ao medo de sofrerem retaliação e acabarem prejudicadas:
“Eu criei desculpas para o comportamento dele e reprimi minha própria dor. Eu até falei publicamente em convenções que trabalharia com ele de novo. Apenas recentemente, após anos de terapia e ter sido acordada pelo movimento Time’s Up, é que eu entendo as complexidades desse pensamento desmoralizado.”
O posicionamento de Carpenter também chama a atenção para como as vítimas são desacreditadas enquanto os abusadores saem impunes, e a maneira como isso afeta o psicológico daqueles que sofrem abuso:
“É impossível entender a psique sem ter passado pelo abuso. Nossa sociedade e indústria vilanizam as vítimas e glorificam os abusadores por seus feitos. O ônus é do abusado, que tem que lidar com a expectativa de aceitar e se adaptar para ser empregável. Não tem responsabilização para o transgressor que navega em frente ileso. Sem arrependimentos. Sem remorso.”
Apesar disso, a carta também manifesta arrependimento da parte da atriz por ter se mantido em silêncio por tanto tempo. Ela demonstra se sentir culpada por não ter falado publicamente sobre o assunto antes, expressando o questionamento de que outros talvez não tivessem que passar por condições de trabalho similares caso ela tivesse se posicionado. Ainda assim, Carpenter diz esperar que seu testemunho ainda possa ajudar outros que passaram por situações semelhantes:
“Com lágrimas nos olhos, eu sinto um esmagador senso de responsabilidade em relação a Ray e outros por ter deixado em privado a minha experiência com Joss e o sofrimento que isso me causou. É abundantemente evidente que Joss persistiu em suas ações prejudiciais, continuando a deixar destruição atrás de si. Minha esperança agora, ao finalmente me abrir sobre essas experiências, é de criar um espaço seguro para a cura de outros que eu sei que passaram por situações similares de abuso de poder em série.”
Carpenter também revela ter participado das investigações feitas pela WarnerMedia sobre Liga da Justiça, e enfatiza que considera a demissão de Fisher como um absurdo:
“Recentemente, eu participei da investigação da WarnerMedia sobre Liga da Justiça porque acredito que Ray seja uma pessoa íntegra que está dizendo a verdade. Sua demissão como Cyborg de Flash foi a última gota para mim. Apesar de não estar chocada, isso me magoa profundamente. Me preocupa e me entristece que em 2021 profissionais AINDA tenham que escolher entre fazer uma denúncia em um ambiente de trabalho e a segurança de um emprego.”
A carta é finalizada com as palavras da atriz de que ainda teme por seu futuro e suas chances de emprego, principalmente considerando que sua família depende dela para se sustentar. Apesar disso, Carpenter afirma que não podia mais ficar calada, e que havia chegado a hora de vir à público com seu testemunho.
Outra atriz de Buffy, Amber Benson, manifestou apoio a Carpenter. Intérprete de Tara Maclay na série, Benson compartilhou a carta da colega com o seguinte comentário:
“Buffy era um ambiente tóxico e isso começa no topo. @AllCharisma está falando a verdade e eu a apoio 100%. Muito dano foi feito durante aquele tempo e muitos de nós ainda estamos processando isso mais de vinte anos depois.
#IStandWithRayFisher #IStandWithCharismaCarpenter”
Anteriormente, um casal de dublês que também trabalhou em Buffy havia relatado que Whedon chegara a ameaçar seu relacionamento e suas carreiras enquanto trabalhavam na série, afirmando que o diretor havia sentenciado a dublê Sophia Crawford a terminar o relacionamento ou ser demitida.
Ray Fisher e as investigações sobre Liga da Justiça
A movimentação de atores e atrizes compartilhando suas experiências de trabalho ruins com Joss Whedon é decorrente das denúncias feitas pelo ator Ray Fisher, o Ciborgue de Liga da Justiça. Em 1 de julho do ano passado, Fisher afirmou abertamente em sua conta no Twitter que o tratamento dirigido por Whedon à equipe e elenco do filme era “nojento, abusivo, não-profissional, e completamente inaceitável”.
Eventualmente, as sérias acusações feitas por Fisher levaram a WarnerMedia a estabelecer uma investigação sobre a conduta do diretor, realizando entrevistas com membros do elenco e da produção durante cinco semanas antes de uma investigação independente ser iniciada. É possível que a investigação, além de buscar informações mais detalhadas sobre o comportamento de Whedon em Liga da Justiça, tenha procurado saber mais sobre o histórico do diretor, uma vez que Charisma Carpenter afirma em sua carta que colaborou com o processo.
Fisher permaneceu empenhado em levar o caso adiante, ainda que sofresse retaliação por isso. Durante a investigação, o ator se manifestou sobre testemunhas-chave não terem sido procuradas, e continuou insistindo que aqueles que permitiram que a má conduta do diretor continuasse impune também deveriam ser responsabilizados, afirmando que Geoff Johns, Jon Berg e Walter Hamada também tinham culpa.
Outros membros do elenco de Liga da Justiça se posicionaram em solidariedade a Ray Fisher, com Jason Momoa afirmando que o elenco foi tratado de “maneira merda” durante as regravações do filme, e que dizendo que coisas sérias aconteceram. A atriz Gal Gadot disse não ter estado presente durante as regravações com o restante do elenco, mas que sua experiência “não foi das melhores”, inclusive revelando ter levado a situação a seus superiores.
Em uma entrevista à Forbes, Fisher afirmou que houveram diversos problemas durante as filmagens, e que suspeitou que racismo era, em parte, a razão pela qual fora tratado daquela maneira:
“Racismo foi apenas um dos problemas das refilmagens. Houve discussões, ameaças, coerção, insultos, condições de trabalho inseguras, depreciação e ofensas que você não acreditaria. O que deixou minha alma em chamas e me forçou a falar abertamente sobre Joss Whedon nesses últimos meses foi eu ter sido informado de que ele havia ordenado que a cor de um ator fosse mudada durante a pós-produção, porque ele não gostava do tom da cor da pele dele.”
Após meses de denúncias por parte do intérprete de Ciborgue, as investigações feitas pela WarnerMedia foram concluídas há cerca de um mês, com um comunicado da empresa afirmando que medidas corretivas foram tomadas. Uma dessas medidas, de acordo com Fisher, foi o afastamento de Joss Whedon da série The Nevers, que o ator afirmou ser resultado da investigação.
Apesar disso, o ator acabou sendo prejudicado por seus posicionamentos. Embora seu personagem fosse ter um grande papel no filme do Flash, isso foi modificado e Fisher foi demitido, como o próprio ator revelou em uma carta aberta publicada em sua conta no Twitter. É a esta ocorrência que Carpenter se refere em sua carta como sendo um dos principais motivadores que a levaram a compartilhar sua experiência agora.
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