Caso Activision Blizzard: Entenda as polêmicas por trás dos processos da empresa
Caso Activision Blizzard: Entenda as polêmicas por trás dos processos da empresa
Dona de Overwatch, World of Warcraft e mais jogos de sucesso enfrenta uma crise após denúncias
Por meio de franquias icônicas como Diablo, Warcraft e mais recentemente Overwatch, a Blizzard se tornou uma das maiores desenvolvedoras de jogos. Adquirida pela Activision, a empresa continuou sendo considerada referência na área por muitos anos, apesar das críticas que sofria diante de certas decisões. Isso, no entanto, não era comparável aos problemas que a gigante dos jogos passou a enfrentar este ano, após ser processada pelo governo da Califórnia.
Desde então, diversos problemas da empresa foram revelados, e o número de ações jurídicas contra a Activision Blizzard vem aumentando ao longo das últimas semanas. Com acusações que incluem uma cultura de assédio formada antes mesmo da união das duas empresas, bem como discriminação contra mulheres, intimidação de funcionários, entre outros problemas graves, a desenvolvedora se tornou alvo de quatro processos, dos quais apenas um foi concluído com um acordo até o momento.
- Por que a Activision Blizzard foi processada?
- As repercussões do caso inicial
- O segundo processo contra a Activision Blizzard
- Novas investigações
- O que os grandes nomes da Blizzard disseram sobre o caso?
- A "Cosby Suite" e o ambiente tóxico da Blizzard
- Como isso afetou o desenvolvimento dos jogos da Blizzard?
Por que a Activision Blizzard foi processada?
As polêmicas com a desenvolvedora de jogos tiveram início há cerca de dois meses, quando o primeiro processo contra a empresa foi divulgado. O órgão responsável pela ação, chamado de Department of Fair Employment and Housing (Departamento de Trabalho e Habitação Justos, em tradução livre), faz parte do governo da Califórnia, onde fica a sede da Blizzard. De acordo com as acusações apresentadas, após aproximadamente dois anos de investigação, a agência governamental teria constatado que a empresa mantém um ambiente tóxico, no qual funcionárias são submetidas a assédio constante e salário desigual, além de não contarem com qualquer meio de se defenderem, já que denúncias as tornariam alvo de retaliação.
O processo revela que a força de trabalho da Activision Blizzard é composta por cerca de 20% de mulheres, que em seu ambiente de trabalho estariam sujeitas a seus colegas homens “beberem grandes quantidades de álcool enquanto rastejam por vários cubículos no escritório e frequentemente se envolvem em comportamento inapropriado direcionado às funcionárias mulheres”, situação que teria acontecido de modo recorrente.
Outras situações relatadas no processo incluem funcionários homens jogando video game em horário de trabalho, enquanto delegavam suas responsabilidades às mulheres, que também tinham que lidar com provocações de teor sexual e piadas sobre estupro, entre outros tipos de comportamento inapropriado. Em relação à carreira, as funcionárias também não recebiam promoções pela possibilidade de engravidarem, eram criticadas por buscarem seus filhos em creches ou mesmo expulsas de salas dedicadas à amamentação, que homens decidiam usar para realizar reuniões. A desigualdade salarial, discriminação contra mulheres desde as contratações até os níveis mais altos, bem como a desigualdade de oportunidades para homens e mulheres também são citados no processo.
Assim, as mulheres precisavam “trabalhar mais e por mais tempo” para receber promoções e oportunidades dadas aos homens com muito mais facilidade. Além disso, certas acusações apresentam caráter racista, já que funcionárias negras citaram ainda mais exemplos de discriminação. O processo inclui relatos nos quais elas dizem que foram submetidas a ter que dar justificativas e explicações que não eram cobradas de homens em posição semelhante, embora fosse conhecimento comum que estes homens não estavam cumprindo suas funções como deveriam.
Entre todas as acusações, uma das mais graves sugere que uma funcionária da Activision tirou sua própria vida durante uma viagem de trabalho com seu supervisor homem. Ela havia sido alvo de assédio sexual grave antes de sua morte, situação que incluiu o compartilhamento de fotos privadas da funcionária em uma festa de fim de ano da empresa.
Por fim, o governo da Califórnia também afirma que, diante de todos estes problemas, a empresa teria falhado recorrentemente em lidar com essas situações. Assim, a liderança da empresa foi acusada de não tomar os passos necessários para prevenir discriminação, assédio e retaliação. O documento também deixa claro que diversas reclamações foram levadas ao departamento de Recursos Humanos, bem como aos superiores, incluindo o presidente da Blizzard Entertainment, J. Allen Brack. Apesar disso, nenhuma atitude foi tomada, como o texto conta:
“Funcionárias foram ainda mais desencorajadas de reclamar, já que sabiam que pessoas da área de recursos humanos eram próximas dos supostos assediadores. Como resultado das reclamações, as funcionárias mulheres eram sujeitas a retaliação, incluindo mas não limitado a serem privadas de trabalhar em projetos, serem transferidas para outras unidades à contragosto e serem selecionadas para demissões.”
Posteriormente, a investigação foi expandida para incluir funcionários temporários e contratados, além de acusar a desenvolvedora de obstrução. De acordo com o DFEH, a Blizzard teria destruído documentos relacionados à investigação, além de se recusar a compartilhar informações importantes, usando Acordos de Não-Divulgação para exigir que os funcionários falassem com a empresa antes de contatar o órgão governamental. Desse modo, eles teriam interferido e impedido o governo de trabalhar contra as violações constatadas.
As repercussões do caso inicial
Inicialmente, a resposta dada pela Blizzard por meio de um representante afirmava que as descrições contidas no processo eram “distorcidas, e em muito caso falsas”, além de afirmar que se tratavam de situações do passado que não condizem com a empresa atualmente. A mensagem afirmava ainda que governo da Califórnia teria falhado em tentar resolver as reclamações antes de levar o caso à justiça, além de dizer que os representantes da desenvolvedora de jogos estavam “enojados pela conduta repreensível do DFEH de trazer para a acusação o trágico suicídio de uma funcionária cujo falecimento não tem qualquer peso sobre este caso e sem qualquer consideração por sua família em luto”.
A longa carta prossegue, julgando o comportamento do órgão governamental como “vergonhoso e pouco profissional”. A defesa afirma ainda que este seria o tipo de comportamento que estaria levando “muitos dos melhores negócios do estado para fora da Califórnia”. Em sua segunda metade, a mensagem afirma que mudanças significativas já foram feitas para lidar com a cultura da empresa e torná-la melhor e mais diversa, incluindo programas internos e canais para funcionários reportarem violações confidencialmente.
A mensagem, no entanto, foi duramente criticada pelo público e pelos próprios funcionários, que começaram a organizar protestos no campus da Blizzard. A situação se agravou após um posicionamento de Frances Townsend, que antes mesmo das polêmicas já era uma figura controversa nos Estados Unidos por seu papel no governo Bush, principalmente por defender tortura. Após ser criticada, ela teria também começado a bloquear funcionários no Twitter, eventualmente deletando sua conta na rede social. Em seu email, ela teria menosprezado as acusações e considerado que nada do tipo acontece na empresa atualmente.
Mais de três mil trabalhadores da empresa assinaram uma carta aberta direcionada à liderança da Activision Blizzard, na qual deixavam seus problemas com a postura da empresa explícitos. Você pode conferir uma tradução do texto divulgado na Bloomberg abaixo:
“Aos Líderes da Activision Blizzard,
Nós, que assinamos abaixo, concordamos que as declarações da Activision Blizzard, Inc. e seu conselho legal em relação ao processo do DFEH, bem como o pronunciamento interno subsequente de Frances Townsend, são detestáveis e ofensivos para tudo que nós acreditamos que nossa empresa deveria defender. Dizendo de modo claro e categoricamente, nossos valores como empregados não são refletidos corretamente nas palavras e ações de nossa liderança.
Nós acreditamos que esses pronunciamentos danificaram nossa constante missão por igualdade dentro e fora da indústria. Categorizar as acusações que foram feitas como “distorcidas, e em muitos casos falsas” cria uma atmosfera na empresa que desacredita as vítimas. Também lança dúvida sobre a habilidade da nossa organização de responsabilizar abusadores por suas ações e criar um ambiente seguro para as vítimas se manifestarem no futuro. Esses pronunciamentos deixam claro que nossa liderança não está colocando nossos valores em primeiro lugar. Correções imediatas são necessárias desde o nível mais alto da nossa organização.
Os executivos da nossa empresa afirmam que ações serão tomadas para nos proteger, mas diante de ações legais — e das respostas oficiais preocupantes que se seguiram — nós não confiamos mais que nossos líderes colocarão a segurança dos funcionários antes de seus próprios interesses. Afirmar que esse é um “processo verdadeiramente sem mérito e irresponsável”, enquanto vêem tantos empregados antigos e atuais falando sobre suas próprias experiências em relação a assédio e abuso, é simplesmente inaceitável.
Nós pedimos pronunciamentos oficiais que reconheçam a seriedade dessas denúncias e demonstrem compaixão para as vítimas de assédio e abuso. Nós pedimos que Frances Townsend cumpra sua palavra e se retire do cargo de Patrocinadora Executiva da Rede de Funcionárias Mulheres da ABK como resultado da natureza danosa de seu pronunciamento. Nós pedimos que a equipe de liderança executiva trabalhe conosco em esforços novos e significativos que garantam que os funcionários — bem como nossa comunidade — tenham um lugar seguro para vir adiante e se abrir.
Nós apoiamos todos os nossos amigos, colegas de equipe e colegas de trabalho, bem como os membros dedicados de nossa comunidade, que experienciaram mau trato ou assédio de qualquer tipo. Nós não seremos calados, nós não iremos deixar isso de lado, e nós não iremos desistir até que a empresa que amamos seja um local de trabalho do qual podemos sentir orgulho de fazer parte. Nós seremos a mudança.”
Além da carta e do protesto, os funcionários iniciaram o movimento “A Better ABK” (Uma ABK Melhor, em tradução livre). Com presença nas redes sociais por meio do Twitter, o grupo busca dar continuidade a essa luta por mudança. A primeira thread divulgada por eles apresenta uma lista de 4 itens com as exigências dos funcionários, que foram comunicadas à liderança da empresa por meios oficiais. As exigências apresentadas são:
1. Um fim às cláusulas de mediação obrigatórias em todos os contratos de funcionários, atuais e futuros. Cláusulas de mediação protegem abusadores e limitam a habilidade da vítima de buscar justiça.
2. A adoção de políticas de recrutamento, entrevistas, contratação e promoções feitas para melhorar a representatividade entre funcionários de todos os níveis, estabelecido pelos em uma organização de Diversidade, Equidade & Inclusão da empresa como um todo.
3. Publicação de dados relativos à compensação (incluindo concessões de equidade e compartilhamento de lucros), taxas de promoções, e faixa salarial para funcionários de todos os gêneros e etnias da empresa.
4. Empoderar uma força tarefa de Diversidade, Equidade & Inclusão na empresa como um todo para contratar uma empresa terceirizada para auditar a estrutura de comunicação da ABK, o departamento RH e a equipe executiva.
Em resposta, o CEO da Activision Blizzard, Bobby Kotick, publicou uma carta aos funcionários, na qual se desculpou pela resposta inicial da empresa. Além disso, ele afirma no texto que acredita em todos que se pronunciaram, e garante que a desenvolvedora tomaria as providências necessárias para tornar o ambiente de trabalho seguro.
Também foi determinado que a WilmerHale, uma empresa contratada, realizaria uma extensa investigação, permitindo que os funcionários fizessem denúncias com sigilo e discrição. Apesar de parecer benéfica para os funcionários, a decisão logo se mostrou controversa, já que a representante contratada é conhecida por colocar em prática medidas que visam impedir trabalhadores de formarem sindicatos que poderiam defender seus interesses de modo mais organizado.
Os funcionários da Activision Blizzard que trabalham em diversos estúdios da empresa formaram um grupo denominado ABK Workers Alliance, por meio do qual continuaram a se posicionar sobre os problemas da empresa. Diante da decisão de utilizar a WilmerHale como mediadora, eles manifestaram rejeição à decisão. Em suas justificativas, eles argumentam que há um conflito de interesses, já que a contratada possui uma “relação pré-existente com a Activision Blizzard e seus executivos”, bem como um histórico de “desencorajar direitos dos trabalhadores e ações coletivas”.
A carta divulgada pelo grupo também pede que Kotick e o time de executivos escute os pedidos dos funcionários. Além disso, eles mencionam os passos que vêm tomando por conta própria para tornar o ambiente de trabalho melhor, como mentorias, sessões de escuta e encontros comunitários. Apesar disso, a liderança da empresa não acatou aos pedidos dos funcionários ou sequer os discutiu, mantendo a WilmerHale envolvida no caso e não demonstrando ouvir os apelos dos trabalhadores em outros aspectos.
O segundo processo contra a Activision Blizzard
O descontentamento dos funcionários e a postura da liderança diante das tentativas de diálogo levaram a um segundo processo contra a Activision Blizzard. Dessa vez, os próprios funcionários foram os responsáveis, formando uma parceria com o sindicato Communications Workers of America (Trabalhadores de Comunicação da América, em tradução livre). De acordo com o documento, a desenvolvedora teria usado regras e táticas para coagir os funcionários, impedindo que eles se organizassem em prol de tornar seu ambiente de trabalho melhor.
Entre as medidas citadas, estariam as já mencionadas acusações de que o RH estaria usando Acordos de Não-Divulgação para obrigar os empregados a falarem com a empresa antes de falarem com o DFEH. Além disso, a mediação da WilmerHale teria sido prejudicial, algo que os funcionários haviam se posicionado sobre desde o princípio.
Como a primeira exigência na lista divulgada pela A Better ABK deixa claro, a mediação obrigatória desfavorece os funcionários, já que o mediador é escolhido pela empresa, e não precisa seguir precedentes legais como ocorre em uma ação judicial. Outro ponto importante é que, por meio da mediação, as disputas permanecem em sigilo na maior parte do tempo, o que em muitos casos serve para ocultar problemas graves, impedindo que mudança seja feita ou que determinadas pessoas sejam punidas por suas ações. Além disso, com as cláusulas obrigatórias, os funcionários não têm a opção de não aceitar a mediação, já que se fizerem isso eles podem ser demitidos.
Novas investigações
Outro órgão estadunidense, a U.S. Securities and Exchange Commission, deu início a mais uma investigação da desenvolvedora de jogos. Dessa vez, a motivação seria a maneira como a Activision Blizzard lidou com as acusações de assédio sexual e discriminação, principalmente voltado para o fato de os investidores terem se sentido lesados por não terem sido informados antes de o processo inicial vir a público.
Embora não tenha sido divulgado muito sobre esta investigação, sabe-se que ela é completamente separada do que foi feito pelo DFEH. Além disso, por estar relacionada aos investidores, é possível que a ação obtenha mais resultados do que alguns dos outros casos contra a Blizzard. A seriedade da ação, no entanto, ficou clara desde o princípio, já que o próprio CEO da empresa recebeu uma intimação, e a SEC passou a investigar documentos de reuniões da liderança da empresa, bem como registros de comunicação entre Kotick e outros executivos, em particular qualquer coisa que lidasse com assédio sexual ou reclamações sobre discriminação.
Mais uma investigação foi feita pela Equal Employment Opportunity Comission (Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego, em tradução livre), embora essa tenha sido iniciada anteriormente. Dessa vez, o foco foram as diferenças de tratamento baseadas em gênero, e o Wall Street Journal relata que a investigação já vinha ocorrendo desde 2020.
No caso desta última, a empresa fechou um acordo com a agência que a investigava, pagando $18 milhões de dólares para resolver o problema. Em seu pronunciamento sobre o assunto, a Activision sugeriu que dessa forma iria “compensar e reparar os requerentes elegíveis”. A dona de franquias milionárias dos jogos também afirmou que iria direcionar outros fundos a caridades, que tem como propósito o “progresso de mulheres na indústria de video games ou promover conscientização sobre assédio ou problemas de igualdade de gênero.”
O que os grandes nomes da Blizzard disseram sobre o caso?
Ao longo de todo o processo, um dos pontos principais destacados pelos funcionários foi que a cultura de “estrelas do rock” da empresa tornou certos indivíduos acima de qualquer punição. Assim, diversos nomes notáveis que faziam parte da Blizzard muito antes da desenvolvedora ser adquirida pela Activision foram alvo de acusações, seja por fazerem parte da cultura de assédio da empresa diretamente ou por estarem em posição de poder por anos e não tomarem qualquer atitude.
Um dos primeiros entre os nomes mais conhecidos a se pronunciarem foi Mike Morhaime. Co-fundador da Blizzard, ele foi presidente da empresa por anos até ser substituído por J. Allen Brack em 2018. Nas redes sociais, o ex-CEO da empresa publicou um pronunciamento, no qual diz se sentir envergonhado. Ele afirma ainda que tentou criar um ambiente seguro em seus 28 anos na Blizzard, e pede desculpas às mulheres da Blizzard que sofreram na empresa por ter falhado com elas.
Ainda assim, ele não assume responsabilidade diretamente, dizendo não saber dos casos terríveis até ficar ciente do processo quando ele veio a público. Isso levou seu posicionamento a ser questionado por diversas ex-funcionárias da empresa, que afirmam que seria impossível que ele não soubesse de nada. Connie Griffith, que trabalhou por 7 anos em títulos como World of Warcraft, Diablo 3 e StarCraft II, respondeu:
“Apesar de apreciar isso, Mike, eu também sei que não tem como você não saber quão tóxicos (por exemplo) os dois Robs [Pardo e Bridenbecker] eram. Eu estava lá, eu sei que você sabia em algum nível, mas no fim nós não importávamos para você. Eu passei a maior parte de 10 anos me recuperando do meu tempo trabalhando na Blizzard.”
Outra ex-desenvolvedora, Cher Scarlett, relembrou o abuso sofrido por ela e outras mulheres, dizendo achar difícil que ele não tivesse permitido que a situação permanecesse assim. Em sua conta no Twitter, ela fez uma thread na qual diz que Morhaime foi diretamente responsável pelos eventos que levaram a sua demissão quando ela tentou falar diretamente com ele sobre ser ameaçada de violência na empresa.
Conhecido como um dos principais responsáveis pela criação do universo de Warcraft, Chris Metzen também se pronunciou em sua conta no Twitter. No texto divulgado por ele, co-fundador da Blizzard pede desculpas por falhar em perceber o que acontecia com os funcionários.
A “Cosby Suite” e o ambiente tóxico da Blizzard
Apesar de alegarem não saber de nada, comentários e imagens começaram a surgir envolvendo outros nomes conhecidos da Blizzard. O principal acusado de assédio é Alex Afrasiabi, que é citado no processo inicial. Apesar disso, diversos outros problemas recorrentes, relacionados a ele ou não, foram compartilhados em redes sociais.
Uma matéria do Kotaku chamou a atenção para a Cosby Suite, nome dado à suíte de Afrasiabi durante a BlizzCon. De acordo com relatos apresentados pelo site, durante o evento da Blizzard, ele tentava beijar funcionárias, colocava o braço em volta delas, entre outras ações que ocorriam na frente de supervisores e funcionários homens. É dito ainda que Afrasiabi era tão conhecido por assédio que isso levou ao nome de sua suíte, referência a Bill Cosby, que já foi condenado por estupro.
Além do próprio dono da suíte, imagens das redes sociais do ex-funcionário da Blizzard mostram o local cheio de bebida, posando ao lado de outros desenvolvedores da empresa, juntamente com um retrato de Cosby. Nas imagens, foram identificados também o ex-designer David Kosak, o ex-game designer Jesse McCree, Cory Stockton, que ainda trabalha na empresa e Greg Street, ex-desenvolvedor da Blizzard que está atualmente trabalhando no MMO da Riot Games. Todos eles faziam parte de um grupo chamado de BlizzCon Cosby Crew, no qual alguns participavam diretamente de piadas sexistas e falavam sobre levar mulheres para a suíte.
Como isso afetou o desenvolvimento dos jogos da Blizzard?
Pouco depois do processo inicial feito pelo DFEH, o senior designer de World of Warcraft, Jeff Hamilton, comentou o assunto. Além de manifestar sua opinião sobre o assunto, ele afirmou que “quase nenhum trabalho” estaria sendo feito no jogo no momento. Pouco depois, a equipe de desenvolvimento do jogo fez um pronunciamento oficial, por meio do qual prometeu começar a agir imediatamente para tornar tanto o jogo quanto a comunidade mais inclusivos.
A princípio, isso se deu por meio da remoção de referências a Afrasiabi, que tinha dois personagens não-jogáveis e múltiplos itens que eram chamados por variações de seu nome. Desde então, mudanças continuam sendo implementadas ao jogo, inclusive em conteúdo antigo, tanto por causa dos jogadores quanto para o conforto dos próprios desenvolvedores. Apesar de reconhecerem que algumas dessas mudanças são pequenas, o texto divulgado pelos desenvolvedores explica que eles acreditam que elas valem a pena ainda assim. Isso vem sendo refletido em múltiplos elementos, desde ícones e pinturas encontrados no MMO, a até mesmo nomes ou a adição de NPCs homens em locais que contavam apenas com mulheres sexualizadas, como o Templo Negro.
Outro jogo afetado pela retirada de referências foi Overwatch. Embora algumas sejam pequenas, como o nome de Jeff Kaplan em uma placa que decora um dos mapas do jogo, outras, como o nome de um dos personagens, são mais complexas. o caubói Jesse McCree tem exatamente o mesmo nome de um dos desenvolvedores presentes na Cosby Suite, e a Blizzard declarou que irá alterar o nome do personagem como resultado disso.
Outras mudanças se deram por meio de pessoas que deixaram a empresa, como o ex-presidente J. Allen Brack. Ele foi substituído por dois co-líderes, Jen Oneal e Mike Ybarra. Além disso, o líder dos recursos humanos Jesse Meschuk também deixou seu cargo. Mais recentemente, Chacko Sonny, produtor executivo de Overwatch, também saiu da empresa, bem como diversas desenvolvedoras de World of Warcraft. Enquanto algumas dessas saídas estavam diretamente relacionadas ao processo, outras ocorreram por causa do ambiente de trabalho cada vez mais difícil na empresa.
Todas as mudanças podem ter afetado certas datas de lançamento, embora nada tenha sido confirmado pela Blizzard. Além da demora para o lançamento de atualizações de World of Warcraft, Overwatch 2 parece estar tendo um desenvolvimento conturbado, com pouco sendo revelado sobre o título apesar de sua previsão de lançamento para o ano que vem. Diablo Immortal, título mobile da franquia de action RPGs, tinha lançamento agendado para este ano, mas foi adiado para 2022.
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