The Last of Us Part II faz você ver o outro lado da história
The Last of Us Part II faz você ver o outro lado da história
Sem heróis, nem vilões… Apenas pessoas.
Atenção: Alerta de Spoilers!
The Last of Us Part II apresenta diversos personagens novos. Um deles, contudo, é a personagem mais controversa dos últimos anos quando o assunto é videogames. Devido a vazamentos e rumores sobre o jogo, uma das personagens mais misteriosas da trama acabou sendo odiada pelos fãs muito antes do jogo ser lançado.
Apresentada em um trailer violento em 2017, muitos tinham até se esquecido da personagem até seu papel na trama ter tido revelado. Abby, uma das protagonistas do jogo, é a principal inimiga e rival de Ellie. Com treinamento militar, várias armas diferentes e sem medo de partir para os socos quando necessário, Abby pode ser muitas coisas… Mas ela não é uma vilã.
(A partir daqui, os spoilers são bem pesados, então cuidado caso ainda não tenha jogado ou saiba nada sobre o jogo)
Antes mesmo de ser lançado, The Last of Us Part II dividiu a opinião dos fãs. Com o vazamento de informações, algumas reais e outras falsas, uma parte importante do jogo acabou sendo revelada para todos: a morte de Joel. Desde o primeiro teaser, os fãs acreditavam que o personagem poderia acabar morrendo e, sem dar detalhes de como isso acontece, no jogo descobrimos que a responsável pelo fim dele é Abby. Contudo, o que deixou os fãs ainda mais revoltados com tudo isso é descobrir que, em determinado momento da história, você joga com Abby, a ajudando em sua jornada.
Porém, ler sobre uma coisa e, realmente presenciar esses eventos, são coisas bem diferentes. Ficar sabendo que um acidente de carro aconteceu na rua de baixo é uma experiência diferente de estar dentro daquele carro – e o que a Part II faz ao nos colocar na pele de Abby é justamente mostrar o outro lado da história. Saber o que Abby fez é revoltante. Estar na pele de Abby e entender suas motivações, é completamente diferente.
Ao jogar o novo game e começar a jogar como Abby, admito que o primeiro sentimento foi o de raiva, “Eu não quero jogar com ela!” foi a primeira coisa que gritei. Sem ter outra opção, continuei a jogar, resistindo cada segundo do caminho a demonstrar qualquer tipo de simpatia ou empatia pela personagem. Contudo, pouco a pouco, Abby foi me ganhando.
Completamente diferente de Ellie, Abby também possui muito em comum com a jovem que é imune. Ambas foram marcadas e sofreram com as piores coisas que o mundo de The Last of Us jogou para elas. Ainda assim, conseguiram criar uma comunidade, um círculo e amigos e pessoas com as quais se importam. Em uma história de destruição mútua, cada uma vai destruindo tudo aquilo que é mais sagrado para a outra.
The Last of Us Part II fala sobre o ciclo da violência e o ódio que toma conta de nossas mentes e corações, fala sobre perda, trauma e medo – todos esses sentimentos que Ellie e Abby conhecem mais do que ninguém. Contudo, o jogo faz mais do que apenas mostrar como a violência afeta as outras pessoas, ele faz com que você realmente entenda o lado das duas personagens. Não existem pessoas ruins que querem matar todo mundo por poder ou qualquer outro tipo de motivação vilanesca e abstrata.
A narrativa de The Last of Us Part II é complexa e definitivamente não serão todas as pessoas que vão simpatizar com Abby. E está tudo bem, pois cada pessoa possui uma experiência diferente de vida e isso afeta como nos conectamos com personagens fictícios.
Em outro jogo, Ellie usaria o chapéu de cowboy branco, representando a bondade e justiça, enquanto Abby teria um preto, para deixar claro que ela é a bandida a ser combatida. Aqui, as duas usam chapéus cinza (figurativos, obviamente). Ellie é nossa protagonista, mas ela não é uma heroína. Abby é uma antagonista, mas ela não é uma vilã.
A melhor parte de The Last of Us Part II é justamente como toda a história faz com que você quebre suas expectativas e julgamentos sobre todos os personagens. Ellie começa em busca de vingança, mas, no fim, sua jornada se torna algo mais, alimentada completamente por suas inseguranças e medos. Abby, no começo do jogo, consegue sua vingança, apenas para essa ação causar ainda mais caos e problemas em sua vida.
O que o jogo tenta dizer o tempo todo é como, na vida real, não existem vilões, mas sim apenas pessoas fazendo decisões, boas e ruins, que afetam a vida de outros. Esse é o caso de Abby.
Em The Last of Us nos apaixonamos por Joel, e – como a história é contada – ele é o grande herói, mesmo fazendo uma decisão gigantesca que envolvia não apenas Ellie, mas todo o futuro da humanidade, ao impedir que a vacina fosse feita e ao mentir para a garota. Suas decisões, boas ou ruins, são, na verdade, apenas humanas. O mesmo vale para Ellie.
Nenhum dos dois personagens mata, no primeiro jogo, apenas para ser cruel, ou causar dor. Mas sim por necessidade ou medo. Em The Last of Us Part II vemos tanto Abby quanto Ellie cruzando essa linha e matando por vingança e ódio – levadas a tais decisões por tudo o que aconteceu anteriormente em suas histórias.
É fácil dizer que a culpa de tudo o que é ruim é da Abby. Pode-se também dizer que a culpa é de Joel, ou até mesmo de Marlene, de Ellie, de quem quer que seja o responsável pela disseminação do fungo cordyceps. Existem vários culpados em uma única história, mas no fim, suas escolhas são apenas suas. As escolhas dos personagens são escolhas feitas por eles que representam quem eles eram no momento em que a fizeram – e nada além disso.
The Last of Us Part II desumaniza completamente Abby até o ponto em que temos a virada e passamos a acompanhar sua trajetória. A partir desse momento, lembramos que Abby não é um “bicho -papão”, mas sim uma pessoa , cheia de falhas e problemas, mas ainda humana.
O jogo faz um ótimo trabalho ao criar empatia do jogador por Abby, principalmente em todas as suas interações com Lev, um garoto que usa arco e flecha para a auxiliar e também aparece no trailer de 2017.
Junto de Lev, podemos ver uma parte bem mais humana de Abby, vemos ela enfrentando seus medos para ajudar ele e sua irmã, vemos ela se importando e lutando para salvar inocentes. Mostrando que, por mais que ela seja um monstro na história de Ellie, na visão da personagem, é exatamente o contrário.
A trama também quebra muito das expectativas que temos sobre ela. Ao analisar a relação de Abby com seus amigos vemos que ela é muito mais leve e descontraída do que a Ellie e o próprio Joel no primeiro jogo. Ela tem problemas românticos e um cachorro, além de ser sarcástica e vulnerável emocionalmente. Assim como Joel e Ellie, ela possui várias camadas e facetas, não sendo uma coisa só.
Na Part II vemos vários dos eventos que envolvem Ellie na visão de Abby, com a outra protagonista do jogo se tornando, aos poucos, a “vilã” na história. Ellie vai destruindo completamente toda a vida da personagem e de seus aliados na Washington Liberation Front, caindo no radar de Abby, que passa a ver como uma ameaça.
Ainda assim, é importante reiterar que, mesmo o jogo fazendo você entender e se afeiçoar pela personagem, Abby não estava certa. Ela matou uma pessoa a sangue frio porque podia. O mesmo pode ser dito sobre Ellie, sobre Tommy e vários outros personagens dessa história. E, ainda assim, isso não significa que eles estavam certos em suas ações.
No mundo de The Last of Us, a maior parte das pessoas estão apenas tentando sobreviver e salvar seus entes queridos. E até certo ponto, Ellie e Abby tinham os mesmos objetivos, porém, quando seus caminhos se cruzam, tudo o que resta é um banho de sangue.
Caso ainda não tenha jogando The Last of Us Part II, o jogo foi lançado oficialmente dia 19 e você pode o adquirir aqui.
Veja também: