[CRÍTICA] Os Órfãos e a volta errada do parafuso
[CRÍTICA] Os Órfãos e a volta errada do parafuso
Nem o talento dos atores salva adaptação grotesca de clássico do horror!
Na última quinta-feira (30), chegou aos cinemas brasileiros o horror Os Órfãos – uma nova interpretação do clássico literário A Volta do Parafuso, de Henry James. Apesar de estar sendo pouco divulgado, o filme trouxe em seu elenco nomes respeitáveis, como Mackenzie Davis e Finn Wolfhard.
Porém, um bom elenco não é garantia de sucesso – e muito menos, de qualidade. Considerando que essa é a primeira de duas adaptações do livro que sairão neste ano (a segunda sendo A Maldição da Mansão Bly, da Netflix), o filme tinha o grande desafio de se provar… e parece que não deu muito certo…
Créditos: Universal Pictures
Ficha Técnica
Título: Os Órfãos (The Turning)
Direção: Floria Sigismondi
Roteiro: Carey Hayes e Chad Hayes
Ano: 2020
Data de lançamento: 30 de janeiro (Brasil)
Duração: 94 minutos
Sinopse: Uma jovem mulher é contratada para virar tutora de uma menina que vive isolada em uma mansão cheia de mistérios e segredos. Uma adaptação moderna do clássico A Volta do Parafuso, de Henry James.
Os Órfãos e a volta errada do parafuso
O horror é um gênero que foi ditado por várias mídias diferentes, incluindo a literatura. Muitos clássicos ajudaram a estabelecer alguns dos maiores medos da humanidade, e entre eles, podemos citar sem medo A Volta do Parafuso, um romance publicado pelo nova-iorquino Henry James em 1898.
Considerado uma das maiores obras-primas no que diz respeito às histórias de fantasmas e ao subgênero das casas assombradas, o livro conta a história de uma jovem governanta que é contratada para servir de tutora para uma menina que vive em um casarão sinistro, a Mansão Bly.
As coisas começam a se complicar quando o irmão da menina retorna, e eventos misteriosos começam a acontecer, envolvendo fantasmas do passado e criaturas sobrenaturais. A história já foi adaptada uma vez no cinema, em 1961, no aclamado Os Inocentes – e salvo algumas mudanças, acaba de retornar no horror Os Órfãos.
Aqui, a governanta – que não possui nome no livro – se chama Kate (Mackenzie Davis), e possui todo um arco envolvendo sua mãe, que por sua vez parece sofrer com uma enfermidade não identificada. Ela logo vai para a Mansão Bly, onde conhece a pequena Flora (Brooklynn Prince) e seu irmão problemático, Miles (Finn Wolfhard).
A partir daí, coisas sinistras acontecem e… bem, já fica estabelecido o clima de horror do livro. No entanto, o que poderia ser um ótimo conto de fantasmas e dos horrores de uma mansão mal-assombrada logo se torna uma montanha-russa que vai de nada a lugar algum.
Os Órfãos é o típico filme de terror lançado em janeiro. O mês é conhecido pelas toneladas de filmes com sustos baratos, pouca história e produções quase independentes. Infelizmente, o longa de Flora Sigismondi até tenta fazer algo diferente, mas fracassa no meio do caminho.
Dizer que o elenco é desperdiçado é um eufemismo. Todos os atores são conhecidos por seu talento em papéis de outras produções, mas parecem ter ligado o automático. Mackenzie Davis (Blade Runner 2049, Black Mirror) sofre igual uma condenada o filme inteiro, mas sua personagem é emburrecida por um roteiro ainda mais burro.
Finn Wolfhard (que já se provou um astro talentoso em Stranger Things e IT: A Coisa) é quase uma caricatura – o menino estranho, sinistro e com uma aura pavorosa que já estamos acostumados a ver em filmes de terror com crianças. De todos, Brooklynn Prince (Projeto Flórida) é a única que tem uma personalidade multidimensional, alternando entre o fofo e o medonho.
Tudo isso, é claro, é a prova de que os roteiristas, Chad e Carey Hayes (que são conhecidos por seu trabalho no primeiro filme da franquia Invocação do Mal) não conseguiram entender muito bem os personagens do material original, criando estereótipos simplórios no lugar de figuras arquetípicas com nuances.
E isso pesa muito, até porque a diretora Floria Sigismondi – que por sua vez, é conhecida por seu trabalho com videoclipes – se esforça para “tentar tirar o filme do básico”. Ela sabe criar tensão e atmosfera, especialmente no cenário macabro que é a Mansão Bly, mas não consegue fazer com que os atores explorem seus talentos por conta de um texto-base pobre.
Ainda assim, a diretora comete erros imperdoáveis ao substituir a atmosfera gótica pelo susto barato. Aos poucos, o filme se torna um verdadeiro show de jump scares e momentos medíocres. E tudo vira motivo para fazer o público pular da poltrona – uma lareira, uma máquina de costura e até mesmo a mão de Finn Wolfhard.
Não que obras diferentes com propostas diferentes devam ser comparadas, mas Os Inocentes, de 1961, consegue se provar um filme muito melhor ao dar mais espaço para o suspense e até para a ambiguidade, enquanto lentamente constrói a tensão sobrenatural. Os Órfãos não possui nenhum tipo de refinamento, neste sentido.
É uma pena que esse filme tenha saído da maneira que saiu. O material fonte é rico em detalhes e elementos que poderiam ter feito deste um projeto sensacional, mas o resultado final é preguiçoso e permeado por decisões erradas – como, por exemplo, a ambientação temporal nos anos 90, que não serve para absolutamente nada.
Felizmente, A Volta do Parafuso terá a chance de fazer outra translação ainda neste ano, já que será o tema de A Maldição da Mansão Bly, conduzida por Mike Flanagan (de Doutor Sono e O Espelho). A segunda temporada da série antológica que já nos premiou com a excelente A Maldição da Residência Hill deve se inspirar vagamente no livro, mas ao menos parece ser mais promissora que o longa em cartaz.
Para resumir, Os Órfãos é um filme pobre. Um terror de segunda linha que não oferece nada de novo e nem consegue divertir, já que está mais preocupado com sustos bobos do que criar uma boa atmosfera e história – além de contar com um final completamente decepcionante, que invalida sua própria narrativa. Não foi dessa vez que o parafuso deu a volta certa.
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Os Órfãos está em cartaz nos cinemas.