[CRÍTICA] Aves de Rapina é um perfeito exercício do caos

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[CRÍTICA] Aves de Rapina é um perfeito exercício do caos

Por Gus Fiaux

Mesmo após muitas críticas e desconfianças por uma parcela dos fãs, Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa chegou aos cinemas, trazendo a origem de uma das equipes mais importantes da DC Comics, além de dar espaço para a Arlequina brilhar após o fiasco de Esquadrão Suicida. 

O filme, dirigido por Cathy Yan, reúne um belo grupo de heroínas e anti-heroínas das HQs, unidas para deter o império mafioso do Máscara Negra. E agora, nós já pudemos conferir a nova aventura do Universo Estendido da DC Comics – mas será que o filme consegue emancipar suas personagens e apresentá-las com louvor na franquia? Confira a nossa crítica!

Créditos: Warner Bros.

Ficha Técnica

Título: Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa (Birds of Prey: And the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn)

 

Direção: Cathy Yan

 

Roteiro: Christina Hodson

 

Ano: 2020

 

Data de lançamento: 06 de fevereiro (Brasil)

 

Duração: 109 minutos

 

Sinopse: Após se separar do Coringa, Arlequina se junta à Canário Negro, Caçadora e Renee Montoya, para salvar uma jovem menina de um poderoso barão do crime.

Aves de Rapina é um perfeito exercício do caos!

Nos últimos dois anos, a DC Comics se reinventou completamente nos cinemas. Deixado de lado o clima “sombrio e realista” de filmes controversos como Liga da Justiça Batman vs. Superman, o Universo Estendido da DC decidiu seguir uma rota experimental, apresentando filmes com diferentes escalas e propostas.

Desde o épico Aquaman ao contido Shazam!, e surfando na onda da inovadora aventura da Mulher-Maravilha, a Warner Bros. viu que não precisava ter pressa em construir um universo compartilhado para rivalizar com o da Marvel Studios, e as coisas seguiram um rumo inspirador, para dizer o mínimo.

Agora, Aves de Rapina vem para concretizar de vez esse caminho, com uma equipe feminina na primeira aventura R-Rated da franquia. E no cerne dessa narrativa, a Arlequina – que após o desastroso Esquadrão Suicida, pode finalmente ser uma personagem livre e segura de si.

Claro que isso atraiu olhares tortos e sobrancelhas erguidas de uma boa parcela de fãs. Há quem acredita que uma equipe feminina não é “necessária” para uma franquia de super-heróis, enquanto outros tinham medo do destaque maior dado à Arlequina, que nem sequer pertence às Aves de Rapina nas HQs.

Então, com toda essa carga de desconfiança e críticas antes mesmo de seu lançamento, Aves de Rapina tinha um desafio brutal em mãos: justificar sua existência e provar o espaço que foi dado para a equipe e para a Arlequina. Felizmente, isso foi cumprido com louvor aqui.

O filme – como seu gigantesco subtítulo sugere – se foca bastante na vilã/anti-heroína vivida por Margot Robbie, que finalmente conseguiu se livrar do embuste do Coringa e agora precisa provar seu valor em meio à comunidade criminosa de Gotham City.

Claro que isso atrai a atenção de Roman Sionis, um lorde do crime que opera pelo nome de Máscara Negra, que além de querer exterminar a Arlequina por ela representar o “caos” em seu mundo extremamente controlado e sistemático, também busca obter um diamante que vale uma fortuna inominável.

E isso acaba sendo o catalisador que reúne todas as outras personagens do filme – desde a Canário Negro (uma cantora da boate de Roman), a Caçadora (a vigilante nova na cidade), Renee Montoya (que luta para manter seu emprego na delegacia de Gotham) e a jovem Cassandra Cain (uma menina esperta que é conhecida por seu dom para roubos e pequenos furtos).

Em um primeiro momento, é necessário reconhecer o brilho do elenco. Margot Robbie está sensacional como a Arlequina, trazendo toda a loucura da vilã em seu melhor estilo, além de servir como uma narradora não-confiável para a história. Seus trejeitos e maneirismos fazem com que ela seja a atriz perfeita para o papel.

É claro que ela rouba a cena – e é seguro dizer que ela é a “protagonista” dessa história, mas isso não significa que as outras personagens não tenham seu merecido destaque. Rosie Perez brilha como Renee Montoya, criando uma personagem “certinha” que precisa sair da linha para fazer justiça.

Ella Jay Basco pode até não ser a Cassandra Cain que conhecemos das HQs, mas é uma perfeita adição para a história, e sua relação com a Arlequina de Robbie é o que movimenta o núcleo mais emocional da história. Além de engraçada, ela brilha ao apresentar uma personagem sarcástica e ácida.

Mary Elizabeth Winstead aparece um pouco menos do que deveria, mas sua Caçadora é um alívio cômico surpreendentemente bom, já que serve para satirizar o passado “sombrio e realista” do Universo Estendido da DC, em cenas que constroem muito bem sua origem e sua personalidade.

E por fim, Jurnee Smollett-Bell é a Canário Negro perfeita. Com um visual moderno e uma repaginada em sua origem, a personagem ainda tem o charme desafiador, rebelde e inconformista da heroína, além de brilhar nas sequências de ação com uma fisicalidade impecável.

Do lado dos vilões, tanto Ewan McGregor quanto Chris Messina se saem muito bem nos papéis do Máscara Negra e de seu capanga, Victor Zsasz. Eles representam um modelo arquetípico clássico de vilão, extremamente afetados e cheios de tiques, mas que sabem ser sombrios quando o roteiro exige, mesmo que devam um pouco nas cenas de ação.

E claro que isso tudo se estabelece muito bem pelo roteiro de Christina Hodson. O texto é ágil e sabe tomar decisões arriscadas sem comprometer seus personagens e sua estrutura. Ainda assim, a história é organizada em um verdadeiro caos narrativo, com uma trama não-linear e momentos desgovernados.

Mas não pense que isso é algo ruim – ao menos, não dentro da proposta desse filme específico. Como Aves de Rapina é, essencialmente, uma história da Arlequina, a bagunça narrativa é nitidamente proposital, fazendo com que o público possa entrar de vez na mente dessa figura tão anárquica.

E isso não é mérito apenas para o roteiro de Hodson, mas também para a direção de Cathy Yan, conhecida por projetos independentes como Dead Pigs. A diretora é sagaz nesse quesito, criando uma verdadeira bagunça visual, narrativa e estrutural – mas ao contrário do que pode parecer à primeira vista, é um caos controlado, uma entropia utópica que condiz muito com a equipe e as personagens do filme.

E é nesse sentido que Aves de Rapina acerta em tudo que Esquadrão Suicida tentou fazer e falhou miseravelmente. As cores vibrantes, a loucura dos personagens e dos diálogos, até mesmo algumas cartelas que se destacam na tela, mostrando os nomes dos personagens e seus propósitos na aventura.

O visual do filme, aliás, é algo digno de nota. O filme é uma verdadeira explosão de cores e texturas, que traz um teor bem cartunesco para a trama. Mais do que isso, as decisões visuais com os personagens são muito corajosas, dando personalidade às heroínas e ainda fazendo belas referências às HQs.

Diga-se de passagem, o filme é excepcional em respeitar a essência da equipe e de suas personagens. Mesmo que o filme seja apenas o pontapé para a origem das Aves de Rapina, todas as heroínas compartilham diversas semelhanças com suas contrapartes dos quadrinhos.

Um exemplo bem marcante disso se dá na origem da Caçadora ou em um diálogo singular que mostra como Harleen Quinzel, antes de se tornar Arlequina, era uma psiquiatra renomada. Há também pequenos jogos e rimas visuais com cores, que exploram possíveis caminhos que a franquia pode seguir.

Outros elementos do filme que merecem ser elogiados: a fotografia, que valoriza não apenas as cores da direção de arte, como também traz belos enquadramentos e valoriza alguns movimentos de câmera sutis, mas eficazes. A trilha sonora, que permeia o filme suavemente, seja em canções mais melódicas ou nos batidões de balada.

E, é claro, a coreografia das cenas de ação. Como muitos sabem, o diretor Chad Stahelski (da franquia John Wick) esteve responsável pelas sequências de ação do filme, e traz aqui um de seus melhores trabalhos, com muitos planos longos que abraçam as lutas de uma forma quase “rítmica”.

E isso também é mérito das atrizes, já que a maior parte das cenas de ação foi gravada sem a ajuda de dublês – e isso fica nítido, já que na maior parte delas, podemos ver o rosto de Margot Robbie ou Jurnee Smollett-Bell, enquanto elas socam capangas e quebram ossos a torto e a direito.

Aliás, a violência do filme é muito bem empregada. É o típico filme em que a classificação R-Rated não vai servir para ver cabeças rolando e sangue jorrando solto – como na franquia Deadpool. Em vez disso, toda violência não é gratuita – e isso rende algumas cenas bem dolorosas, no melhor sentido.

E com tantos momentos empolgantes e divertidos, o filme acaba sendo corrido demais para seus 110 minutos. É um dos poucos longas que poderia ter mais cenas, seja para trabalhar seus personagens secundários ou para adicionar mais momentos gratificantes de interação entre as heroínas.

Mas isso é um deslize pequeno – e você só irá senti-lo após o fim do longa. De toda forma, Aves de Rapina é um filme memorável, e a prova de que a DC está seguindo a direção certa ao explorar núcleos mais distantes e distintos de sua própria franquia.

Agora que a aventura-teste está na mesa, a Arlequina pode seguir seu próprio caminho, e as Aves de Rapina podem retornar em uma nova aventura, com mais personagens da equipe nas HQs. E, quem sabe, a anti-heroína pode se unir ao grupo novamente em uma ocasião especial.

Com ação sem limites e personagens extremamente carismáticas e envolventes, Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa é um baita acerto, que sabe trazer o clima das HQs para os cinemas da melhor forma possível. Prepare-se para ser emancipado.

 

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Na galeria abaixo, fique com imagens do filme:

Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa está em cartaz nos cinemas.