[CRÍTICA] Ameaça Profunda é raso como uma piscina infantil
[CRÍTICA] Ameaça Profunda é raso como uma piscina infantil
Novo filme de terror com Kristen Stewart afoga todo seu potencial!
Janeiro geralmente é a janela de lançamento para muitos filmes de horror de baixíssimo orçamento com premissas fora do padrão. E embora alguns consigam se destacar nesse mar de estreias, a maior parte não conquista o público e logo é fadada ao esquecimento. Ameaça Profunda parece se encaixar na segunda categoria.
O filme tem um elenco famoso, encabeçado por Kristen Stewart e com os nomes de Jessica Henwick, T.J. Miller, Vincent Cassel, John Gallagher Jr. e Mamoudou Athie. Situado inteiramente embaixo d’água, o filme é um afogamento de potencial. E aqui, você pode ler a nossa crítica sobre a produção!
Créditos: 20th Century Fox
Ficha Técnica
Título: Ameaça Profunda (Underwater)
Direção: William Eubank
Roteiro: Brian Duffield e Adam Cozad
Ano: 2020
Data de lançamento: 09 de janeiro (Brasil)
Duração: 95 minutos
Sinopse: Uma equipe de pesquisadores aquáticos luta para sobreviver quando um terremoto devasta seu laboratório, situado no fundo do oceano. Porém, o grupo logo percebe que há algo muito mais assustador espreitando pelo solo oceânico.
Ameaça Profunda é raso como uma piscina infantil
Um novo ano chegou e, como já era de esperar, o cinema de Hollywood não nos deu descanso. Uma das primeiras estreias de 2020 é Ameaça Profunda, um filme de horror que está gerando um certo burburinho. Além de ter a estrela Kristen Stewart no papel principal, o longa passou por uma produção um tanto turbulenta – em grande parte devido à compra da Fox pela Disney, já que a produção está finalizada desde 2017.
Ainda assim, o longa finalmente chegou aos cinemas e está dividindo a opinião dos críticos. A trama segue um grupo de cientistas e pesquisadores que trabalham em uma grande base subaquática responsável por perfurar o solo oceânico. Tudo começa a dar errado quando um terremoto de alta magnitude destrói a base, e os poucos sobreviventes que restam precisam se unir para buscar socorro.
O fundo do mar é um terreno vasto e rico para as histórias de horror, desde os mitos de H.P. Lovecraft às lendas de piratas e marinheiros – e o filme definitivamente caminha em direção ao mestre do horror cósmico, com a presença de criaturas abissais que estão dispostas a fazer da vida dos cientistas um verdadeiro inferno molhado. Com essas cartas na mesa, temos a premissa do que poderia ter sido um horror ao menos divertido.
Contudo, Ameaça Profunda se perde antes mesmo de começar – em grande parte, graças aos seus personagens. O roteiro não nos fornece ferramentas necessárias para que tenhamos o mínimo de empatia por essas pessoas, já que em pouquíssimos momentos elas oferecem um vislumbre de personalidade. Para começar, eles são caricaturas cujo único propósito é movimentar a trama com suas habilidades específicas.
Se isso soa como um video game, é porque a trama do filme parece, a todo momento, estar na mídia errada. Essa história funcionaria muito bem como um jogo, nos moldes de BioShock. A estrutura segue da trama segue esse princípio, com vários momentos que lembram checkpoints, onde os personagens saem do perigo para a (temporária) segurança ou até mesmo em cenas nas quais a equipe deve revezar em suas habilidades para sair de uma grande enrascada.
No centro de tudo, está Norah Price, uma engenheira mecânica que funciona como “os olhos do público” para o que está acontecendo. A personagem logo começa sua jornada, se reunindo aos demais sobreviventes para elaborar uma rota de fuga. Para isso, eles precisam descer dos escombros da base e caminhar pelo solo oceânico, na total escuridão e com pouco oxigênio.
E até desnecessário falar dos demais personagens, já que todos eles seguem a mecânica de um filme slasher e começam a morrer um a um. Contudo, mesmo os que são interpretados por atores famosos – como Vincent Cassel e T.J. Miller – não possuem características marcantes, e todo o seu “desenvolvimento de personagem” é limitado a uma fala expositiva.
Ainda assim, destaca-se Jessica Henwick (que vive a bióloga Emily Haversham) – a única que possui um traço de personalidade além do óbvio. Emily e Norah formam uma dupla com boas cenas e uma química interessante, em grande parte devido ao carisma das atrizes. Henwick tem um charme tímido e tagarela, enquanto Stewart esforça-se ao máximo para interpretar uma mulher que tenta ser durona mesmo em uma situação aterrorizante.
Aliás, Stewart é um dos poucos elementos que faz com que o filme não seja uma catástrofe total. Muitas pessoas ainda têm um certo preconceito com a atriz por sua carreira em Crepúsculo, mas há anos ela prova que consegue atuar muito bem – e aqui não é diferente, mesmo com um roteiro que não valoriza as interações mais básicas entre seus personagens.
Ainda assim, o filme poderia ser um horror bem divertido se não fosse a sua técnica bizarra e pouco compreensível. Quando o filme muda a ambientação para o solo do oceano, é quase impossível entender qualquer coisa, seja pelo escuro absoluto ou pela câmera que é tão tremida que faz parecer que o cinegrafista estava filmando enquanto pulava em um trampolim. Fica difícil até mesmo diferenciar os personagens, já que todos usam o mesmo traje de sobrevivência.
Isso tudo faz com que o longa perca qualquer potencial de conexão com o público. Quem não liga muito para o sentido da história e só quer tomar um susto ou outro vai até se divertir com Ameaça Profunda. Mas quem quer ver algo um pouco além disso pode se decepcionar bastante.
Aliás, já que estávamos falando da parte técnica, é impressionante como o filme não parece ter uma unidade de direção. O trabalho sonoro é competente, no máximo, o design de produção é pouco explorado, graças à ambientação escura do fundo do mar, e até mesmo os efeitos visuais são mal-polidos e pouco realistas.
Por outro lado, o ritmo do filme é sempre frenético e as sequências de ação são até divertidas, em especial no terceiro ato que abraça completamente a loucura de Lovecraft e nos apresenta uma criatura que parece uma versão “com desconto” do icônico e aterrorizante Cthulhu. Isso ao menos faz com que o filme nunca beire o entediante, por mais que a ação seja quase sempre incompreensível.
Se essas cenas viessem acompanhadas de uma boa história e personagens bem construídos, Ameaça Profunda poderia ser um pequeno filme de horror competente. A maior comparação que consigo traçar no momento é com Vida, o filme de horror alienígena da Sony, lançado em 2017 – também conhecido como “o filme que muitos achavam ser um prequel de Venom“.
O longa de 2017 tem uma trama genérica, mas sua ambientação contida, um bom design de criatura e a existência de personagens que são mais que caricaturas o transformam em um filme bem divertido e um ótimo entretenimento, mesmo que não seja particularmente memorável. Ameaça Profunda às vezes peca por sua ambição, e por colocar a urgência da situação à frente dos personagens.
Ainda assim, quem quiser arriscar a sorte com Ameaça Profunda não vai odiar o filme – até porque ele nem se esforça para fazer o público sentir qualquer tipo de reação. É um longa inofensivo, que ao menos conta com boas atuações por parte de Kristen Stewart e Jessica Henwick.
É um filme que até tinha potencial e poderia virar aquele tipo de “descoberta inesperada” entre tantos filmes catastróficos de horror lançados no começo do ano. Infelizmente, não é o caso, mas não chega a ser um filme ofensivamente ruim. É só… esquecível, apesar de ter um terceiro ato empolgante e calcado em um horror cósmico submarino.
O título até pode ser Ameaça Profunda, mas não se engane – o filme, bem como seus personagens, é mais raso que uma piscina infantil. Não é o tipo de filme que precisa ser visto com urgência, mas se você é um amante de horror, pode até se divertir um pouco nessa tragédia aquática.
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Veja imagens do filme na galeria abaixo:
Ameaça Profunda está em cartaz nos cinemas.