Como o Coronavírus pode afetar o futuro do entretenimento?

Capa da Publicação

Como o Coronavírus pode afetar o futuro do entretenimento?

Por Gus Fiaux

Você já deve estar cansado de ouvir, mas nas últimas semanas, não se fala em outra coisa que não seja a crise causada pela pandemia do COVID-19, o novo Coronavírus. O vírus tem se espalhado pelo mundo desde dezembro do ano passado, e está afetando todas as esferas da vida pública, desde a economia ao próprio bem-estar da população, enquanto a Organização Mundial de Saúde sugere medidas de contenção e prevenção, como a quarentena e o isolamento social. 

Porém, como trabalhamos com conteúdo pop e vivemos à base da indústria do entretenimento, nós temos sentido na pele as consequências desse momento. Vários filmes estão sendo adiados, várias séries estão tendo suas produções paralisadas. Os cinemas estão fechados. E isso nos leva à pergunta – De que forma o Coronavírus pode afetar a indústria do entretenimento?

No último mês, conforme a crise atingiu o estado de pandemia – ou seja, um contágio em escala global -, começaram as primeiras iniciativas de contenção total dos danos causados pelo vírus. A principal medida tomada (que está sendo adotada em boa parte do mundo) foi a da quarentena total. Ninguém sai de casa a não ser que seja extremamente necessário, e é recomendado evitar aglomerações e locais fechados com muitas pessoas.

Isso afeta imediatamente os cinemas. A partir daí, várias redes no mundo inteiro fecharam as portas, sem previsão de retorno das atividades. No Brasil, redes como a Cinemark e a UCI/Kinoplex também aderiram a essa paralisação, e são poucas salas no país que ainda mantém suas atividades – mesmo que, por ora, isso seja contra algumas leis e medidas estaduais e federais.

Com vários cinemas fechados e a recomendação para que o povo se afaste de aglomerações, os estúdios logo começaram a pensar em seus bolsos – afinal de contas, de que adianta fazer a estreia de um filme se ninguém estará lá para exibi-lo ou assisti-lo?

Foi assim que, em um primeiro momento, várias produções tiveram suas estreias adiadas. Filmes como Um Lugar Silencioso: Parte 2Velozes e Furiosos 9MulanOs Novos Mutantes e, mais recentemente, Viúva Negra Mulher-Maravilha 1984 foram retirados do calendário de lançamento dos estúdios. Em alguns casos, esses filmes tiveram suas novas estreias programadas – e em outros, ainda não há previsão de lançamento, já que cada estúdio está estudando maneiras diferentes de repensar suas estratégias em relação à pandemia.

Em alguns casos, estúdios também adiantaram o lançamento de alguns filmes em plataformas de streaming e lojas digitais. A Universal fez isso com The Hunt, Emma. O Homem Invisível – filmes que ainda estão em cartaz nos cinemas – e a Sony recentemente entrou na jogada com Bloodshot. Contudo, essa é uma estratégia adotada por poucos.

O motivo é simples: para que haja um bom retorno financeiro para os estúdios, filmes precisam ir para os cinemas, já que seu lucro no circuito é muito maior que o lucro feito nas vendas digitais. Então, há duas alternativas aqui: adiantar o lançamento digital de filmes que já haviam estreado nos cinemas ou lançar apenas filmes que tenham tido um orçamento pequeno – o que definitivamente não é o caso de longas como Viúva Negra Mulher-Maravilha 1984. 

Com esse adiamento dos lançamentos, é possível que os filmes de super-heróis sofram um “atraso conjunto”. Ou seja, é bem provável que toda a escala e programação do Universo Cinematográfico da Marvel e o Universo Estendido da DC Comics sofra adiamentos, para que os filmes possam ir se “acomodando” em novas datas de lançamento, de forma que ainda haja um bom espaçamento entre os longas para garantir um lucro nas bilheterias.

Em seguida, temos a questão das produções. Para evitar o contágio entre equipes de produção e elenco, os estúdios também estão fechando suas portas e suspendendo a produção de vários filmes e séries. Como ainda não sabemos quando essa crise vai chegar ao fim, isso pode não ter nenhum impacto na estreia dos filmes, como também pode causar grandes adiamentos no lançamento de filmes que deveriam estrear daqui a um ou dois anos.

No caso das séries, a questão é ainda mais delicada, já que a produção demanda de um período mais longo para as gravações e uma produção semanal. No caso de séries de streaming ou que ainda não estrearam – como Stranger Things, WandaVision Falcão e o Soldado Invernal, o maior “problema” pode vir a ser um adiamento dos lançamentos, já que essas séries tiveram suas gravações interrompidas.

Contudo, no caso das produções de emissoras que estão em exibição atualmente, a situação fica mais complicada. Séries como The Flash, Supernatural, The Walking Dead Supergirl podem sofrer um impacto mais dramático, por uma série de motivos.

Essas séries tiveram suas produções paralisadas – e não apenas os estúdios, mas também os departamentos responsáveis por efeitos visuais, trabalho de som e até mesmo montagem e edição dos episódios. A maior possibilidade é que essas séries acabem de uma forma abrupta, e não tenham uma conclusão definida para suas atuais temporadas.

Os motivos para isso variam, mas o maior deles está no custo elevado que seria necessário para reabrir os estúdios e as empresas após a crise do Coronavírus. Como os contratos para a produção de séries são muito menores e mais efêmeros que os contratos para filmes, as emissoras e estúdios precisariam desembolsar mais dinheiro para renovar os contratos com atores, diretores e técnicos, o que seria impensável especialmente após a crise econômica que está por vir.

Algumas emissoras estão encontrando formas de contornar essa situação. Sabemos que o último episódio da décima temporada de The Walking Dead será exibido posteriormente como um capítulo especial, e que Supernatural ainda deve retornar neste ano, já que está em sua última temporada. Contudo, as outras séries podem acabar com temporadas menores, e suas tramas devem ser finalizadas apenas nas temporadas seguintes, como uma medida de redução de gastos.

E não são apenas as séries e os filmes – as produções audiovisuais, de forma geral – que estão sendo impactadas por conta do COVID-19. Em breve, as grandes editoras de quadrinhos também deixarão de lançar novas HQs, já que as gráficas devem parar de funcionar por conta da quarentena. Outras áreas que podem sofrer interferências – ou que já estão sofrendo – são os games, o teatro e até mesmo a música.

Quando pensamos no futuro, um leque de opções se abre à nossa frente. Na melhor das hipóteses, é possível que esse período de quarentena e os meses subsequentes sejam um “vácuo” de produções do entretenimento, com poucos ou até mesmo nenhum lançamento novo. Na pior das hipóteses, a crise causada nos estúdios e produtoras pode levar ao fechamento e até mesmo à falência de algumas empresas menores. Felizmente, os governos estrangeiros estão empenhados em manter iniciativas que possam auxiliar essas áreas no futuro e mantê-las na ativa.

Por outro lado, um tipo muito específico de serviço está em alta nesse momento de crise: as plataformas de streamingComo poucas pessoas estão saindo em casa, a demanda por conteúdo on demand está altíssima, o que faz com que a Netflix, a Prime Video e até mesmo o Disney+ – que não está disponível no Brasil – se tornem serviços culturais essenciais.

Ainda não conseguimos dimensionar por completo os efeitos do Coronavírus na indústria cultural. Ainda há muito para acontecer – especialmente quando a fase de pico sequer chegou ao mundo todo. Contudo, isso vai deixar severas marcas e interferir em muito do que consumimos e assistimos ao longo dos próximos meses e quiçá anos.

Por enquanto, como consumidores, é importante que nos atenhamos às recomendações de saúde e segurança. Quarentena não é fácil, mas é a melhor maneira de proteger a nós e àqueles que amamos. Além disso, só podemos esperar para ver o que acontecerá. A essa altura, tudo é muito incerto e não sabemos o que será dos próximos meses.

Abaixo, veja alguns dos filmes que foram adiados por conta do Coronavírus: