Conheça Bong Joon-Ho, o diretor de Parasita
Conheça Bong Joon-Ho, o diretor de Parasita
Parasita é apenas mais um dos excelentes filmes do diretor!
“Quando vocês superarem a minúscula barreira das legendas, vocês serão apresentados a muitos outros filmes incríveis“. Com esse discurso brilhante, o cineasta sul-coreano Bong Joon-ho recebeu o Globo de Ouro de Filme Internacional por Parasita, seu mais novo e aclamado projeto.
O filme fez história no último domingo, ao ganhar quatro estatuetas no Oscar – incluindo o prêmio de Melhor Filme, tornando-se a primeira obra não falada em inglês a receber a honraria. Porém, está longe de ser o primeiro filme da carreira de Bong.
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Quem é Bong Joon-ho?
O cineasta nasceu em 1969, na cidade de Daegu, na Coréia do Sul. Desde cedo, teve contato com as artes. Ele e a família se mudaram para Seul, a capital do país, onde pôde concluir seus estudos. Desde cedo, Bong foi muito engajado no movimento estudantil, algo que teve muito peso em sua produção fílmica.
Em 1992, o cineasta formou o clube Yellow Door com alguns amigos, onde começou a fazer seus primeiros experimentos cinematográficos, dirigindo alguns curtas em stop-motion e em live-action. Nos anos 90, ele participou de um curso de formação de cinema, mas seu primeiro longa-metragem só sairia em 2000.
Até o momento, Bong Joon-ho tem sete longas em seu currículo – incluindo duas produções feitas com parceria dos Estados Unidos. O diretor é uma das vozes mais influentes da Coréia do Sul, trazendo grande reconhecimento mundial para a produção cinematográfica de seu país.
Mas afinal, quais são os seus filmes?
Cão Que Ladra Não Morde (Flandersui Gae, 2000)
Seu longa de estreia foi o filme Cão Que Ladra Não Morde, uma comédia de humor negro lançada em 2000, que nada mais é do que uma adaptação satírica da história O Cão de Flandres, que é muito conhecida na Europa e na Ásia, já tendo sido transformada em vários filmes e animes.
A história segue Ko Yun-ju, um acadêmico que sofre profissionalmente e começa a se incomodar com os barulhos de cachorros que escuta em seu apartamento. Revoltado com isso, ele começa a sequestrar os animais da vizinhança.
Isso desperta a curiosidade de Park Hyun-nam, uma mulher que trabalha no condomínio e começa a escutar as reclamações dos moradores sobre seus animais de estimação desaparecidos. A história a coloca diretamente contra Ko Yun-ju, e os dois desenvolvem uma relação peculiar.
Curiosamente, o filme não parte de maniqueísmos e nem explora o “bem e o mal” de uma forma clara – um traço que se tornaria frequente na filmografia de Joon-ho. O diretor gosta de explorar personalidades complexas e ambíguas, criando personagens únicos.
Infelizmente, Cão Que Ladra Não Morde foi um fracasso de bilheteria – mesmo tendo sido bem-recebido pela crítica. Mesmo com o orçamento limitado (Bong teve que gravar várias das cenas em sua própria casa), o filme não foi a estreia fenomenal que ele esperava.
Mas o cineasta não desistiria tão cedo…
Memórias de um Assassino (Sarinui Chueok, 2003)
Em 2003, Bong Joon-ho lançou o filme que alavancaria sua carreira a um nível global. Em Memórias de um Assassino, o diretor resolveu contar a história real dos primeiros assassinatos em série registrados na história da Coréia do Sul, que aconteceram de 1986 a 1991.
O filme segue a história de Park Doo-man e Seo Tae-yoon, dois detetives que ficaram responsáveis pela investigação dos assassinatos de mulheres que eram brutalmente estupradas e mutiladas. A partir daí, começa um thriller policial muito envolvente e cheio de suspense.
Memórias de um Assassino marca a primeira colaboração entre Bong Joon-ho e Song Kang-ho, um ator sul-coreano que está presente em boa parte dos filmes do diretor. Sua performance foi muito elogiada e o filme logo foi considerado uma das melhores obras audiovisuais da Coréia do Sul.
Enquanto isso, o diretor ia ganhando muito reconhecimento fora de seu país, em especial nos Estados Unidos, já que o longa foi exibido em vários festivais de cinema importantes. Ainda assim, o que realmente destacou o longa foi a sua brutalidade que o aproximava de outros lançamentos da Coréia, como Oldboy.
E mesmo assim, Bong Joon-ho não deixou de traçar um filme cheio de críticas sociais e discursos sobre como a classe pobre e a burguesia de seu país vivem realidades completamente díspares, por mais que o thriller policial realmente seja o grande foco do longa.
Em seguida, veio seu primeiro filme de horror…
O Hospedeiro (Gwoemul, 2006)
O cinema oriental sempre teve uma visão muito interessante sobre o horror e o medo, e Bong Joon-ho sempre se demonstrou um fã do gênero do terror. Em seu terceiro longa-metragem, ele decidiu contar uma história de monstro baseado em uma reportagem que havia lido em um jornal. Nascia assim O Hospedeiro.
O filme reuniu atores de seus dois filmes anteriores (como Song Kang-ho, de Memória de um Assassino e Doona Bae, de Cão Que Ladra Não Morde), e narra a história de uma menina que é sequestrada por uma criatura terrível, forçando seu pai a resgatá-la.
Quem conhece a obra do diretor sabe que ele adora mesclar elementos de humor em seus filmes, criando uma atmosfera imprevisível. E nesse, não é diferente. O filme tem vários momentos de comédia, enquanto a tensão cresce de maneira apavorante.
O filme foi um mega sucesso nas bilheterias, e recebeu muita atenção no mundo inteiro. Nos Estados Unidos, o filme chegou a ser notado por ninguém menos que Quentin Tarantino, que listou o longa em sua lista de filmes favoritos do século. A partir daí, Bong e Quentin se tornaram bons amigos e correspondentes.
Na Coréia do Sul, o filme recebia louros tanto nos festivais quanto na bilheteria. Ao fim de sua exibição em circuito comercial, o longa se tornou o filme mais lucrativo do país, título que manteve por um bom tempo, consolidando a carreira de Bong Joon-ho.
Mas o cineasta queria fazer algo ainda mais intimista…
Mother: A Busca Pela Verdade (Madeo, 2009)
Seu quarto filme trouxe uma perspectiva ainda mais pessoal. O drama Mother: A Busca Pela Verdade segue a jornada de uma mãe, (vivida por Kim Hye-ja) que busca inocentar seu filho (vivido por Won Bin), acusado injustamente pelo violento assassinato de uma garota.
O filme é, possivelmente, um dos trabalhos mais experimentais da carreira de Bong, por se tratar de um drama familiar que mistura elementos de filme de crime e thriller policial. É também um dos dois únicos filmes desde Memórias de um Assassino que o diretor fez sem Song Kang-ho.
Apesar de ser um filme mais obscuro, conhecido por poucos, o longa conquistou aclamação da crítica especializada, em uma época em que o cineasta já era visto com adoração pela indústria norte-americana. O longa entrou em várias listas de “melhores do ano” de 2009, comprovando o talento do diretor.
Mais do que isso, o filme foi o primeiro longa de Bong a ser reconhecido em importantes premiações e festivais. Foi aqui que o diretor fez sua estreia no Festival de Cannes, embora não estivesse concorrendo à Palma de Ouro do ano.
Na Ásia, Mother emplacou, recebendo o título de Melhor Filme de importantes premiações como o Blue Dragon Awards, o Asian Film Awards, e o prêmio da Associação de Críticos de Busan. Internacionalmente, o filme seria celebrado em Dubai e na Argentina, entre outros.
E então, veio a oportunidade de trabalhar nos Estados Unidos…
Expresso do Amanhã (Snowpiercer, 2013)
Com tanto reconhecimento fora de seu país, não demorou muito para que Bong Joon-ho recebesse várias propostas para trabalhar em filmes nos Estados Unidos – e ele decidiu comandar Expresso do Amanhã, a adaptação da graphic novel francesa O Perfura-Neve.
Foi seu primeiro filme falado majoritariamente em inglês, com um elenco de peso encabeçado por Chris Evans e Tilda Swinton. Ainda assim, o cineasta decidiu trazer alguns de seus colaboradores frequentes para o longa, garantindo a participação de Song Kang-ho em mais um de seus filmes.
O longa se passa em um futuro distópico onde a Terra foi devastada pelas alterações climáticas. Toda a humanidade reside em um trem que viaja pelo mundo, perfurando a neve em seu caminho. Porém, a vida não é pacata a bordo do veículo, já que os vagões são divididos por classes sociais.
O filme talvez seja um dos melhores resumos da filmografia de Bong, com uma poderosa metáfora sobre a luta de classes e os perigos da degradação do meio ambiente. O cineasta carregava essa bagagem desde seu período nos movimentos estudantis, e o longa acabou se tornando um blockbuster muito reflexivo.
Infelizmente, para colocar o filme em prática, Bong teve que fazer um pacto com o diabo. Expresso do Amanhã foi produzido por Harvey Weinstein, que posteriormente foi exposto como um grande predador sexual em Hollywood, e Bong achou a experiência de trabalhar com ele bem traumática.
Weinstein não estava contente com o resultado do filme e demandou uma série de cortes no projeto. Bong se recusava a ceder, e chegou a criar desculpas mirabolantes para que seu trabalho não fosse deturpado, o que fez com que Weinstein limitasse a distribuição do filme, fazendo dele um fracasso comercial.
Mas o diretor logo encontrou uma produtora disposta a ceder para sua visão…
Okja (2017)
Um dos filmes mais políticos da carreira de Joon-ho, Okja foi sua primeira parceria com a Netflix, o que fez com que ele tivesse uma liberdade criativa absoluta em sua obra. O filme é uma dura crítica à indústria alimentícia e ao sofrimento de animais.
A história segue uma menina que é selecionada para criar uma porca alterada geneticamente. Ela deve ficar com o animal por alguns anos, e depois ele seria resgatado para ser abatido. Esse seria o primeiro passo numa indústria de “super-porcos” criados para abastecer a indústria da carne nos Estados Unidos.
A partir daí, o diretor faz maravilhas com seu posicionamento, criando uma história que beira o cômico, o adorável, o trágico e o assustador. É um filme extremamente crítico da indústria e da forma como o mercado se apropria da necropolítica para prejudicar as vidas mais frágeis.
O elenco é repleto de astros de Hollywood e atores coreanos. Alguns dos atores e atrizes do filme são: Tilda Swinton, Jake Gyllenhaal, Ahn Seo-yun, Steven Yeun, Paul Dano e Byun Hee-bong. Foi também o filme mais caro da carreira de Bong, custando US$ 50 milhões.
O filme foi aclamado por sua mensagem e seu conteúdo, chegando a concorrer à Palma de Ouro. Na época, muitos apostavam que o longa teria uma grande participação no Oscar, mas a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que comanda a premiação, ainda era muito resistente às produções da Netflix.
E então, o cineasta voltou às raízes…
Parasita (Gisaengchung, 2019)
Munido da experiência por ter trabalhado em solo americano por mais de cinco anos, Bong Joon-ho voltou à Coréia do Sul para produzir Parasita, seu projeto mais recente e aclamado. O filme foi feito inteiramente em coreano com um elenco do país, marcando o retorno da parceria entre Bong e Song Kang-ho.
Na trama, uma família pobre têm a oportunidade de trabalhar na casa de uma família rica na Coréia. Eles acabam “se infiltrando” na vida de seus patrões aos poucos, percebendo a boa vida e o sossego que a burguesia pode lhes trazer. No entanto, o filme passa por várias reviravoltas e se torna uma grande tragédia.
O filme conquistou o mundo e trouxe a primeira vitória de Bong no Festival de Cannes. Aos poucos, o público norte-americano se interessou pela obra (em grande parte graças ao histórico de filmes anteriores do diretor) e Parasita se tornou um sucesso nos Estados Unidos.
O resultado disso vimos no último domingo, quando o longa saiu da nonagésima segunda edição do Academy Awards premiado em quatro categorias – Filme Internacional, Roteiro Original, Direção e Melhor Filme. Essa vitória demonstra o poder imbatível das narrativas de Bong Joon-ho.
E com uma história centrada na luta de classes e no choque de realidades, o longa também não perde a assinatura característica de Bong Joon-ho, que sempre usou seu cinema para denunciar injustiças e debater sobre causas que ele julga importantes.
E isso é apenas o começo…
O que vem a seguir?
Após a vitória do Oscar, Bong Joon-ho não deve parar de produzir conteúdos espetaculares para seus filmes. O diretor por enquanto não está trabalhando em nenhum longa-metragem, mas deve se aventurar na televisão em dois projetos baseados em seus longas.
A primeira das séries é Snowpiercer, que deve se passar no mesmo universo de Expresso do Amanhã. A série encontrou algumas dificuldades em sua produção, por falta de investimento e de emissoras interessadas em exibi-la, mas já está encaminhada para o TNT e deve estrear em maio deste ano.
A outra é uma minissérie baseada em Parasita, que deve ser produzida pela HBO. Ainda não sabemos se será um remake do filme – algo que Bong já se manifestou contrariamente – ou uma história “inspirada” pelo longa. Até o momento, há rumores de que Mark Ruffalo possa estrelar a produção.
Com isso, encerramos a jornada pela filmografia de Bong Joon-ho – e acredite, apenas arranhamos a superfície. O cineasta é uma das vozes mais importantes de Hollywood atualmente, com produções extremamente originais, mesmo em uma época onde estamos habituados a tantos remakes, reboots e sequências.
E acredite: ele não é o único nome influente da Coréia do Sul. É importante notar que o país ganhou uma repercussão gigantesca nos últimos anos, e o sucesso do cineasta é só mais uma comprovação desse fato. Agora, nos resta esperar pelas surpresas que Bong Joon-ho ainda pode nos trazer!
Na galeria abaixo, fique com alguns cartazes de filmes do cineasta:
Não há previsão de lançamento para Parasita em DVD e Blu-Ray ou mídias digitais, ou sequer no Brasil.