Como a DC Comics construiu um Universo Cinematográfico melhor que o da Marvel
Como a DC Comics construiu um Universo Cinematográfico melhor que o da Marvel
A DC é muito mais do que os filmes!
Nos últimos onze anos, o Marvel Studios, com a ajuda de Kevin Feige, construiu um verdadeiro Império Cinematográfico, dando vida aos personagens dos quadrinhos de maneira parcialmente fiel e coesa, algo que nenhum outro estúdio que detinha propriedades da Marvel havia conseguido fazer antes.
Todo esse sucesso redefiniu a indústria e fez com que outros estúdios tentassem emular esse conceito de Universo Compartilhado, seja com filmes de super-heróis ou não.
Muito antes dos estúdios começarem a adaptar heróis dos quadrinhos, a Warner Bros. já fazia isso, focando-se principalmente no Batman e Superman. Acontece que nos últimos anos, a Warner viu que fazer filmes esporádicos de apenas dois heróis não era o bastante para bater de frente com o MCU, com isso, o estúdio alterou os planos de Zack Snyder para dar origem ao seu próprio universo compartilhado de personagens da DC.
Infelizmente, essa repentina correção de curso acabou sendo um desastre, resultando em alguns filmes com baixa qualidade e que desagradaram tanto a crítica quanto o público, mas para a sorte dos fãs, a DC não se resume só aos cinemas e é aí que mora a maior força da editora.
Enquanto o sucesso dos filmes da Marvel só aumentava, a empresa tentou expandir isso para outras mídias, tais como a TV, através de séries que, supostamente, teriam conexões com tudo o que aconteceria nos cinemas. Apesar desse conceito ter sido recebido com euforia no início, com o passar do tempo, percebemos que tudo não passava realmente do conceito e que Feige não estava interessado em absorver o que era feito pelas séries em seus filmes.
Por mais que a parceria da Marvel com a Netflix tenha feito muito sucesso, principalmente no que diz respeito a personagens como Demolidor e Justiceiro, tais personagens foram completamente ignorados pelos filmes e a parceria com a gigante do streaming teve um fim bem estranho.
Tudo mudou com o lançamento da Disney+, onde pela primeira vez, Kevin Feige falou com todas as letras que as séries da Marvel produzidas para a plataforma terão conexões com os filmes, desbancando de uma vez por todas tudo o que havia sido dito anteriormente sobre as séries dos Defensores ou até mesmo sobre Agents of S.H.I.E.L.D., uma das produções mais aclamadas da Marvel Television.
Por falar em Agents of S.H.I.E.L.D., podemos destacar o fato de que a série reviveu o Agente Phill Coulson, mas que isso foi um ato abominado pelo diretor Joss Whedon, que matou o personagem no primeiro filme dos Vingadores. Na época, Whedon declarou que, para ele, “quem estava morto, continuava morto”, indicando que os eventos da série não significavam nada.
Desde então, essa conexão ilusória entre filmes e séries se tornou cada vez mais pífia, ressaltando o fato de que ela era unilateral, sendo apenas uma forma de pegar carona no sucesso dos filmes.
Chloe Bennet, a Tremor de Agents of S.H.I.E.L.D, chegou a falar diversas vezes sobre como a mentira de que o MCU era conectado com as séries a irritava, chegando a dizer em uma entrevista que “Eles adoram fingir que está tudo conectado, mas não reconhecem nossa série de jeito algum. Então, adoraria aparecer, mas eles não estão muito a fim dessa ideia.”.
Se por um lado a Warner cometeu muitos erros ao construir o Universo DC nos cinemas, por outro, o canal CW estava alcançando um sucesso absurdo com as séries do “Arrowverso”, que nos apresentaram versões em live-action de personagens como Arqueiro Verde, Supergirl, Flash, Batwoman e tantos outros de menor escalão no vasto panteão da DC Comics.
Embora muitos critiquem as séries por serem mais voltadas ao público adolescente e por apresentarem efeitos especiais de baixa qualidade, tudo isso cai por terra quando analisamos os pontos positivos de tais produções, principalmente o respeito delas pelos personagens e suas essências vindas dos quadrinhos. Além de apresentar trajes bem mais cartunescos e fiéis aos das HQs, um ponto que foi muito criticado nos filmes da Marvel ao longo dos anos, as séries da CW não têm medo de abraçar a galhofa e o espírito do quadrinho, por mais ridículas que algumas coisas possam ser.
Tanto sucesso proporcionou a criação de um universo compartilhado entre essas séries, que de tempos em tempos, realizam crossovers que adaptam grandes eventos dos quadrinhos, tais como as icônicas Crises da DC.
Em 2019, foi ao ar o início de Crise nas Infinitas Terras, adaptação da saga de mesmo nome e uma das mais aclamadas da DC. Como prometido, o evento trouxe grandes mudanças para as séries da CW, mas mais do que isso, ele também foi uma verdadeira carta de amor aos fãs e a prova de que a DC sabe sim construir um universo compartilhado.
Além das tradicionais conexões entre as séries do Arrowverso, o evento também estabeleceu de vez o conceito de Multiverso, um elemento clássico dos quadrinhos. Para isso, os produtores decidiram resgatar e homenagear praticamente todas as adaptações já feitas para personagens da DC um dia. Colocando Brandon Routh novamente na pele do Superman, o Robin de Burt Ward, as séries das Aves de Rapina, personagens do Batman de Tim Burton, bem como as séries atuais tais como Monstro do Pântano, Patrulha do Destino, Stargirl, Titãs e tudo o mais. Ali, os fãs viram o Multiverso DC ganhando vida diante de seus olhos.
Enquanto a Marvel decidiu voltar atrás na decisão de estabelecer o Multiverso nos cinemas, a DC foi em frente e realmente fez a coisa acontecer. Por mais que o filme da Liga da Justiça tenha sido um verdadeiro fracasso, muita coisa promissora se originou dele e em breve, veremos o Flash de Ezra Miller em uma aventura solo, além de sequências dos bem-sucedidos Aquaman e Mulher-Maravilha.
Para mostrar que está em paz com seus erros do passado, a Warner decidiu incluir o Flash de Miller no crossover, selando de vez a ligação entre tudo o que ela produz. Enquanto muitos criticaram a ideia de ter dois Flash diferente coexistindo, a DC viu isso como uma oportunidade para enriquecer seu Multiverso em live-action, algo que ela já havia feito com o Superman.
Só o que foi feito no crossover e os visuais dos personagens já seriam o suficiente para superar o trabalho da Marvel em relação ao respeito com o material original, mas o Arrowverso tem outro elemento muito importante que a Marvel ainda tem uma dificuldade extrema em implementar em seu universo: a representatividade.
Apesar das repetidas declarações de Kevin Feige alegando que o futuro do MCU será mais representativo em relação aos LGBTQ+, até o momento, tudo o que vimos foi uma aparição acanhada de um homem gay, que sequer foi interpretado por um ator gay, falando sobre ter perdido o homem que amava e estar tentando seguir em frente, algo extremamente subjetivo e que poderia até passar despercebido pela maior parte do público.
Já no Arrowverso, temos relações verdadeiras entre personagens do mesmo sexo, sejam super-heróis ou não, incluindo até mesmo uma super-heroína transexual. Isso pode ser algo irrelevante para grande parte do público hétero e cis-gênero, mas quando nos lembramos que os quadrinhos não são feitos apenas para a maioria, e notamos como a CW está fazendo com que eles se comuniquem com uma gama cada vez maior de pessoas, vemos a diferença que essa representatividade pode ter.
Vale lembrar que outro ponto muito importante é que os personagens LGBT+ do Arrowverso não estão ali para fazer uma “representatividade vazia” ou cumprir uma cota, já que suas histórias são contadas de maneira natural e são tão importantes quanto os personagens héteros-cis.
Levando em conta que mesmo com os tropeços cometidos nos cinemas, séries de baixo orçamento e as críticas negativas por parte dos fãs, a Warner conseguiu dar vida aos quadrinhos da DC e os profissionais por trás disso merecem no mínimo aplausos, principalmente por não ignorar os erros e enxergá-los como oportunidade.
Filmes como Mulher-Maravilha, Shazam! e Aquaman já nos mostraram que a DC entendeu como adaptar os personagens da maneira correta e que está seguindo em frente com seu universo – e complementar isso com as séries, abraçando o que é feito por elas, só dá mais oportunidade para que personagens menos conhecidos ganhem destaque e se tornem importantes.
O futuro da DC certamente é promissor e Crise nas Infinitas Terras nos provou isso, trazendo esperança para aqueles que acreditavam que tudo estava acabado, traduzindo mais uma vez a função dos quadrinhos: trazer esperança, entreter e divertir.
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