A Guerra do Streaming começou
A Guerra do Streaming começou
Escolha seus campeões!
O streaming definitivamente veio para ficar. Os dias de locadora ou dos planos de TV a cabo chegaram ao fim, já que a internet percebeu o potencial dos serviços de mídia digital sob demanda. Nos últimos anos, tivemos uma ascensão monstruosa dessas plataformas, e nos próximos anos, uma verdadeira guerra pelos consumidores será travada.
E não é apenas a televisão que entrou nessa batalha, já que o streaming também está dominando e englobando outras mídias, como o cinema e a música – não é à toa que hoje ficamos divididos entre serviços como Spotify, Deezer, Apple Music e até mesmo a plataforma criada pelo YouTube.
No entanto, para entender a batalha do entretenimento, é crucial olharmos para os serviços audiovisuais. Por enquanto, uma dezena de plataformas está na ativa, batalhando por atenção e clientes. E com a entrada dos estúdios de cinema e empresas de telecomunicações na jogada, a disputa vai ficar ainda mais acirrada.
Para entender tudo isso, é preciso olhar atentamente para a Netflix, que – goste você ou não – é o serviço mais popular e mais influente no mercado.
Por incrível que pareça, a empresa surgiu em 1997, numa época em que a internet ainda engatinhava lentamente. Originalmente, era um simples serviço de locadora – mas com um diferencial: os filmes eram alugados via internet ou telefone e chegavam em sua casa, no formato de DVD.
Claro que isso despertou uma severa concorrência, especialmente nos Estados Unidos. Pode não parecer, mas na virada do século, a Netflix estava indo de mal a pior com a sobrecarga das locadoras. A Blockbuster, que foi a maior gigante do ramo, chegou a se oferecer para comprar a empresa. O pedido foi recusado e a empresa deu a volta por cima, mas chega a ser irônico notar que a Netflix seria, pouco menos de duas décadas depois, uma das responsáveis pela falência da Blockbuster.
Com a influência da internet, a companhia aprendeu a evoluir e incorporar a tecnologia em seu serviço. Desde 2007, a empresa foi abandonando o modelo físico para apostar nos moldes do video on demand – ou seja, aluguel de filmes individuais via internet. Isso foi crucial para a criação do streaming.
A empresa se tornou uma pioneira do ramo, criando mais do que aluguéis de títulos. De início, a Netflix servia como uma verdadeira biblioteca digital, abrigando várias produções cujos direitos eram “comprados” dos estúdios por um período limitado de tempo.
De repente, a notícia caiu no gosto do público, e a migração para o streaming foi massiva. Em menos de dez anos, o serviço foi espalhado para dezenas de países, conquistando mais de 130 milhões de assinantes regulares.
Claro que outras empresas aproveitaram o embalo para se jogarem no sistema. Uma das principais foi a Hulu – que até hoje não está disponível no Brasil.
O serviço fora fundado em 2007 por várias companhias, como a NBC Universal, a Providence Equity Partners e a News Corporation – que posteriormente se uniram à Disney.
Originalmente, o serviço era usado exclusivamente para que as quatro companhias pudessem disponibilizar suas séries na internet, depois que elas já haviam sido exibidas na TV. Entretanto, o modelo da Netflix já havia mudado e a Hulu foi obrigada a se adaptar.
No começo dos anos 2010, a gigante do streaming tinha começado um modelo um tanto quanto inovador. Além de oferecer produtos de terceiros para seus clientes, a Netflix tinha se tornado uma produtora, trazendo séries e filmes originais, todos produzidos com exclusividade para os assinantes.
Esse foi um grande ponto de virada para o streaming, o que o colocou como direto concorrente da TV a cabo. Se antes, eles já tinham dominado o mercado que antes pertencia às locadoras, agora o território era a TV e até mesmo o cinema – o que, nos últimos anos, causou muita polêmica com artistas como Steven Spielberg.
A Hulu também entrou na jogada, produzindo seus próprios conteúdos e tornando-se uma rival amistosa para a Netflix. E isso fez uma grande diferença, especialmente na época em que outras plataformas de streaming, como a Crackle, viviam apenas de reproduzir conteúdo de terceiros.
Quem também notou o potencial nisso tudo foi a Amazon, a mega-companhia de vendas no mercado mundial. Originalmente, eles também possuíam um serviço de video on demand, mas a chegada do streaming fez com que eles mudassem de vez para o formato. Nascia ali o Prime Video (que já tinha passado por vários nomes, como Instant Video e Amazon Video).
As três empresas – Netflix, Hulu e Prime Video – formaram o pilar da concorrência do streaming, todas com fortes qualidades e conteúdos originais, e com estúdios próprios ou terceirizados para trabalharem em suas produções exclusivas.
Nos últimos anos, esses serviços fizeram a festa no mundo todo, atuando em harmonia. Ainda assim, outras pequenas plataformas foram criadas para atender a necessidades especiais. Os grandes canais de TV a cabo fizeram sua parte para se salvar, inaugurando serviços limitados mas muito fidelizados, como o HBO GO e o CBS All-Access (este último não disponível no Brasil).
Porém, foi justamente nesse período – por volta de 2015 a 2017 – que os estúdios perceberam que precisavam se movimentar. Aos poucos, vimos o surgimento de serviços focados em propriedades ou conteúdos exclusivos de algumas plataformas digitais.
A Warner Bros., por exemplo, começou a fazer algumas experimentações no mercado, inaugurando o DC Universe em 2018 – um serviço que oferecia a plataforma perfeita para os fãs de super-heróis. A ideia veio numa época em que os heróis fantasiados estavam dominando a TV e o cinema, e nada parecia mais justo que um serviço que pudesse abrigar toda a produção da DC Comics ao longo dos anos.
Curiosamente, o streaming ia além do audiovisual para fazer seu diferencial entre os fãs. Por exemplo, no DC Universe é possível conferir uma extensa biblioteca de quadrinhos da editora. Por outro lado, a ausência de muitos conteúdos originais fez com que o serviço não se difundisse muito bem, sendo um produto de nicho.
E então, veio o inevitável. A compra da Fox pela Disney. Nos últimos anos, a casa do Mickey Mouse provou seu valor ao mostrar-se uma concorrente feroz nas mídias audiovisuais – e acima de tudo, uma empresa visionária no que diz respeito à aquisição de recursos para seu catálogo. Se você duvida disso, basta olhar o que o estúdio fez com Star Wars, Marvel e a Pixar.
Claro que isso teria outras consequências posteriores. E a compra da Fox foi uma delas. Com isso, a Disney comanda cerca de metade da produção audiovisual nos Estados Unidos, sendo a maior gigante do entretenimento mundial. E notando seu potencial próprio, não demoraria até que os horizontes se expandissem em um serviço próprio.
O Disney+ foi inaugurado no ano passado, abrigando a maior parte dos conteúdos da Disney – uma produção gigantesca, que conta com filmes, séries, animações e até mesmo documentários.
Com os recursos da Fox, o serviço cresceu ainda mais, e foi dada a largada na corrida contra a Netflix, que ainda se mantinha como a soberana do ramo.
Entre seus muitos diferenciais, o Disney+ oferece não apenas os filmes e séries, como também bônus e extras especiais. Apesar disso, a plataforma foi alvo de algumas críticas – principalmente pela exclusão de conteúdos adultos. Tudo que está disponível no Disney+ não passa da classificação PG-13.
Claro que o império da Disney estava só se expandindo. A empresa se tornou a única acionista ativa da Hulu, assumindo o controle completo do streaming. Assim sendo, eles foram além na jogada, adicionando um pacote especial que dá acesso ao Disney+ e à Hulu, além de conteúdos da ESPN+, um streaming dedicado a esportes.
No Brasil, temos os primeiros exemplares de serviços originais, como por exemplo a GloboPlay, que surgiu com um apelo ao público de novelas. Além de conter várias novelas completas, o serviço começou a trazer produções da GloboFilmes e séries originais, que são exibidas por lá muito antes de chegarem ao canal de TV.
A empresa está indo além do solo nacional, e deve chegar aos Estados Unidos ainda neste ano. É a prova principal de que o streaming está tomando conta do planeta, independente da posição geográfica e de sua origem.
Claro que isso preocupa analistas e consumidores. Atualmente, é muito difícil escolher qual o melhor serviço, uma vez que são muitos e em alta ascensão. E nos próximos anos, ainda teremos mais lançamentos nessa área, algumas inclusive partindo de companhias grandes.
Em 2019, junto com o Disney+, a Apple – a popular companhia de tecnologia fundada por Steve Jobs – também trouxe mais um jogador para o combate. Apesar de pequena, a Apple TV+ encontrou seu diferencial ao trazer produções de alto calibre, com grandes nomes da indústria audiovisual.
Porém, a qualidade das obras foi bem questionada, além da limitação de produções originais. Dentro de toda a batalha atual do streaming, a Apple TV+ é um serviço relativamente “menor”, não concorrendo diretamente com Disney+, Netflix e afins. É um serviço para os fãs, não para os charts.
E vale lembrar que, principalmente nos Estados Unidos, tudo é motivo para lançar um serviço exclusivo. Principalmente para nichos selecionados. Um exemplo grande disso é o Shudder, uma plataforma dedicada exclusivamente a filmes e séries de terror, que também compra algumas produções internacionais para serem exibidas nos Estados Unidos.
Isso tudo incentiva ainda mais o mercado de ações norte-americano, que investe ferrenhamente nessas plataformas e em seu potencial de divulgação, afinal, entretenimento é dinheiro.
E a ascensão ainda não acabou. Já temos alguns produtos anunciados para os próximos anos, como o HBO Max, que será um serviço desenvolvido pela Warner Bros. e sua dona, a AT&T. O serviço vai funcionar de maneira análoga à Disney+ para a Disney, englobando produções do estúdio e conteúdos originais que normalmente não encontrariam espaço no cinema.
A plataforma também deve integrar ao seu sistema de assinaturas um pacote exclusivo que também engloba o DC Universe, “salvando” o serviço do ostracismo que está sofrendo atualmente.
Outro estúdio que está entrando na jogada é a Universal Pictures, já que sua companhia-mãe, a Comcast (que também domina a rede NBC) vai lançar o Peacock, que será lar de franquias como Velozes e Furiosos e Jurassic World.
E como fica o consumidor no meio disso tudo? Perdido, no mínimo. Entre as várias opções, a pirataria – que tinha caído vertiginosamente no auge da Netflix – voltou à subir, já que ninguém tem condição de adquirir dezenas de serviços apenas para se manter “por dentro” do que está acontecendo.
A previsão é que, nos próximos anos, uma grande crise se sobreponha sobre esse mercado, obrigando vários desses serviços a fecharem as portas. Por enquanto, a concorrência é convidativa, e mostra como a indústria do entretenimento está sempre buscando novas saídas e tecnologias para se manter relevante.
De fora, é interessante acompanhar tudo isso, especialmente para quem gosta de entender os jogos do mercado. Mas o que vai acontecer daqui para frente é um território inexplorado. Resta saber se o streaming vai sobreviver à sua implosão, e quais os mais fortes vão se manter no domínio da concorrência.
Em suma, a guerra do streaming foi declarada. E em poucos anos nós vamos descobrir os vencedores.
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