Watchmen: 1×09 – O relógio do Juízo Final

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Watchmen: 1×09 – O relógio do Juízo Final

Por Gus Fiaux

Após uma temporada grandiosa e cheia de repercussões miraculosas, Watchmen chega ao fim com o estouro que nos é prometido desde o primeiro capítulo. A série, que desde o início se propôs a fazer uma “sequência” da obra aclamada de Alan Moore Dave Gibbons, finalmente colocou todas as cartas na mesa para revelar uma trama grandiosa e que faz jus a todos os seus personagens.

A história segue diretamente a partir do fim do oitavo episódio, com o Dr. Manhattan sendo capturado pela Sétima Kavalaria, enquanto Angela Abar precisa dar tudo de si para resgatar seu marido das garras da organização supremacista.

E por mais que o capítulo anterior, “A God Walks Into a Bar” tenha levantado algumas polêmicas e controvérsias, é um prazer dizer que “See How They Fly”, o último capítulo da temporada, consegue nos trazer uma conclusão digna da obra-prima que é Watchmen, com personagens tão gloriosos e complexos quanto a HQ original.

Porém, de início, somos levados a esquecer o que aconteceu com o Manhattan para nos focarmos em outra história que estava nos deixando de cabelo em pé: afinal, o que aconteceu com o Ozymandias. Ao longo da trama, não apenas descobrimos que ele é “pai” de Lady Trieu, como foi ela quem conseguiu o resgatar de seu exílio em uma das luas de Júpiter.

Contudo, isso já havia acontecido há muitos anos – e agora, ele finalmente é acordado de seu sono para auxiliar Trieu em sua conquista. Só assim nós finalmente podemos dar às boas-vindas à trama presente do episódio, que mostra Manhattan sendo exposto em uma reunião da Sétima Kavalaria, enquanto o senador Joe Keene Jr. se prepara para roubar os poderes divinos do herói.

Claro que essa reunião não seguiria sem interrupções, e Angela Abar aparece para resgatar seu marido. No entanto, ela está sozinha e sem recursos – até a chegada de Lady Trieu, que revela seus planos de roubar o poder para si e livrar o mundo de todos os seus problemas.

Basicamente, essa é a sinopse do episódio, que é recheado de reviravoltas e surpresas. Com isso, o desfecho da temporada pode até ter sido “previsto” por algumas de nossas teorias, mas a trama terminou como começou: completamente imprevisível. 

Uma pequena parcela do público nerd não está satisfeita com o resultado, e não é incomum vermos, aqui mesmo, comentários de que a série não faz jus à graphic novel original. Mas em minha opinião, esse realmente não é o caso. O que a série de Damon Lindelof se propôs a fazer desde que foi anunciada é revisitar esse mundo e esses personagens com paralelos sociais e políticos de 2019, e isso é algo feito com o mais precioso detalhismo.

A história pode até trazer de volta personagens como a Espectral II, Ozymandias e o Dr. Manhattan, mas desde o início nos foi deixado claro que a verdadeira protagonista aqui seria Angela Abar, a Irmã Noite, e isso prossegue até o fim – inclusive com uma cena final que pode trazer grandes consequências para uma possível segunda temporada.

Além disso, muitos pensam que “não faz sentido” ver esse universo tratando de temas tão “triviais” quanto conflitos raciais e a presença de uma organização supremacista. No entanto, esse foco permite uma subversão de tudo que conhecemos em Watchmen, e nos mostra como a história, bem como seus personagens, são ricos e versáteis, quer aceitemos a série como uma “continuação oficial” da HQ ou não.

Por outro lado, é uma pena que o episódio, no fim, tenha saído completamente pela tangente e deixado de lado a questão racial para se focar na presença de um “adversário digno” – no caso, Lady Trieu. A personagem certamente tinha potencial e sua conclusão de jornada faz sentido dentro da proposta da trama, mas nos passou a impressão que o “tema central” da temporada ficou em aberto – até, é claro, a belíssima cena entre Angela e Will Reeves em um cinema.

Quanto às repercussões, é seguro admitir que Watchmen deu o melhor de si para criar algo surpreendente e arrebatador, sem perder os pés no chão. Isso nos deu uma boa perspectiva do que um criador como Damon Lindelof é capaz, criando algo novo a partir de um material original muito famoso e consagrado.

E o último episódio sucede justamente por nos dar todas as respostas das quais precisávamos, enquanto estabelece possíveis tramas para um segundo ano. O que mais me encantou aqui foi toda a resolução do mistério de Ozymandias, que se tornou um personagem integral para a narrativa, enquanto extremamente fiel ao personagem que conhecemos da graphic novel. 

Assim como nas HQs, ele é o homem mais inteligente do mundo – e é justamente isso que o faz não compactuar com o plano de sua “filha”, já que sabe as implicações que esse poder pode causar nas mãos de uma pessoa narcisista.

Por outro lado, Laurie Blake se manteve muito firme em sua postura, por mais que tenha feito falta um reencontro mais “emocionante” com Jon Osterman. E por falar nele, o Dr. Manhattan realmente provou a que veio nesse episódio, mesmo sem grandes demonstrações de poderes. Corrigindo alguns problemas do episódio anterior, aqui temos uma versão humanizada e “imperfeita” dessa divindade, o que faz sentido dentro do contexto da série.

Claro que tudo isso só foi possível graças ao formidável elenco. Hong Chau, Jeremy Irons, Yahya Abdul-Mateen II, Jean Smart, Louis Gossett Jr., Tim Blake Nelson e vários outros provam como a série teve um cuidado delicado na hora de representar personagens icônicos – e criar novos.

Ainda assim, o destaque recai sobre os ombros de Regina King, que como em todos os episódios, está excelente em seu papel como Angela. Aqui, ela consegue passar uma humanidade tremenda, mesmo em frente à mais terrível das adversidades. A atriz provavelmente será reconhecida nas premiações, e com justiça.

Quanto às questões técnicas, o último episódio de Watchmen se superou em relação a todos os anteriores. A fotografia adquiriu um tom ainda mais “cinematográfico”, e alguns problemas foram corrigidos com a máxima precisão – como, por exemplo, a maquiagem e os efeitos empregados no Dr. Manhattan.

A trilha sonora também se destaca, compondo sentimentos ao lado da narrativa, sem “sufocar” o público. Os efeitos visuais, tanto práticos quanto digitais, também conferem uma maior verossimilhança para a história – algo que é sempre bem-vindo.

No fim, Watchmen deixou sua marca em 2019, mais de trinta anos após a publicação da graphic novel. Pode não ter sido da forma como muitos esperavam, mas certamente foi uma das experiências mais interessantes do ano, levando os super-heróis a um novo patamar previamente inexplorado.

Ainda não sabemos se a HBO planeja mais temporadas da série – e mesmo que esse não seja o caso, nós ao menos podemos festejar com um produto muito bem concebido e que respeita o material-original, mesmo criando algo novo. O Relógio do Juízo Final finalmente encerrou sua contagem… mas como podemos saber se ele não vai se ativar novamente?

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Na galeria abaixo, fique com imagens da série:

Watchmen está disponível na HBO GO.